Lojas de material de construção apostam nas vendas remotas

Ruas vazias e lojas com as portas fechadas. Essa é a cena que os brasilienses encontram quando precisam sair de casa. Após decreto do governador Ibaneis Rocha, somente o comércio considerado de primeira necessidade continua operando. Um deles é o setor dos materiais de construção civil, que tem se esforçado para driblar a crise do coronavírus.

“Imagina, durante o confinamento, um disjuntor quebrar ou um cano se romper. Por isso, não podemos parar”, explica Hércules Isaac, diretor da Campeão da Construção. Apesar das expectativas nada animadoras de mercado, ele se mantém otimista: “É tempo de inovar, ser inteligente”, diz.

Brasília atravessa a terceira semana de quarentena e, em pouco tempo, um grande baque foi sentido. “Perdemos cerca de 50% no número de vendas, mas criamos uma equipe de gerenciamento de crise e apresentamos um sistema de vendas pelo WhatsApp. Metade dos vendedores está sendo treinada para dar gás nas vendas remotas”, conta Isaac. Para aqueles que preferem ir à loja, a medida encontrada para sufocar o vírus foi instalar pias com sabonete e álcool em gel para a higienização das mãos, além de férias para 30% dos funcionários.

Lojas com estruturas mais enxutas representam mais segurança para quem compra e para quem vende. A empresa AC Coelho deu férias a todos os funcionários maiores de 50 anos, gestantes, pessoas com doenças crônicas ou que convivem com outras nessas condições. “Estamos operando com 40% da nossa equipe, precisamos cuidar da saúde e da vida do nosso público interno, tanto quanto dos nossos clientes”, diz Bruno Coelho, diretor comercial do grupo.

Para ele, a qualidade no atendimento é a marca registrada da empresa e deve ser reforçada, ainda que a distância. “Foi necessário criar canais, toda a equipe possui celular de última geração para fazer chamadas de vídeo com os clientes. Não podemos perder o calor humano”, conta. Apesar da queda de 60% no faturamento, Bruno acredita que a implementação de um sistema eficiente de e-commerce demandaria muito tempo e esta alternativa ainda não é considerada pela empresa.

Apesar de não vender pela internet, a AC Coelho dispõe de serviço de televendas. “Diria que 80% dos nossos clientes que costumavam vir à loja migraram para o sistema de vendas pelo telefone. Para estimular ainda mais a campanha do fique em casa, reduzimos consideravelmente o valor cobrado nos fretes. Em determinados casos, até conseguimos zerá-lo”, afirma Bruno.

Perdas e ganhos 

Não faltam estudos que projetem grandes perdas econômicas em decorrência do coronavírus. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que o Brasil tenha um deficit de US$ 104 milhões. Neste cenário, as grandes empresas acumulam dívidas e as pequenas são engolidas.

Proprietário da LM Materiais de Construção, uma loja que atende os moradores de Vicente Pires,  Edson Landim sobrevive com poucas expectativas de melhora. “Nesse período, tive uma queda de 70% da clientela. Até as minhas televendas estão em baixa, 40% menores do que antes. O povo está com medo de gastar”, comenta. O lojista diz que permanece aberto por não ter grandes despesas. “Trabalho sozinho na loja, não preciso pagar funcionário e o meu maior gasto é com o aluguel. Mesmo com a quantidade baixa de vendas, não considero fechar.”

Equilibrando a balança dos prejuízos, a Pinheiros Ferragens tem queda pouco expressiva das vendas e até conseguiu conquistar novos públicos nesta fase. “Sinto que o setor entrou em evidência, porque as pessoas estão em casa e observam as necessidades de reforma no lar”, diz Janine Brito, CEO da empresa.

Segundo ela, um novo perfil de clientes passou a comprar e isso tem sido um incremento nas vendas. “Comercializamos equipamentos de proteção individual (EPI), colocamos lucro zero nestes e em outros itens de necessidade essencial da casa. Agora, nosso cadastro de compradores conta com muitos profissionais da saúde e a população que está cuidando de pessoas doentes, assim como aqueles que buscam uma proteção extra.”

Com criatividade, a passagem pela crise sanitária e econômica pode ser menos dolorosa. Os três grandes lojistas que conversaram com o Correio instituíram novas ferramentas de atendimento mediado pela internet e/ou telefone. Todos creem que, apesar do decréscimo nas vendas, há esperança para contornar os prejuízos. Otimismo e perseverança são palavras-chave neste momento.

Três perguntas para Carlos de Aguiar, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção do Distrito Federal (Sindmac-DF):

Existe uma estimativa de perdas para o setor? 

Nós contabilizamos uma queda de 30% a 40% em todo o nosso movimento. Entretanto, mesmo com o deficit, entendemos perfeitamente que temos de dar nossa contribuição e apoio a nossos colaboradores para que façam algo realmente diferente no enfrentamento a essa crise. A prioridade é cuidar e zelar pelo nosso maior patrimônio, que é o nosso cliente. Portanto, reforçamos as medidas de segurança para manter todos a salvo desse vírus.

Durante a crise, quais são as recomendações aos lojistas para que os impactos sejam menos duros? 

Estamos funcionando com horários mais flexíveis. As lojas passaram a abrir mais tarde e a fechar mais cedo. O horário de funcionamento vai das 8h às 17h. Assim, preservamos também as nossas equipes, fugindo do horário de pico no transporte público. Convidamos o público para que compareça nestes momentos às nossas lojas. Além dos produtos, temos um banco de profissionais que indicamos para pequenas reformas, facilitando a vida do cliente. Vale ressaltar que o Sindmac, com a Associação dos Comerciantes de Material de Construção do DF (Acomac) e os nossos colaboradores, está arrecadando uma quantidade expressiva de álcool em gel, água sanitária, papel toalha e detergente para doação ao GDF. Todas as nossas lojas estão preparadas para receber os donativos, assim como vamos às residências buscá-los.

Este é um bom momento para ter uma estratégia de vendas mais agressiva? Ou basta aumentar o leque de opções de serviço, como o atendimento remoto a clientes?

Apesar da queda, não podemos aumentar o preço dos produtos essenciais, em especial. Devemos operar com baixo custo. Se possível ao lojista, acrescentar somente o custo operacional nesses itens.  De toda forma, há impacto e este é o momento de nos reinventarmos. Passar a ofertar serviço de delivery, opções variadas de pagamento, como depósito bancário e com a maquininha de cartões no ato da entrega. Reduzir os custos com entrega e estender as opções de atendimento são as melhores opções. É hora de exercer a criatividade.

Mercado imobiliário busca alternativas para reduzir inadimplência

O setor imobiliário teme que a inadimplência cresça entre locatários. Embora os contratos tenham fiadores, há uma expectativa que eles também serão afetados.

O mercado começa a buscar iniciativas para a inadimplência durante a pandemia. A startup CredPago criou um parcelamento aos inquilinos com problemas financeiros, como explica o CEO Jardel Cardoso.

“Uma possibilidade para atender os inquilinos que permite que ele consiga parcelar seu aluguel em três vezes sem juros ou em seis vezes apenas colocando apenas o custo da operação. Já a imobiliário, que representa o proprietário, recebe o valor em até três dias após o vencimento. ”

A startup tem o banco BTG Pactual como um dos seus sócios e pretende injetar R$ 10 milhões na operação de socorro financeiro. A iniciativa poder beneficiar oficialmente seis mil famílias em todo o país.

‘Papel da Caixa é de agente normalizador do mercado’, diz Guimarães

Em duas semanas desde o agravamento da crise do coronavírus, a Caixa desembolsou R$ 20 bilhões entre empréstimos para pequenas empresas, compras de carteiras de bancos médios e de credenciadoras de cartões e aquisições de debêntures no mercado secundário.

A atuação distribuída em várias frentes — inclusive em áreas até então pouco exploradas pelo banco — reflete a missão que a Caixa terá para conter os danos da pandemia na atividade econômica. “Nosso papel será o de um agente normalizador do mercado”, afirma o presidente da instituição, Pedro Guimarães, em entrevista ao Valor.

Os recursos fazem parte de um total de R$ 111 bilhões que a Caixa anunciou que terá para o combate aos efeitos da turbulência. Segundo o executivo, o banco está capitalizado e com boa liquidez após uma série de vendas de ativos no ano passado, o que lhe dá margem de manobra agora. Embora o novo cenário tenha interrompido o processo de desinvestimentos, como o IPO da Caixa Seguridade, Guimarães afirma que a instituição tem recursos suficientes para atuar sem comprometer seu balanço. “Não vou fazer maluquice”, diz.

Uma das prioridades é conceder capital de giro para pequenas e médias empresas, que viram o faturamento despencar com a suspensão das atividades. Segundo Guimarães, a demanda aumentou nos últimos dias porque o mercado de crédito, no geral, está mais restritivo.

O risco desses clientes também subiu, mas a exposição que a Caixa tem ao segmento é pequena — de apenas R$ 30 bilhões, frente à carteira de crédito total, que somava 

R$ 693,7 bilhões no fim do ano passado e é majoritariamente formada por linhas imobiliárias. Por isso, o impacto de eventuais calotes de empresas será muito reduzido no índice de inadimplência do banco, argumenta o executivo.

Algumas precauções, no entanto, estão sendo tomadas. A renovação de capital de giro para empresas que já são clientes é mais simples. Para as demais, a Caixa está atuando por meio de uma parceria com o Sebrae, que tem uma espécie de fundo garantidor para cobrir inadimplência, o que reduz riscos do banco. A instituição também vai oferecer crédito para financiar folhas de pagamento, conforme modelo desenhado entre os bancos e o governo.

O crédito a pequenas e médias empresas não chega a ser um desvio de rota para a Caixa. A instituição já vinha tentando crescer nesse segmento, assim como no de operações comerciais para pessoas físicas — também passa por aí a lógica da compra de carteiras de empréstimos consignados concedidos por bancos médios.

A crise acabou sendo uma oportunidade para acelerar esses movimentos. “Estamos numa posição única, desalavancados e com baixa exposição a esse setores”, diz Guimarães. “Se essas empresas sobreviverem, vamos ganhar dinheiro ao longo do tempo.”

Na última semana, a Caixa adquiriu carteiras de bancos médios e recebíveis performados de pelo menos uma credenciadora. Recebíveis performados são aqueles correspondentes à venda já feita pelo lojista por meio das maquininhas. O banco também foi às compras no mercado secundário de debêntures, onde não é um frequentador habitual, numa tentativa  de ajudar a fomentar liquidez. A intenção é vender os papéis quando a situação voltar ao normal.

Desde o início do ano passado, o banco vinha desmontando sua carteira de crédito a grandes companhias, e essa disposição não mudou agora. Segundo Guimarães, a Caixa não tem planos de conceder recursos ao segmento em operações sem garantia. “O foco é em pequenas empresas e pessoas físicas”, reitera.

O presidente da Caixa afirma que, desde o início da crise, o banco postergou, por 90 dias, o pagamento de prestações de crédito imobiliário de mais de 800 mil clientes. De acordo com o executivo, o volume corresponde a uma pausa em contratos que somam cerca de R$ 80 bilhões. Também houve redução, para 2,9% ao mês, na taxa do cheque especial.

Nas próximas semanas, Guimarães terá o desafio de viabilizar a distribuição do auxílio de R$ 600 que será concedido a trabalhadores informais, cuja renda tende a despencar durante a pandemia. Para isso, o executivo diz que se valerá da experiência adquirida na liberação de recursos das contas do FGTS no ano passado, feita em grande parte de forma digital.

Embora seja uma operação de custo elevado, Guimarães afirma que o pagamento dos vouchers, como contrapartida, vai atrair mais clientes para o banco. Nos cálculos dos executivos, 85% do público potencial do benefício não é tem conta na Caixa hoje.

Mitre decide manter planejamento para 2020

Apesar da pandemia do coronavírus, a Mitre Realty decidiu manter seu planejamento para 2020. Conforme o presidente da companhia, Fabrício Mitre, informou ao Valor, a projeção traçada para o ano já previa concentração de lançamentos dos padrões médio a alto no segundo semestre, na capital paulista. “Até maio, não vemos necessidade de revisão do nosso plano de negócios. Se a questão se estender por mais tempo, vamos revê-lo, diz Mitre, acrescentando que, no cenário considerado pela empresa, “as coisas estarão mais controladas até maio”.

Os funcionários administrativos estão trabalhando em sistema de home office, mas as obras prosseguem normalmente. “Há um acordo entre o setor, sindicatos, prefeituras e Estados para que haja controle nas obras, mas sem interrompê-las”, diz Mitre. Segundo o executivo, o impacto de mais curto prazo do coronavírus para o setor será a desaceleração das altas dos preços dos imóveis.

Na sua oferta inicial de ações (IPO), a incorporadora captou quase R$ 1 bilhão para investir no desenvolvimento do banco de terrenos atual e para continuar a comprar áreas na cidade de São Paulo. No fim de 2019, o estoque de terrenos da Mitre correspondia ao Valor Geral de Vendas (VGV) potencial de R$ 4,2 bilhões.

De acordo com Mitre, o mercado de terrenos está menos disputado do que antes de o coronavírus chegar ao Brasil. “Um freio de arrumação era necessário para o setor. Já começávamos a ver, no mercado, empresas assumindo premissas de ganhos de preço bastante elevados para tornar viáveis aquisições caras”, diz.

O presidente da Mitre ressalta que não houve mudanças nos fundamentos do setor imobiliário de oferta e demanda, assim como na condição de taxas baixas de juros. “O efeito do coronavírus será grande neste trimestre e no segundo na atividade econômica, mas se trata de fenômeno passageiro”, afirma. Segundo o executivo, a Mitre tem conseguido descontos em grandes contratos de suprimentos e mão de obra.

Pandemia muda conceitos da economia real, diz BlackRock

“Em 44 anos no mundo das finanças, nunca vivi uma experiência parecida.” Com essas palavras, o presidente do conselho e CEO da BlackRock, Larry Fink, definiu os efeitos do coronavírus em sua carta anual a acionistas. “A pandemia tem impactado os mercados financeiros com rapidez e ferocidade normalmente vistas apenas em uma crise financeira clássica”, disse o executivo-chefe da maior gestora do mundo, com mais de US$ 7 trilhões sob administração.

Segundo Fink, “em questão de semanas os índices acionários globais caíram das máximas para um ‘bear market’ [mercado em tendência de baixa]”. O CEO da BlackRock lembra ainda que, pela primeira vez, desde 1997, ocorreu na bolsa de Nova York acionamentos seguidos do “circuit breaker”, um dispositivo de pausa nas negociações das bolsas para interromper a espiral de volatilidade. “Essas condições foram exacerbadas pelos baixos níveis recordes de liquidez na negociação de Treasuries, que serve como um referencial para precificar risco nos mercados”, diz Fink.

Conforme o CEO da gestora, além da pressão sobre os mercados financeiros no curto prazo, os impactos da crise vão provocar mudanças em vários conceitos sobre a economia global. Fink cita a “admiração pela estratégia ‘just in time’ de cadeias de fornecedores e nossa dependência das viagens aéreas internacionais”. O executivo acredita que a pandemia vai levar as pessoas a “repensar fundamentalmente a maneira como trabalhamos, compramos, viajamos e nos reunimos”.

Na carta, Fink considera mudanças ainda mais profundas. “Quando sairmos da crise, o mundo será diferente.” Para o gestor, a psicologia dos investidores vai mudar, os negócios vão mudar e o consumo vai mudar. Fink ressalta sua defesa da importância da visão de longo prazo. “Acredito que o pensamento de longo prazo nunca foi tão essencial como hoje. Companhias e investidores com um forte senso de propósito e uma abordagem de longo prazo estarão aptos a navegar por esta crise e suas consequências.”

O mundo vai vencer a crise e a economia vai se recuperar, afirma. “E para os investidores que mantêm seus olhos não no chão instável sob seus pés, mas no horizonte à frente, há tremendas oportunidades nos mercados, atualmente”.

Fink aponta os ETFs como uma ferramenta importante para o ajuste dos portfólios. “Na medida em que os mercados experimentaram um estresse significativo devido às preocupações sobre a disseminação do vírus, os volumes de negociação de ETFs atingiram recordes, incluindo US$ 1,4 trilhão apenas nos EUA, ou 37% de toda a atividade do mercado americano de renda variável, comparado a 27% na média de 2019.”

Fink abordou aspectos da indústria de investimentos. “No futuro, as gestoras terão de ser tão boas no uso da tecnologia quanto uma empresa de tecnologia.” Para ele, o futuro da indústria está no modelo de plataforma. Ele diz enxergar o serviço direto de distribuição de produtos “eliminando as comissões de corretagem nos EUA”. Os modelos de distribuição nos Estados Unidos e Europa têm mudado de remunerações por meio de comissões para modelos de taxa baseada em aconselhamento. “Isso muda fundamentalmente o horizonte de distribuição nos anos a seguir”, diz.

Para Fink, “isso é bom para as pessoas, porque torna mais fácil para elas investir e se beneficiar com o crescimento do mercado de capitais”. O gestor avalia ser necessária a implementação de tecnologias que ajudem na construção de portfólios e administração do risco em escala.

Even reverte prejuízo e lucra R$ 30,6 milhões no 4º trimestre

A Even Construtora e Incorporadora reverteu o prejuízo líquido de R$ 92,3 milhões, registrado no quarto trimestre de 2018, e teve lucro líquido de R$ 30,6 milhões de outubro a dezembro do ano passado. Na comparação dos dois intervalos, a receita líquida da incorporadora cresceu 21,6%, para R$ 479,6 milhões.

A margem bruta passou de 9,9%, no quarto trimestre de 2018, para 23,8% no último trimestre de 2019.

A Even gerou caixa de R$ 95,4 milhões de outubro a dezembro. A companhia informou que tem expectativa de expressiva geração de caixa com o aumento da velocidade de venda de seu estoque.

Na mensagem da administração que acompanha o balanço, a Even disse estar otimista em relação ao ano de 2020, sem fazer referências aos impactos na economia e no setor da disseminação do coronavírus.

Confiança Empresarial cai ao menor nível desde setembro de 2017, aponta FGV

O Índice de Confiança Empresarial (ICE), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), caiu 6,5 pontos em março, para 89,5 pontos, menor nível desde setembro de 2017 (88,5 pontos).

Com o resultado, a média do primeiro trimestre de 2020 terminou 1,1 ponto abaixo da média do trimestre anterior.

Em médias móveis trimestrais, o índice caiu 2,2 pontos e inverteu a tendência ascendente iniciada em agosto do ano passado.

O índice que retrata a situação corrente dos negócios (ISA-E) recuou 0,8 ponto em março, para 91,7 pontos. O Índice de Expectativas (IE-E) cedeu 14,9 pontos, a maior queda desde outubro de 2008, passando de 102,6 pontos, zona de neutralidade, para 87,7 pontos, zona de pessimismo. Além disso, neste mês, o IE-E fechou abaixo do ISA-E, algo que não acontecia desde setembro de 2015.

A confiança de todos os setores integrantes do ICE recuou em março. As maiores quedas ocorreram nos setores de Serviços e Comércio, com recuos de 11,6 e 11,7 pontos, respectivamente, seguidos da Indústria e Construção, com variações negativas de 3,9 e 2,0 pontos.

Todos os setores foram influenciados principalmente pela deterioração das expectativas, com destaque às do Comércio, que despencaram 24,3 pontos. Em médias móveis trimestrais, todos os setores também recuaram no mês.

Difusão

A confiança recuou em 40 dos 49 segmentos que integram o ICE (82% do total), um número bem superior aos 21 do mês anterior (43%).

A disseminação de alta dos segmentos se mostrou desanimadora nos quatro setores, com destaque para o Comércio e o setor de Serviços, em que a alta da confiança não ocorreu em nenhum segmento.

“A pandemia de coronavírus impactou significativamente a confiança empresarial em março, levando o ICE à maior queda desde a recessão de 2008-09. Houve piora expressiva das expectativas em todos os setores, especialmente no Comércio e em Serviços, enquanto a percepção sobre a situação corrente piorou relativamente pouco. Ainda assim, segmentos que vinha evoluindo favoravelmente no ano, como a Indústria e a Construção, acusaram o baque e sinalizam redução do nível de atividade no mês. Enquanto persistirem os impactos da pandemia no país nos próximos meses, o cenário de confiança em queda deve se manter”, disse Rodolpho Guedon Tobler, economista da FGV, em comentário no relatório.

Foram coletadas informações de 3.981 empresas entre os dias 2 e 25 de março. A próxima divulgação do ICE ocorrerá no dia 30 de abril.

Coronavírus: Bolsonaro tira protagonismo de Mandetta, mas gabinete de crise deve seguir orientações da Saúde

A mudança no governo sobre a crise do coronavírus com a centralização das atividades no Palácio do Planalto, sobre a coordenação do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, não deve implicar em uma guinada radical. A ideia é que o gabinete de crise siga as orientações técnicas do Ministério da Saúde, de Luiz Henrique Mandetta.

No Planalto, a avaliação é de que além do protagonismo de Mandetta, que incomodou Bolsonaro, a medida se justifica porque a pasta da Saúde não estava conseguindo sozinha dar vazão a medidas para tentar conter o avanço da pandemia no país.

A mudança, segundo auxiliares do presidente, tem como objetivo dar mais agilidade e fluxo às demandas que chegam ao governo. A ideia é que o gabinete de crise concentre os dados sobre as necessidades dos Estados — como, por exemplo, quais são as localidades que mais precisam de equipamentos de proteção aos profissionais da saúde.

O próprio Mandetta mencionou na entrevista dificuldades logísticas, por exemplo, que atrapalhavam a entrega de materiais, como ter apelado à entrega por caminhão para mandar uma carga de São Paulo para o Pará, o que demora até seis dias. A expectativa é que o gabinete de Braga Netto reúna todas as informações necessárias para conseguir coordenar a logística operacional dos ministérios que estão diretamente envolvidos no controle da crise epidemiológica.

Aliados do ministro da Saúde dizem que ele já estava preparado para uma reação mais dura de Bolsonaro. Depois da dura reunião no sábado, no Palácio da Alvorada, Mandetta afirmou a pessoas próximas que faria de tudo para evitar uma polarização com o presidente. O ministro passou a dizer tudo que menos queria, agora, era que a tensão política contaminasse a condução técnica da pasta. Por isso, afirmou que, para evitar atritos com o presidente, estaria disposto a sair do holofote.

A única preocupação de Mandetta, dizem aliados, era ter a garantia de que poderia continuar defendendo suas posições  — mesmo que elas não fossem respaldadas por Bolsonaro. A avaliação no governo é a de que o presidente não deixará de dizer o que pensa, mas os trabalhos serão pautados por orientações da ciência e da medicina. Assim, apesar do desconforto com a situação, Mandetta seguirá na mesma toada. Um aliado resumiu o quadro atual: o ministro não “esperneou” ao ser tutelado. Sua reação foi no tom de “me deixem quieto fazendo meu trabalho e vocês ficam com os holofotes”.