Exto será S.A. de capital fechado

A Exto Incorporação Construção chega ao mês de setembro com expectativa de, até o fim de 2020, lançar três projetos, cujo Valor Geral de Vendas (VGV) soma R$ 650 milhões, vender R$ 600 milhões, e se tornar uma S.A. de capital fechado. Com banco de terrenos que corresponde ao VGV de quase R$ 2 bilhões, a incorporadora quer estar preparada para abrir capital, em 2021, se houver condições de mercado, segundo o presidente, Roberto Mattos.

No início da pandemia da covid-19, a Exto sentiu forte retração nas vendas de imóveis, assim como todo o setor. A empresa aproveitou o momento de baixa do mercado para rever processos internos e avaliar possibilidades de crescimento. Segundo Mattos, há potencial para dobrar de tamanho, considerando-se o estoque de terrenos e o que cada área da empresa pode crescer, mas a expansão exige mais recursos para financiamento.

Atualmente, a Exto atua do médio ao alto padrão, nas zonas Oeste e Sul da capital paulista, com a marca que leva seu nome. Por meio da Casa Viva, empresa da qual possui 50%, a incorporadora tem presença na baixa renda. Nos planos da Exto, 60% dos projetos serão concentrados nos padrões médio-alto e alto, e o médio padrão e a baixa renda, por 20%, cada. A atuação poderá ser expandida para a Grande São Paulo.

Em busca de estar pronta para uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) se julgar o movimento adequado, a Exto começou a reorganizar sua estrutura. Mattos continuará à frente da incorporadora, mas um conselho de administração será criado. Há outras mudanças de processos internos em curso.

Segundo o empresário, a potencial captação de recursos no mercado acionário terá como finalidade apenas o crescimento, pois a Exto não tem dívidas corporativas. Mattos diz ver com preocupação o grande número de incorporadoras que pretendem abrir capital. “O mercado não comportaria mais 20 empresas”, diz o presidente.

Neste mês, a empresa vai lançar, juntamente com a Paulo Mauro e com a REM Construtora, projeto com VGV de R$ 350 milhões, no bairro de Perdizes. A Exto tem 50% do empreendimento. Até outubro, será apresentado projeto, na Vila Mariana, com VGV de R$ 180 milhões. O outro empreendimento previsto para este ano tem VGV de R$ 120 milhões. Todos os três são de alto padrão.

Mattos ressalta que tem havido demanda, principalmente, por apartamentos grandes e que os patamares de vendas, em julho e agosto, foram “ótimos”.

Em 2019, a Exto lançou R$ 500 milhões e vendeu R$ 550 milhões. A empresa possui construtora própria. Atualmente, há onze canteiros de obras ativos.

País deve crescer 5% no 3º trimestre

Depois de um primeiro semestre perdido, a expectativa é que a economia brasileira possa ter um momento inicial de recuperação na segunda metade do ano até mais forte do que o esperado, ajudada pela reabertura das atividades. É o que apontam dados de julho e indicadores preliminares de agosto. O desempenho do quarto trimestre, porém, é mais incerto, por causa das indefinições sobre a extensão do auxílio emergencial e também dos encaminhamentos políticos e fiscais que serão dados ao país, afirmam economistas.

Mediana das estimativas dos economistas consultados pelo Valor Data aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deve crescer 5,4%, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes sazonais.

Por causa de um segundo trimestre “menos pior” e da percepção de que o período de julho a setembro deve representar uma recuperação mais forte, a MCM Consultores elevou sua previsão para o terceiro trimestre de alta de 4% para 6,5%. “Os indicadores de julho e os parciais de agosto mostram a atividade caminhando. O resultado parece ser de uma recuperação muito boa, ainda que heterogênea”, diz o economista Alexandre Teixeira.

Para ele, a dúvida é o que acontecerá do quarto trimestre. Por ora, a previsão da MCM é de uma alta de 1,5% no PIB do período, um cenário que não inclui ainda, por exemplo, a esperada prorrogação do auxílio emergencial.

Sem diminuir a importância dos pacotes fiscais e monetários, Guilherme Loureiro, economista-chefe da Trafalgar Investimentos, diz que a recuperação é menos associada aos estímulos do que à reabertura da economia. “É o processo de reabertura que está trazendo a economia, conseguimos fazer isso sem uma nova onda de contágio, aprendemos a lidar melhor com o coronavírus.”

Um dos sinais de que a economia do país começa a “andar com a próprias pernas”, diz Loureiro, é o emprego formal, que saiu do campo negativo para abertura de 131 mil vagas em julho.

Para o PIB do terceiro trimestre, a casa espera crescimento de 5% – mas há viés de alta, segundo Loureiro -, desacelerando para algo entre 2% e 3% no quarto trimestre, na série com ajuste. Para o PIB de 2020, a Trafalgar espera queda de cerca de 4%. Ainda assim, para Loureiro, o Brasil pode ter recuperação em “V”, com a produção retomando o patamar pré-crise em meados de 2021.

Para além de 2020, a percepção de que o problema fiscal no Brasil é mais amplo coloca limites para as projeções do PIB. A MCM estima crescimento de 3% em 2021 e de 1,7% no ano seguinte. “As tensões não são passageiras. Devem continuar prejudicando a confiança, mantendo a incerteza elevada, segurando um relaxamento das condições financeiras, mesmo com o BC mantendo o juro baixo”, diz Teixeira.

Para Loureiro, o maior risco também está no quadro fiscal. “Pelo mundo, as respostas dos governos foram muito concentradas no fiscal. No pós-crise, a pergunta é: quando houver normalização de juros e crescimento, quem estará vulnerável? Alguns países vão sair especialmente mais vulneráveis e o Brasil é um deles.”

Confiança empresarial continua tendência de recuperação em agosto, aponta FGV

O Índice de Confiança Empresarial (ICE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 7,0 pontos em agosto, para 94,5 pontos, recuperando 96% das perdas ocorridas no bimestre março-abril.

O Índice de Confiança Empresarial (ICE) consolida os índices de confiança dos quatro setores cobertos pelas Sondagens Empresariais produzidas pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV: Indústria, Serviços, Comércio e Construção.

Após atingir o menor nível histórico em abril, a confiança empresarial vinha se recuperando gradualmente a partir das expectativas. A partir de julho, a alta da confiança passou a ser igualmente motivada pelas expectativas e pela percepção sobre a situação corrente.

Neste mês, pela primeira vez desde a crise sanitária, o ICE foi mais influenciado pela melhora na percepção corrente dos empresários. O Índice de Situação Atual (ISA-E) subiu 8,9 pontos, para 88,6 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE-E) subiu 6,3 pontos, para 96,1 pontos.

Pelo lado das expectativas, os componentes de Demanda e Emprego Previsto (previsões para três meses) e de Tendência dos Negócios (horizonte de seis meses) subiram 5,5 pts., 6,3 pts. e 8,2 pts., respectivamente, em agosto, recuperando 91%, 89% e 79% das perdas do bimestre março-abril.

Em agosto, a confiança do Comércio subiu fortemente, influenciada pela melhora da percepção sobre a situação atual, após ter registrada a alta menos expressiva entre os setores no mês passado. Nos demais setores, a confiança manteve a tendência de alta, motivada tanto pela melhora nas expectativas quanto na percepção da situação atual.

Apesar da melhora, o ISA do setor de Serviços continua abaixo dos 80 pontos e no menor nível entre os setores que integram o ICE.

Difusão

Em agosto, a confiança avançou em 92% dos 49 segmentos integrantes do ICE, uma disseminação ainda superior à de 90% do mês anterior. Indústria e Serviços mantiveram a disseminação de alta, Construção acomodou e o Comércio desta vez registrou alta da confiança em 100% dos seus segmentos.

“A confiança empresarial subiu de forma expressiva em agosto, dando sequência à tendência de recuperação iniciada em maio, sob influência da melhora da percepção dos empresários em relação à situação presente dos negócios”, ”, comenta Aloisio Campelo Jr., superintendente de Estatísticas da FGV.

“Em termos setoriais, os destaques são a Indústria e o Comércio, cujos níveis de confiança já estão próximos aos do período anterior à pandemia do novo coronavírus. Na Construção e, principalmente, no Setor de Serviços, a retomada do otimismo é semelhante à dos outros setores, mas a percepção sobre a situação atual continua bastante desfavorável, o que vem contendo uma alta mais expressiva da confiança.”



Proposta orçamentária não prevê alta do salário mínimo

Pelo segundo ano consecutivo, a proposta orçamentária foi elaborada sem aumento real para o salário mínimo. A razão para isso é que o piso salarial ficou sem uma política específica desde 2019, sendo garantida pelo texto constitucional apenas a correção pela inflação passada.

O ano de 2019 foi o último em que o salário mínimo foi corrigido pela inflação do ano anterior, acrescido do crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Essa política de valorização do mínimo foi fixada pela lei 13.152, de julho de 2015, a partir de iniciativa da ex-presidente Dilma Rousseff.

O piso salarial é corrigido pelo INPC, calculado pelo IBGE, e, como ele será muito baixo neste ano, as despesas da União também crescerão menos. O salário mínimo é o piso dos benefícios previdenciários e assistenciais. O INPC corrige também os benefícios com valor acima do mínimo.

A última estimativa feita pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, em julho, foi que o INPC deste ano ficará em 2,1%. Com esta correção, o salário mínimo passaria, no dia primeiro de janeiro de 2021, dos atuais R$ 1.045 para R$ 1.066,94.

O governo estima que o aumento de 1 ponto percentual da inflação medida pelo INPC gera um acréscimo de R$ 7,6 bilhões nas despesas da União, especialmente pelo impacto nos gastos com benefícios previdenciários, conforme o anexo de riscos fiscais do projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO) para 2021.

Assim, apenas por causa do INPC de 2,1%, as despesas da União no próximo aumentariam R$ 15,1 bilhões, em termos líquidos. Isto porque o aumento do INPC também eleva as receitas da União. No caso do INPC de 2,1%, as receitas aumentariam R$ 997,5 milhões.

Além do impacto do INPC, as despesas da União também aumentam por causa do que os economistas chamam de crescimento vegetativo, que é a quantidade do número de benefícios concedidos que aumenta por conta de questões demográficas, de regras legais e outras.

A proposta orçamentária para 2021 será encaminhada hoje ao Congresso pelo governo. O limite das despesas primárias (não inclui o pagamento de juros e amortizações da dívida pública) vai aumentar em R$ 31 bilhões, em relação a 2020, de acordo com a regra do teto de gastos, instituída pela emenda constitucional 95. É o menor aumento do limite para a despesa desde que ele foi instituído, em dezembro de 2016. Pela regra do teto, a despesa para o ano seguinte é igual à despesa do ano em curso, corrigida pela inflação.

Crise gera oportunidade em fundos imobiliários, defendem gestores

Os fundos de investimento imobiliários passavam por seu melhor momento logo antes da chegada da covid-19. Com a queda da Selic, eles viraram a alternativa para aumentar rentabilidade e foram ganhando mais e mais adeptos.

Mas os retornos desses fundos despencaram nos primeiros meses de quarentena. Com ativos como shoppings e salas comerciais fechadas, desocupados, os fundos acabaram sofrendo prejuízos.

Depois de passado o primeiro momento do surto de coronavírus, entretanto, alguns deles vêm voltando, pouco a pouco, a ganhar rentabilidade. O índice que mede o desempenho dos fundos, Ifix, já voltou ao nível que estava nessa mesma época do ano passado, quando a Selic estava em pleno ciclo de cortes mas muito mais alta.

“A crise trouxe preços interessantes, começamos até um fundos de fundos para comprar fundos de outros. No início de março, os gestores tiraram do próprio bolso para comprar, aproveitando a oportunidade. Ainda está aí, os preços estão interessantes, não como em março, mas ainda estão”, diz Fabio Carvalho, da Alianza Gestão de Recursos. Ele participou de painéis sobre imóveis no evento virtual Tag Summit.

Os shoppings, que sofreram as maiores perdas, ainda prometem ganhos no pós-pandemia, argumentam. Com mais de 13 anos de experiência no setor de shoppings, Pedro Carraz, gestor de fundos imobiliários de ativos reais da XP Asset, diz que o Brasil ainda tem uma baixa quantidade desses empreendimentos por habitantes, em comparação a outros países.

Para ele, o momento é oportuno para investir se a estratégia for de longo prazo, principalmente para quem aguarda o lançamento de uma vacina contra a covid-19.

“Shopping no Brasil ainda tem bastante espaço para continuar crescendo. Serão meses difíceis, mas volto a dizer que investir no mercado imobiliário, em fundo imobiliário tem que ser uma visão de longo prazo”, afirma.

Ele argumenta ainda que shoppings possuem muitos locatários, por isso, têm um risco menor de vacância. Passado o momento mais duro da crise, eles devem voltar a concentrar multidões, porque, segundo Carraz, faz parte da cultura do brasileiro.

Bruno Margato, da Credit Suisse Hedging-Griffo, pondera que os shoppings vão precisar apostar cada vez mais na parte de versatilidade e entretenimento, porque o desenvolvimento do comércio eletrônico, agora mais consolidado, vai ser um desafio.

“Shopping vai continuar existindo. Todo mundo busca sair de casa. Olhando no longo prazo, tem oportunidade”, comenta.

Home office

Os três gestores concordam que o trabalho remoto, muito chamado de home office, vai oferecer uma pressão para o setor, mas muito mais devido ao momento de corte de gastos das empresas que por um aprofundamento da cultura de trabalhar de casa.

Para eles, o impacto do home office vai ser limitado e paulatino, na medida em que as empresas virem o que funciona ou não para elas.

Outro ponto de otimismo é que não há previsão de entregas de novos imóveis comerciais para o próximo ano. Portanto, sem aumento da oferta, é possível que a procura faça os aluguéis se valoriz

Câmara pode votar na terça-feira o novo marco regulatório do gás natural

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Projeto substitui o regime de concessão pelo de autorização no transporte de gás natural . lagereek/DepositPhotos

A Câmara dos Deputados pode votar na terça-feira (1º) o projeto do novo marco regulatório do setor de gás natural (PL 6407/13). O texto prevê autorização, em vez de concessão, para o transporte de gás natural e estocagem em jazidas esgotadas de petróleo.

O relator do projeto, deputado Laercio Oliveira (PP-SE), afirma que as novas regras vão modernizar o setor, gerar aumento de empregos e redução de preços. Ele recomenda a aprovação em Plenário do texto substitutivo elaborado pelo deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), que foi aprovado na Comissão de Minas e Energia em outubro do ano passado.

De acordo com o substitutivo, a outorga dessa autorização para a construção ou ampliação de gasodutos deverá ocorrer após chamada pública a ser realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Se houver mais de um interessado para a construção de um gasoduto, a agência deverá realizar processo seletivo público.

Essas autorizações não terão tempo definido de vigência e somente poderão ser revogadas a pedido da empresa, se ela falir ou descumprir obrigações de forma grave, se o gasoduto for desativado ou se a empresa interferir ou sofrer interferência de outros agentes da indústria do gás.

O texto também acaba com a exclusividade dos estados na atividade de distribuição de gás natural, seja diretamente ou por concessão, permitindo ainda sua exploração pelas concessionárias privadas de energia elétrica.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Recuperação do varejo de construção pode ser ‘voo de galinha’, dizem lojistas

Com o dinheiro do auxílio emergencial no bolso, o brasileiro está cuidando melhor da própria casa. Mas o crescimento na demanda por materiais de construção, reforma e decoração, pode ser um “voo de galinha”. 

É o que acredita o superintendente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Waldir Abreu. De acordo com ele, e lojistas do varejo, as pessoas físicas e pequenos negócios estão criando essa demanda temporária com o dinheiro de estímulos do governo.

Antes, os maiores responsáveis pelo consumo de materiais de construção eram empreiteiras e grandes construtoras, que absorviam um volume exponencialmente maior e de forma constante.

As coisas mudaram nos últimos meses e deram um alívio para o varejo de materiais de construção. Mas isso deve ter data para acabar, segundo Juliano Ohta, presidente da Telhanorte, uma das maiores do país. A varejista, inclusive, já se prepara para uma desaceleração da demanda ainda antes do fim do ano.

“O número de clientes aumentou, mas já sentimos uma queda no valor das vendas. Essa euforia da melhoria do lar ainda deve durar mais uns três meses, mas muita gente está perdendo o emprego e a ajuda do governo não vai durar pra sempre”, diz Ohta.

O crescimento das vendas por causa do auxilio emergencial criou até uma mudança no hábito de consumo. Um fator curioso, aliás. Ohta afirma que os pagamentos em dinheiro aumentaram ao mesmo tempo em que o valor médio por compra diminuiu.

“Conversando com os clientes nas nossas lojas, eles relatam que estão usando o auxílio emergencial para fazer pequenos reparos necessários na casa. Para a classe C ou D, que antes não ficava em casa, investir na estrutura é uma emergência, sim”, explica.

Na Casa do Construtor, rede especializada em aluguel de maquinário para obras e manutenção da casa, os clientes pessoa física passaram de 15% em fevereiro deste ano para 40% em maio. Além disso, houve um aumento de 55% na procura por equipamentos, sendo que 25% desse total tinha como finalidade reformas e manutenções em residências. Os outros 30% são pessoas jurídicas de pequenas e médias empresas. 

O presidente da rede, Altino Cristofoletti, diz que pequenos empresários e consumidores aproveitaram o período de isolamento para fazer melhorias que vinham sendo adiadas.

“As pessoas passaram a dar outro grau de importância para a própria casa e, isoladas nesse ambiente, passaram a perceber possibilidades de melhora. Outro perfil foram empresas não ligadas ao setor de construção. São companhias que precisavam fazer adaptações, seja por segurança ou logística”, avalia Cristofoletti.

Mas, assim como o CEO, outros lojistas aguardam a volta das grandes obras para confiar na retomada. “O governo cumpriu a parte dele. O que sobrou [do auxílio], as pessoas usaram para trocar uma louça sanitária, uma fechadura, mexer na casa. E isso teve impacto no nosso setor”, relata o superintendente da Anamaco.

“Mas, agora, ou o governo começa a fazer obras de infraestrutura e deixa o capital externo entrar, ou o setor já vai perder esses ganhos”.

Ou seja, sem obras de infraestrutura, sem muitas oportunidades de ganhos para as varejistas, que torcem por um respiro maior do auxílio emergencial. 

Mercado melhora previsão para queda do PIB em 2020 e vê Selic a 2,88% em 2021

Os economistas do mercado financeiro melhoraram mais uma vez a revisão para o tombo do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. A estimativa passou de queda de 5,46% para redução de 5,28%. Essa foi a nona semana consecutiva de melhora da projeção. No fim de junho, a projeção de queda alcançou o pico de 6,54%. Além da revisão do PIB, o mercado também passou a esperar a Selic a 2,88% ao ano, ante 3% na publicação anterior. 

Os números são do relatório semanal Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (31) pelo Banco Central. O documento reúne a estimativa de mais de 100 instituições do mercado financeiro para os principais indicadores econômicos. 

A expectativa para o desempenho da atividade econômica em 2020 reflete os impactos da pandemia da Covid-19, na economia nacional e mundial, que também caminha para uma recessão. 

As tendências de melhora nas previsões das últimas semanas, porém, refletem os dados positivos de indicadores macroeconômicos recentes, como a alta nos setores de indústria e de serviços em junho, bem como o saldo positivo na criação de vagas do mercado formal de trabalho. 

Nesta semana, as expectativas do mercado se voltam para o resultado oficial do PIB no segundo trimestre de 2020. O resultado vai ajudar na análise do tamanho do rombo que os impactos da pandemia terão na economia do país. O dado será divulgado pelo IBGE na terça-feira (1º) e deve apresentar uma retração de dois dígitos.

Estimativas do IBC-Br, índice de atividade econômica do BC considerado uma prévia do PIB, por exemplo, projetam um tombo de 10,9% na atividade econômica. Caso confirmada, a queda sinaliza o início de uma recessão técnica no país, que já registrou retração de 1,5% no primeiro tri. 

Taxa Selic 

Para este ano, o mercado prevê a manutenção do atual patamar da taxa básica de juros da economia. Assim, a projeção é de que a Selic permanece na mínima histórica de 2% ao ano até o fim de 2020. 

Já para o fim de 2021, a estimativa do mercado voltou a cair. Na semana passada, as previsões estacava em 3% ao ano. Agora, a expectativa caiu para um juros a 2,88% a.a. Apesar de esperar uma alta dos juros no próximo ano, a projeção do mercado sinalizar que o movimento será de forma ainda mais gradual.

Inflação 

Os analistas também revisaram a previsão para o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A estimativa para a inflação oficial avançou de 1,71% para 1,77%. 

O número segue abaixo do centro da meta de 2020, de 4,00%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual, ou seja, podendo variar de 2,50% a 5,50%. 

A meta é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e, para persegui-la, o BC eleva ou reduz a taxa de juros básica, a Selic. Atualmente, a Selic está na mínima histórica, a 2% ao ano. Quando a meta não é cumprida, o BC tem de escrever uma carta pública explicando as razões.

Veja a receita para sair da crise de CEOs e empresários que representam o PIB brasileiro

Executivos do setor privado consideram a semana que passou um exemplo das dificuldades que o país enfrenta para retomar a trilha do crescimento da economia e deixar para trás a retração dos últimos meses provocada pela pandemia do novo coronavírus, quadro que ficará ainda mais visível nesta semana com a divulgação do desempenho da economia no segundo trimestre, ápice da crise.

Paulo Guedes, o comandante da equipe econômica, prometeu entregar um “Big Bang”, como definiu seu pacote de obras e outras medidas, mas acabou a semana sem anúncios e ainda teve sua proposta de reestruturação do Bolsa Família no novo Renda Brasil rejeitada publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro.

O GLOBO ouviu líderes de 12 grandes empresas brasileiras, que juntas faturaram mais de R$ 95 bilhões em 2019, sobre quais seriam as soluções de curto prazo que deveriam constar de um plano de ação para conduzir a economia a uma recuperação consistente. Na visão dos executivos, ações para garantir renda aos mais vulneráveis são importantes, mas é preciso encontrar soluções que contemplem o equilíbrio das contas públicas.

Na opinião desses representantes do PIB brasileiro, o governo precisa aprovar reformas que possam, de fato, trazer segurança jurídica para incentivar investimentos, emprego e competitividade.

A receita que aparece nas entrevistas é conhecida e se aproxima do discurso liberal que Guedes tem dificuldades de colocar em prática: aprovar as reformas tributária e administrativa, avançar de fato nas privatizações e retomar o equilíbrio das contas públicas. O meio ambiente também precisa ser contemplado.

— Todos nós esperamos a plataforma que foi dita desde a eleição: controle do gasto público, menor participação do governo na economia, privatização e as reformas. Qualquer desvio neste programa ou nesta direção assusta um pouco — resume João Carlos Brega, presidente para a América Latina da gigante Whirlpool, das marcas Brastemp e Consul.

Para Marco Stefanini, fundador da companhia de tecnologia da informação que leva seu sobrenome, a retomada passa pela geração de empregos. Mas, o veto de Bolsonaro à desoneração da folha de pagamentos de empresas até 2021 deixou dúvidas sobre essa prioridade. A dubiedade do governo — ora apostando na rigidez fiscal ora na alta das despesas — também é citada como um fator contrário às perspectivas de investimentos, fundamentais para a recuperação.

— Olhando do ponto de vista da eficiência, às vezes me dá a sensação de que estamos tentando romper um ciclo vicioso, e isso não é fácil — diz Viviane Martins, presidente da Falconi Consultores.

As propostas dos empresários

João Carlos Brega, da Whirlpool

João Carlos Brega, presidente para a América Latina da Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Cônsul Foto: Divulgação / Agência O Globo
João Carlos Brega, presidente para a América Latina da Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Cônsul Foto: Divulgação / Agência O Globo

Além de defender a responsabilidade fiscal, uma promessa do governo, o presidente para a América Latina da Whirlpool (dona de marcas como Brastemp e Cônsul) afirma que a retomada da economia se dará com as reformas e as privatizações. Para ele, todas devem correr simultaneamente. O executivo afirma que o governo e o Congresso têm condições de pensar em mudanças na tributação e na administração junto com o processo de venda de estatais:

— Todo mundo gostaria que tudo fosse feito rápido, há um período de gestação. Não adianta colocar nove gestantes, uma ao lado da outra, que não teremos uma gravidez em um mês. São temas muito delicados e muito difíceis — afirma. — Isso é igual matemática, nenhuma é suficiente, mas todas são necessárias. O jogo é “e”, não “ou”.

O executivo se mostra preocupado com um falso otimismo da economia, por causa do bom momento das Bolsas de Valores e com os auxílios financeiros às camadas mais pobres. Ele afirma que o governo acertou ao agir rápido para atender os mais vulneráveis, mas os desafios continuam:

— Agora tem a equação de como a gente sai disso.

Viviane Martins, da Falconi

Viviane Martins, presidente da consultoria Falconi Foto: Divulgação / Agência O Globo
Viviane Martins, presidente da consultoria Falconi Foto: Divulgação / Agência O Globo

A presidente da consultoria Falconi vê a retomada do crescimento passando pela busca da eficiência. Assim, ela prioriza a reforma administrativa, mesmo reconhecendo a importância da tributária:

— Nos últimos 20 anos, estamos abaixo do crescimento médio da América Latina. Crescemos pouco, gastando muito e mal. Muita gente acha que deveriam andar juntas, mas penso na dificuldade política de duas reformas ao mesmo tempo. A escolha clara é pela administrativa, enxugar um pouco esses gastos.

A executiva também discorda da visão de que investimento em infraestrutura é uma boa alavanca para a retomada. Prova disso, em sua opinião, é a imensa quantidade de obras públicas incompletas no país, metade delas parada por questões técnicas, não por falta de verbas.

Uma das principais lideranças do país na defesa da agenda de desenvolvimento sustentável da ONU, ela aponta esse caminho como motor de uma retomada consistente:

— Economia verde é uma vocação natural do Brasil. Enquanto não virmos que uma árvore deitada vale menos que uma em pé, não se vai planejar um desenvolvimento sustentável. Hoje a Amazônia é quase um incômodo, mas deveria ser vista como um tesouro.

Miguel Gularte, da Marfrig

Miguel Gularte, diretor presidente da Mafring Foto: Divulgação / Agência O Globo
Miguel Gularte, diretor presidente da Mafring Foto: Divulgação / Agência O Globo

Não existe uma “bala de prata” para destravar a economia, segundo o presidente da Marfrig. O Brasil pode criar um ambiente de negócios mais saudável, com uma carga tributária correta, ele avalia. Para isso, é preciso avançar numa reforma tributária que simplifique e desburocratize o complexo sistema de impostos do país, trazendo ganhos de produtividade às empresas.

Isso, na visão do líder da gigante de carnes, aumentaria a competitividade da economia. Se houver consenso tanto do Executivo quanto do Legislativo, as reformas tributária e administrativa podem andar juntas, acredita.

— Não sei se vai acontecer, mas havendo esse entendimento e participação da sociedade, há espaço.

Para ele, a retomada passa também pelo aumento do emprego e da recuperação da renda das pessoas. Gularte argumenta que não existe melhor programa de distribuição de renda que vagas de trabalho, mas ressalta o impacto dos programas de transferência.

— A manutenção do auxílio emergencial por mais um período, sem entrar no mérito do tamanho do benefício, assim como o programa Renda Brasil, terão um impacto importante para o consumo doméstico, o que também ajuda a estimular a economia.

Mate Pencz, da Loft

Mate Pencz, um dos fundadores da Loft Foto: Divulgação / Agência O Globo
Mate Pencz, um dos fundadores da Loft Foto: Divulgação / Agência O Globo

Um dos fundadores da Loft — start-up “unicórnio” do setor imobiliário —, o empresário acredita que a prioridade para a retomada da economia do país é a manutenção do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas da União.

Pencz, que se criou na Europa e se formou nos EUA, entende que o auxílio emergencial foi importante, mas lembra que no Brasil o “cobertor é mais curto”. Para ele, agora o governo precisa buscar soluções criativas para assistir os mais pobres e manter o equilíbrio das contas.

Ampliar as privatizações também é visto como algo fundamental, pois ele acredita que o país vive uma oportunidade única com os juros baixos:

— Hoje, existe um Brasil que dá certo: de empreendedores e start-ups que estão surfando a onda dos juros mais baixos da história, trazendo investimentos, gerando empregos e renda. Mas caso o controle fiscal seja perdido, o risco é uma escalada dos juros, do câmbio e da inflação, o que ameaçaria acabar com esta onda positiva que está nutrindo o Brasil hoje.

O sócio da Loft acredita que a reforma tributária é prioritária e, mesmo conhecendo-se pouco de seus detalhes, gosta dos princípios defendidos pelo ministro Paulo Guedes: transparência e simplificação.

Flávio Rocha, da Riachuelo

Flavio Rocha, presidente da Riachuelo Foto: Charles Sholl / Raw Image
Flavio Rocha, presidente da Riachuelo Foto: Charles Sholl / Raw Image

Para o controlador da rede de lojas Riachuelo, a prioridade número um do governo precisa ser a reforma administrativa, e não a tributária.

— Primeiro você projeta a casa e depois vai ao banco para levantar o dinheiro. O Brasil está fazendo o contrário — diz.

Rocha defende, por exemplo, o fim da estabilidade dos funcionários públicos.

Para o empresário, a pior proposta de mudança do sistema tributário é a PEC 45, em tramitação na Câmara, que prevê a unificação de PIS, Cofins, IPI (federais), ICMS (estadual) e ISS (municipal) em um Imposto sobre Bens e Serviços (IBS): 

— É a prova de que é possível piorar o pior sistema tributário do mundo. As três bases clássicas de tributação, que são renda, consumo e patrimônio, estão falidas. É preciso anexar a informalidade, que hoje é de 40%, à base tributária. Isso o imposto digital (defendido pelo ministro Paulo Guedes) faz magistralmente. 

Segundo ele, a tributação sobre operações financeiras digitais permitiria ampliar a base de contribuintes, porque incorporaria recursos dos informais, o que tornaria possível uma redução das alíquotas.

Luis Gonçalves, da Dell

Luis Gonçalves, presidente da Dell Technologies para a América Latina Foto: Fernando Ctenas/Divulgação / Agência O Globo
Luis Gonçalves, presidente da Dell Technologies para a América Latina Foto: Fernando Ctenas/Divulgação / Agência O Globo

É preciso manter e incentivar a revolução digital turbinada pela pandemia, na visão do líder da Dell para América Latina. Para ele, isso já está sendo feito por outras nações, sobretudo na Ásia, e pode gerar avanços importantes, inclusive para a redução da desigualdade:

— Precisamos de um esforço programático e coordenado para aumentar a inserção digital, tornar isso uma vantagem competitiva, aumentar a produtividade e ampliar o acesso a serviços como saúde e educação.

O executivo lembra, por exemplo, que o país está cheio de incertezas sobre o leilão 5G enquanto outros países estão avançando nesta e em outras tecnologias.

Do ponto de vista macroeconômico, Gonçalves afirma que é hora de pensar grande:

— O mundo dos negócios e os cidadãos esperam as reformas, não há mais um questionamento do que fazer, a questão toda está centrada na dinâmica da realização.

Porém, ele acredita que as incertezas e a falta de visão de longo prazo já afetam as decisões sobre investimentos.

— A CPMF é o que a gente quer no longo prazo? A impressão é que estamos buscando a reforma para solucionar algo imediato, e não pensando no país no futuro.

Lídia Abdalla, da Sabin

Lídia Abdalla, diretora executiva do Laboratório Sabin Foto: Divulgação / Agência O Globo
Lídia Abdalla, diretora executiva do Laboratório Sabin Foto: Divulgação / Agência O Globo

À frente da rede de laboratórios médicos Sabin, ela diz que o setor de saúde privada não pode sair prejudicado da reforma tributária. Se for aprovada, a proposta de que os setores de serviços paguem maior alíquota de imposto precisa ser compensada, defende:

— A maior preocupação do setor neste momento é que a alíquota do PIS/Cofins passaria de algo entre 5% e 6% para 12% na proposta do governo. Os serviços ficarão até 7,4% mais caros, e isso pode sobrecarregar o sistema público de saúde.

Para a executiva, é preciso encontrar mecanismos que atenuem a alta do custo, como a desoneração da folha de pagamento.

— Estudos mostram que, de 117 países que adotam imposto único, 76% dão isenção total aos serviços de saúde e outros 6% aplicam uma alíquota menor que a padrão para o setor.

Abdalla também defende a manutenção do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas da União, e diz ver com preocupação o que chama de desalinhamento entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes sobre a forma de custear programas sociais.

Marco Stefanini, da Stefanini

Marco Stefanini, fundador e diretor executivo da Stefanini Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Marco Stefanini, fundador e diretor executivo da Stefanini Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

A retomada da economia brasileira passa pela geração do emprego, diz o fundador da multinacional de tecnologia, Stefanini. Mas, na visão dele, o governo perdeu o foco em políticas para a criação de novas vagas no setor formal. Ele cita como exemplo recente disso o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter vetado a desoneração da folha de pagamento de empresas de alguns setores até 2021.

— É uma renúncia de apenas R$ 8 bilhões para o governo. O auxílio emergencial foi importante para manter a economia informal em movimento, mas não pode ser mantido pela vida toda —avalia.

Para o empresário, a reforma tributária proposta pelo governo, que aumenta a carga para o setor de serviços, e o veto à desoneração da folha sinalizaram que não existe preocupação do Executivo com a criação de vagas no setor formal, onde se paga imposto. Ele diz que as reformas tributária e administrativa deveriam caminhar simultaneamente no Congresso:

— Se as empresas privadas tiveram que cortar custos para se adaptar aos novos tempos durante a pandemia, o setor público também deve fazer o mesmo reformando o Estado.

Lorival Luz, da BRF

Lorival Luz, diretor-presidente global da BRF Foto: Divulgação / Agência O Globo
Lorival Luz, diretor-presidente global da BRF Foto: Divulgação / Agência O Globo

Focar nas reformas tributária e administrativa deve ser uma prioridade, avalia o presidente da BRF. Ao mesmo tempo, ele diz que é preciso considerar a evolução da agenda ambiental e de sustentabilidade, avançando nas relações diplomáticas e comerciais com os principais parceiros do Brasil.

— A reforma tributária é absolutamente necessária, precisa ser simplificada e mais efetiva, reduzindo a sonegação e os custos inerentes à complexidade do regime atual. E os temas ambientais e de sustentabilidade são acompanhados com preocupação pelo mundo todo e determinantes para a tomada de decisões pelos investidores, empresários e pela sociedade. 

Nesse sentido, Luz pondera que medidas em discussão têm de possibilitar segurança jurídica para investimentos no Brasil. E dar mais competitividade às empresas brasileiras no mundo globalizado, trabalhando a imagem do país no cenário internacional de forma a abrir novos mercados. 

— Somente dessa forma será possível gerar retornos para as empresas e, consequentemente, criar emprego, gerar renda e permitir a arrecadação de impostos, o que é fundamental para viabilizar ações que possam reduzir a desigualdade social.

Antonio Filosa, da Fiat Chrysler

Antonio Filosa, presidente para a América Latina da Fiat Chrysler Foto: Leo Lara / Agência O Globo
Antonio Filosa, presidente para a América Latina da Fiat Chrysler Foto: Leo Lara / Agência O Globo

À frente da Fiat Chrysler no Brasil e na América Latina, Filosa vê com otimismo os planos do governo federal de simplificar o sistema tributário e ampliar a base de tributação no país. Ele reconhece, no entanto, que é tarefa complexa, já que existem impostos que “se entrelaçam e se propagam” ao longo das cadeias de produção. 

— Menos burocracia fiscal ajudará a indústria a ser mais competitiva. A complexidade tributária, a devolução de créditos tributários represados e os gaps de infraestrutura são os fatores que mais afetam a competitividade do setor produtivo brasileiro, dificultando a maior inserção dos produtos industrializados brasileiros no mercado internacional.

Com isso, o Brasil avançaria em competitividade, podendo se consolidar como plataforma de exportação. Pela dimensão e escala do mercado interno, sublinha o executivo, o país é visto como estratégico para muitas das maiores empresas do mundo.

Tayguara Helou, da Braspress

Tayguara Helou, diretor de Desenvolvimento da Transportadora Braspress Foto: Divulgação / .
Tayguara Helou, diretor de Desenvolvimento da Transportadora Braspress Foto: Divulgação / .

O diretor de Desenvolvimento da Transportadora Braspress defende a priorização de uma reforma administrativa antes da discussão tributária no país.

Para ele, o recorte das despesas com a máquina pública deve passar por uma limitação de número de servidores e gasto com o legislativo municipal de acordo com o tamanho dos municípios.

— O ideal seria reduzir o número de municípios, mas como isso é impossível, é preciso limitar o tamanho das prefeituras e o total de servidores.

Helou defende ainda a privatização dos Correios de maneira fatiada.

— Hoje a empresa tem 127 mil servidores, ela pode ser dividida e as correspondências poderiam ser regionalizadas e repassadas a franquias dos Correios, por exemplo.

Laércio Cosentino, da Totvs

Laercio Cosentino, fundador e presidente do Conselho de Administração da Totvs Foto: Silvia Costanti / Valor
Laercio Cosentino, fundador e presidente do Conselho de Administração da Totvs Foto: Silvia Costanti / Valor

Os desafios que a pandemia impõe à economia brasileira poderiam ser utilizadas para ganhos de competitividade e de uma nova visão de país, na opinião do fundador e presidente do conselho da Totvs.

Ele acredita que, de imediato, é preciso continuar irrigando a economia, com medidas como o auxílio emergencial e crédito para micro e pequenas empresas, mas de forma responsável, para garantir a saída desta situação de forma consistente fiscalmente. Para isso, em sua opinião, é necessária uma espécie de pacto nacional.

— Nós, às vezes, ficamos discutindo muito no varejo, muito em política e ideologia, e não pensamos em longo prazo, em fazer o que temos que fazer — diz. — Não temos um projeto de país há cinco ou seis governos, enquanto países que cresceram, como a China e a Coreia do Sul, têm planos de longo prazo muito claros.

Ele acredita que a pandemia trouxe uma oportunidade para o país se inserir de forma diferente no mundo, sendo uma alternativa à produção de bens, que pode atrair empresas para cá se isso for bem explorado:

— A gente tem uma oportunidade de fazer reformas e trazer novas empresas e criar uma rota de prosperidade no hemisfério sul.

Mas há riscos importantes. Para ele, ao insistir em modelos ultrapassados, inclusive de tributação, o país pode ver empregos importantes migrarem para outras nações, em um momento em que o presencial deixa de ser tão relevante. Assim, é preciso desonerar o emprego, a energia e as telecomunicações em uma reforma tributária, em sua visão:

— A gente tem que reduzir a carga tributária para ser competitivo, diminuir o estado brasileiro. Não adianta pensar em reforma que não vai pensar na frente, tem que ser estruturante.


Renda do emprego tem queda recorde de 15% em apenas 4 meses

A renda do trabalho, que equivale a 70% do orçamento das famílias, despencou nos últimos 12 meses, tendo registrado queda recorde, concentrada no período da pandemia. Entre fevereiro e junho, recuou 15,4%, já descontada a inflação. Isso representa R$ 34 bilhões a menos na economia nesse período.

A redução no volume de dinheiro circulando deve se traduzir em freio no consumo, o que pode tornar a recuperação da economia ainda mais lenta que o previsto. A estimativa de especialistas é que a retomava teria início justamente pelo consumo. Mas com a renda do trabalhador em queda, o consumidor vai pensar duas vezes antes de gastar.

Segundo levantamento do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcos Hecksher, o recuo inédito da renda total disponível foi causado tanto por corte de salário, em acordos de redução de jornada, quanto pelas demissões naqueles quatro meses. O rendimento médio do trabalhador ficou 3,8% menor no período, e o número de pessoas ocupadas recuou 12,1%.

Parte da perda dos recursos obtidos com trabalho tem sido compensada pelo auxílio emergencial, que alcançou 65 milhões de pessoas. Mas o problema é que se trata de um benefício transitório.

— A renda do trabalho caiu muito, a renda total (quando se incluem outras fontes de recursos) só não diminuiu por causa do auxílio. Com o fim dele e dos benefícios para manutenção do emprego, não vai ter geração de vagas para todas essas pessoas — diz Hecksher.

Fim do auxílio

Nos últimos 12 meses, a soma de renda do trabalhador teve tombo de 15,3%, maior queda da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Desde março, a retração bate recorde mês a mês. Números mostram que há alguma recuperação recente: a renda total somou R$ 225,9 bilhões em fevereiro, caiu para R$ 187,9 bilhões em abril e subiu para R$ 191 bilhões em junho.

— Mas esses números não refletem uma retomada e, sim, o não respeito às políticas de isolamento — diz o pesquisador da USP Rogério Barbosa.

Até agora, o auxílio emergencial ajudou a melhorar as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, cujo resultado será divulgado amanhã pelo IBGE. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, por exemplo, esperava queda de 19,6% no segundo trimestre — ante igual período do ano passado — e revisou a estimativa para recuo de 11,7%. Ainda assim, a queda seria um tombo nunca antes registrado.

— Estamos prevendo 13 milhões de desempregados a mais no fim deste ano do que em 2019. Quando acabar o efeito do auxílio, vai ter piora no consumo, no comércio e no varejo — diz Vale.

Silvia Matos, economista da FGV, já considera a retração dos rendimentos em 2021. Prevê queda de 5% no volume de recursos das famílias no ano que vem:

— Essa massa de rendimentos ampliada, que junta todos ganhos, responde por 75% do consumo das famílias. Não vejo o setor de serviços gerando renda do trabalho para compensar a perda do benefício.

O desemprego será de fato o maior desafio da retomada, na avaliação de especialistas. Não bastasse o fechamento de mais de 11 milhões de vagas de fevereiro a junho, segundo cálculos de Hecksher, os desempregados enfrentam uma barreira digital. Boa parte das empresas está fechada, com as instâncias de decisão em home office.

Vagas temporárias

O desemprego afetou principalmente os que trabalhavam sem carteira assinada. Dados do segundo trimestre também mostram que os jovens entre 18 e 24 anos foram os mais atingidos.

Enquanto o nível de ocupação — a parcela da população de 14 anos ou mais empregada — para a população em geral caiu 6,7 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre de 2019, para essa faixa de jovens, a queda chegou a 9,6 pontos percentuais: de 51,8% para 42,8%.

André Vicente, CEO da Adecco do Brasil, consultoria de recursos humanos que atua em 60 países, afirmou que, no Brasil, a oferta de vagas efetivas caiu à metade a partir de março, e as vagas temporárias diminuíram 70%.

Hecksher propõe que, para ampliar a oferta de vagas, sejam implementadas jornadas de trabalho mais curtas que as 40 horas semanais, com isenção de recolhimento da alíquota do INSS. Isso permitiria a criação de 4,6 milhões de postos de trabalho.

Mas Vicente acredita que o mercado de trabalho só voltará ao nível pré-pandemia, em todo o mundo, num período de três a seis meses após a aprovação de uma vacina.

Histórias de pessoas em busca de emprego

. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Ana Lucia Raiol, 48

Ex-vendedora de uniformes testa sua habilidade na cozinha

Casada, sem filhos, trabalhou por mais de cinco anos como vendedora de uma empresa de uniformes. Em 2019, pediu para sair para resolver problemas familiares em Belém (PA), onde seus pais moram. Na volta a São Paulo, logo conseguiu emprego numa fabricante de papéis para estilistas e designers. Foi contratada em agosto, mas em fevereiro a empresa cortou custos e a demitiu. Ela enviou currículos e chegou a fazer duas entrevistas em grandes lojas, mas as contratações foram suspensas. Desde janeiro, testava outra habilidade, a de cozinheira. Foi convidada a fazer almoços para encontros de uma loja maçônica. Até que os maçons trocaram as reuniões pelas lives. Agora, torce para que eles voltem a se reunir.

— Penso em fazer um curso de gastronomia e deixar de trabalhar com carteira assinada.

. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Carlos de Oliveira, 56

‘Se a gente liga, se torna um chato. Se não, falta interesse’

Separado e pai de uma menina de 4 anos, é técnico em segurança do trabalho de uma indústria de cerâmica. Em dezembro de 2019, foi demitido. Como no Brasil nada acontece até o carnaval, diz, estava difícil achar emprego no começo do ano. Com a pandemia, a situação piorou. Ele tem mandado currículos pela internet, inscreveu-se em agências de emprego e, apesar da experiência na área, em grandes empresas, não teve sucesso. Foi chamado duas vezes para entrevistas. Numa empresa disputou com mais 49 candidatos, alguns deles engenheiros desempregados. Outra empresa afirmou que adiaria a contratação devido à pandemia e não retornou mais.

— Se a gente liga, se torna um chato. Se não liga, acham que falta interesse. A gente fica perdido —afirma.

. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Juliana Ferreira, 27

Dificuldade até de achar emprego temporário

Casada, mãe de um menino de 6 anos, sempre trabalhou com vendas, e seu último emprego foi numa empresa de chips para celular. No início da pandemia, a empresa praticamente desativou a área de promoção e vendas e manteve apenas um núcleo administrativo. O marido está em home office e já foi transferido de setor devido à queda nos negócios. Ela teme que ele também perca o emprego.

Tem enviado currículos pela internet, mas não recebe respostas. Não conseguiu sequer emprego temporário. O filho está em casa, sem aula, e a prefeitura fornece uma cesta básica.

— Tínhamos planos de terminar de arrumar a casa, que construímos no último ano, mas tudo foi por água abaixo — afirma ela.

. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Daniela de Souza, 26

‘Vivemos com a a ajuda da minha mãe e da minha sogra’

Casada, mãe de gêmeas de 5 anos e de um garoto de 2, trabalhava como manicure e, desde março, está sem emprego. Não consegue nem mesmo clientes para fazer a unha em casa. O marido, que trabalhava numa garagem de ônibus como auxiliar de limpeza, também ficou desempregado.

A família vive agora do auxílio emergencial, a que apenas ela teve direito, e do auxílio-alimentação que a prefeitura dá para as crianças da rede municipal, que soma R$ 237 para os três filhos. O marido acabou conseguindo um bico de auxiliar de pedreiro fora de São Paulo, para morar na obra.

— Estamos vivendo com a ajuda da minha mãe e da minha sogra, que são empregadas domésticas e não pararam de trabalhar — conta.