Shopping valoriza imóveis mais que parque em SP

Comprar um lançamento imobiliário perto de um shopping em São Paulo custa até 75% mais do que perto de um centro comercial no Rio. Em contrapartida, morar a alguns passos de uma área verde na capital fluminense pode sair até 62% mais caro do que na capital paulista.

Levantamento do Grupo ZAP a pedido do Estado comparou o preço do metro quadrado em empreendimentos a 300 metros de distância de metrôs, parques e shoppings nas duas maiores capitais do País. A pesquisa considerou o valor atual de unidades lançadas a partir de 2014.

Conforme a amostragem, enquanto em São Paulo o valor médio do metro quadrado de um apartamento novo próximo a um shopping é R$ 13 mil, no Rio é R$ 7.398. No restante da cidade, fora do raio de 300 metros a partir de um shopping, o valor cai para R$ 9.047 em São Paulo, e fica em R$ 7.627 no Rio.

Quando a escolha é ter uma paisagem natural à vista do apartamento, os preços no Rio se sobressaem. Enquanto na capital paulista a média do metro quadrado circunvizinho a parques custa R$ 8.039, para os cariocas o preço vai a R$ 13.073.

Para a economista do Grupo ZAP responsável pela pesquisa, Deborah Seabra, o impacto de shoppings na valorização de imóveis na maior capital do

País pode estar ligado, além da preferência do consumidor, à falta de terreno e à alta procura no mercado. “O preço é um equilíbrio de oferta e demanda. Existem dois fatores que podem estar impulsionando o preço próximo de shopping. Primeiro, a escassez de terreno. Quando tenho pouco terreno, fica mais caro construir. O segundo é a alta demanda. A gente sabe que São Paulo é um centro comercial e as pessoas valorizam esse tipo de ambiente. Se valorizam muito, vai haver reflexo no mercado”, diz Seabra.

O professor Eduardo Nobre, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), destaca que existe também um fator cultural na valorização de shoppings na capital paulista. “Tem muito a ver com essa opção de lazer e de consumo que foi criada aqui a partir dos anos 1970. A população de São Paulo gosta de ir ao shopping. Usa-o como espaço de lazer”, diz Nobre.

Já no Rio, a valorização de imóveis próximos a áreas verdes está ligada, em partes, ao perfil carioca de “vida ao ar livre”, explica Ethel Pinheiro, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ). Outro fator de destaque, diz ela, é a segurança de espaços públicos, como parques. “A localização de imóveis perto de locais considerados seguros, que são mais vigiados, acaba pesando. Os parques públicos, hoje, são lugares muito vigiados. Os shoppings não pesam tanto porque a gente gosta da vida na rua. Então, onde a rua estiver policiada e segura, isso vai pesar um pouco mais (no preço).”

A mobilidade é outra amenidade que influencia no momento de se atribuir valor a um imóvel. Na comparação com shoppings e áreas verdes, a proximidade com o transporte público ficou em segundo lugar como fator de valorização tanto no Rio quanto em São Paulo.

Perfil econômico. Para o publicitário Alexandre Tagawa, que atua nos estudos de inteligência de mercado da incorporadora EZTec, a preferência de imóveis pela proximidade com algumas amenidades varia de acordo com o perfil socioeconômico do comprador. “Quando vamos desenvolver uma campanha, esses são motes que agregam valor ao produto: poder acessar um shopping, um parque ou uma estação de metrô a poucos passos. Como a EZTec atua em todas as faixas de consumo, desde o Minha Casa Minha Vida até o altíssimo padrão, cada um desses itens importa mais para um determinado público.”

Segundo Tagawa, para um imóvel de padrão acessível num bairro como o Brás, no centro de São Paulo, o acesso a metrô tem prioridade. Nas faixas de médio padrão no Tatuapé, zona leste, o transporte divide a preferência com o shopping. Já na linha de alto padrão, em bairros como Moema, os parques são o foco dos clientes. / Colaborou Luísa Laval, Especial para o Estado

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