LEI Nº 8953 DE 30 DE JULHO DE 2020

REGULAMENTA, EM ÂMBITO ESTADUAL, O ART. 3º, § 1º, III, DA LEI FEDERAL Nº 13.874, DE 20 DE SETEMBRO DE 2019 – LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA, PARA CLASSIFICAR ATIVIDADES DE BAIXO RISCO.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faço saber que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º – Esta Lei regulamenta, em âmbito estadual, o art. 3º, § 1º, III, da Lei Federal nº 13.874, de 20 de setembro de 2019 – Lei da Liberdade Econômica.

Art. 2º – É direito de toda pessoa, natural ou jurídica, exercer as atividades elencadas no Anexo Único desta lei, sem a necessidade de qualquer ato público de liberação.

§ 1º – São atos públicos de liberação aqueles estabelecidos no § 6º do art. 1º da Lei Federal nº 13.874, de 2019.

§ 2º – O direito previsto no caput é oponível à Administração Pública estadual e municipal.

CAPÍTULO II

DISPOSIÇÕES ACERCA DO ROL DE ATIVIDADES DE BAIXO RISCO

Art. 3º – O rol contido no Anexo Único desta lei corresponde ao mínimo previsto, podendo a Administração Pública dispensar de atos públicos de liberação outras atividades, de ofício ou a requerimento.

§ 1º – Os atos públicos de liberação das atividades de baixo risco a que se refere o art. 1º, desta Lei fica restrito à competência do Estado do Rio de Janeiro para expedi-los.

§ 2º – O disposto no caput do art. 3º, desta Lei não se aplica aos empreendimentos e às atividades utilizadoras de recursos ambientais, potencial ou efetivamente causadores de significativo impacto ambiental, sujeitos ao licenciamento ambiental de competência do Estado, os quais continuam submetidos à legislação ambiental estadual em vigor.

Art. 4º – Os municípios podem elaborar legislação própria de classificação de atividades de baixo risco, observados, como parâmetros mínimos, aqueles definidos na Lei Federal nº 13.874/2019 e na Resolução nº 51/2019 do Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios – CGSIM – e o disposto na presente Lei.

Art. 5º – Havendo ato do Poder Executivo federal ou lei municipal sobre a classificação de atividades de baixo risco, estes serão complementares ao rol do Anexo Único.

CAPÍTULO III

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 6º – O Poder Executivo notificará o Ministério da Economia acerca da existência desta lei em até trinta dias após sua entrada em vigor, em atendimento ao disposto no inciso III do § 1º do art. 3º da Lei Federal nº 13.874, de 2019.

Art. 7º – Esta Lei entra em vigor a partir da data de sua publicação.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2020

WILSON WITZEL Governador

Confira o anexo (publicado em 3 pgs). clique aquiclique aqui2cliqueaqui3

Potencial para média renda segue represado

Com retorno estratégico à média renda, a Ezetec figurou em 6.º lugar no ranking das Construtoras desta edição do Top Imobiliário, com 11 lançamentos que somaram valor geral de vendas (VGV) de R$ 1,95 bilhão, segundo a Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp). A empresa também aparece na 8.ª colocação no ranking das Incorporadoras, com VGVL de R$ 1,53 bilhão.

Na divulgação de resultados do 4.º trimestre de 2019, a empresa registrou que os lançamentos Vertiz Tatuapé, Vértiz Vila Mascote, Vivid Perdizes e Artis Jardim Prudência atingiram uma velocidade média de 42% do projeto vendido no primeiro mês e 71% no primeiro semestre.

Segundo o documento, a demanda potencial da média renda segue represada desde os lançamentos de 2014 e passa primeiro pelas regiões “intermediárias” da cidade, menos fragilizadas pelo desemprego, como nos locais dos exemplos citados acima.

Com apartamentos de três e quatro dormitórios, o EZ Parque da Cidade foi o carro-chefe entre cinco lançamentos que, conjuntamente, somaram um VGV de R$ 934 milhões no quarto trimestre de 2019, o segundo maior resultado da série histórica da empresa.

Um dos motivos para a retomada do mercado de média renda em 2019, segundo o documento, foram as sucessivas quedas da taxa básica de juros, que facilitaram as condições de aquisição do cliente, além de fazer o investidor de alta renda migrar da renda fixa para o mercado imobiliário.

Panorama. A Ezetec tinha um panorama positivo para lançamentos em 2020, com guidance de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões em VGV. Porém, com a chegada da pandemia do coronavírus, essa orientação deve ser revista após a fase aguda da crise se dissipar.

Na prévia da Operacional de Resultados do 2.º trimestre de 2020, a empresa apontou que os efeitos da pandemia foram sentidos em seu ponto mais crítico no mês de abril, com vendas brutas de R$ 21 milhões. Após uma curva de aprendizado de como formatar o processo de vendas, em maio foram gerados R$32 milhões no mês, chegando a R$ 94 milhões em junho.

No segundo trimestre de 2020, a companhia não lançou novos empreendimentos, mas, em junho, fez o relançamento do Z. Ibirapuera de forma inteiramente digital, por meio de lives em plataformas de streaming. De acordo com o documento, as lives de empreendimentos específicos, foram as principais responsáveis pelas vendas do trimestre.

Tegra prevê mudanças nas áreas internas

Premiada em duas categorias – 5.º lugar em Incorporadoras e 7.º em Construtoras –, a Tegra Incorporadora lançou 15 empreendimentos em 2019, com 2.457 unidades e uma área construída de 266 mil metros quadrados, segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).

Com torre única e apartamentos que variam de 157 m² a coberturas duplex de 277 m², o Ayla Moema teve 100% das unidades comercializadas, destaca Thiago Castro, diretor executivo de Negócios da Tegra Incorporadora. Um dos atrativos do empreendimento, segundo ele, é um espaço de lazer integrado e elevado no oitavo andar, com vista panorâmica do bairro. O valor do m² é de R$ 15 mil.

A empresa também chama a atenção para outro lançamento, o Brooklin Bricks. Com preço de R$ 11 mil por m², é um residencial com torre única e duas opções de planta: de 69 m² e 103 m², além de unidades garden e duplex, que variam de 145 m² a 206 m².

Com espaço fitness e piscina com solarium, o empreendimento conta com delivery center, um espaço criado para que os moradores recebam as compras com segurança.

“As adaptações no dia a dia mostraram que podemos reinventar algumas áreas comuns. Por exemplo, com o crescimento do e-commerce, o delivery space, espaço que conta com toda a infraestrutura para recebimento de compras e serviços dos moradores, ganhou destaque nos condomínios e, certamente, será ampliado e aperfeiçoado nos próximos lançamentos”, diz Castro.

Outro projeto, o DSG Itaim tem preço de R $19 mil om ², espaço coworki ng epocket park para crianças. São estúdios e unidades de um dormitório, cujas metragens variam de 27 m² a 44 m².

Tendências. Com as mudanças de rotina causadas pela pandemia da covid-19, a incorporadora prevê mudanças nos projetos. “O principal impacto poderá ser a destinação de uma área do imóvel para o trabalho remoto e a adaptação dos quartos dos filhos para facilitar o estudo em casa”, diz.

Segundo Castro, a procura por áreas de convivência dentro dos apartamentos, como as varandas gourmets, já era uma tendência antes mesmo da pandemia. “O momento proporcionado pela necessidade de maior isolamento social trouxe um olhar mais atencioso para dentro do apartamento e despertou a necessidade de otimizar espaços internos”, afirma.

“Apesar disso, a demanda por áreas comuns existe e continuará existindo, pois representam mais segurança do que espaços como clubes e praças, que são frequentados por um número maior de pessoas em ambiente menos controlados”, acrescenta.

Sobre o impacto causado pela pandemia, Castro diz que a retomada já foi iniciada, ainda que com algumas restrições. “A redução dos lançamentos veio muito mais pelas restrições impostas pela quarentena. Não faria sentido investir em um lançamento com plantões de venda fechados e os clientes impossibilitados de saírem de suas casas. Nós voltaremos a lançar em breve”, diz.

Segundo ele, as entregas previstas foram feitas no prazo, graças à realização virtual das assembleias-gerais de instalação.

Para os jovens, localização do imóvel é prioridade

A pandemia de covid-19 mudou a relação entre as pessoas e seus lares. Na reclusão, a casa passou a abrigar todas as atividades antes feitas externamente, como exercícios, compras e trabalho. Em consequência, aumentou o interesse por apartamentos de maior metragem e mais afastados do centro. Mas lógica não é unanimidade em todas as todas as faixas etárias.

Ana Amoroso, de 26 anos, diz que vai continuar dando prioridade à localização na busca pelo lugar ideal: um apartamento de um quarto. “Hoje, moro muito perto do trabalho e não queria perder isso. Mas é um bairro caro, então busco algo também próximo ao metrô”, diz.

De 2010 a 2019, a área útil média de apartamentos de um dormitório passou de 47 m² para apenas 30 m² em São Paulo.

O caso de Ana não é isolado. Um levantamento realizado pelo Grupo Zap captou essa postura da chamada geração Z (nascidos entre o começo dos anos 1990 até 2010).

Para 48% dos respondentes nessa faixa etária é importante que o futuro imóvel seja próximo do local de trabalho. O questionário, aplicado pelo portal entre 29 de maio e 7 de junho, obteve 3.469 respostas e já reflete os efeitos da pandemia.

O fato de estar trabalhando remotamente durante a quarentena não seduziu a produtora de vídeo Gabriella Bueno, 21 anos, a morar longe do trabalho em um lugar mais amplo. Ela não abre mão da praticidade de viver perto do escritório. “Talvez eu tenha de voltar a trabalhar presencialmente, então, já estou procurando”, diz.

No entanto, a Newcore, aplicativo de intermediação entre potenciais compradores e corretores autônomos, aponta que moradias com mais de 150 m² e afastadas de regiões centrais ganharam evidência. “A quarentena recalibrou os parâmetros de busca, que agora priorizam espaço e mais conforto em detrimento de localização em áreas próximas ao trabalho”, opina Luiz Moraes, CEO da Newcore.

Para o economista Fabio Gallo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ainda é cedo para falar em tendências. “É um momento muito pontual, então não dá para garantir que, quando a pandemia passar, é isso que vai acontecer.”

Além disso, o preço também contribui para que esse cenário não se aplique aos jovens. Ainda no início da carreira, há limitação financeira que os impede de arcar com os custos de uma casa ou um apartamento espaçoso.

Nesse sentido, a locação, em detrimento da compra, também é mais favorável. Segundo o levantamento do Grupo Zap, 65% da população jovem tem maior interesse no aluguel. 

Ainda que não leve à busca por outros modelos de imóveis, a quarentena teve a sua influência no lifestyle juvenil. Para Ana, apenas intensificou a vontade de conseguir a casa própria. “Eu morava com meus pais e avós e, por causa da pandemia, está todo mundo em casa. Mesmo em home office, tem dias que preciso ir ao escritório. Para não prejudicá-los, estou ficando com outros familiares”, conta.

Já o designer gráfico Gabriel Alves, 25 anos, foi para um novo apartamento com a namorada em meio à pandemia. Ele, que já trabalhava em casa, teve de ajustar o ambiente de 60 m² para que os dois pudessem dividir o espaço confortavelmente. “Compramos uma mesa grande e transformamos o espaço, que antes seria voltado para o meu trabalho, em um superescritório”, diz. “Nesses momentos, parece que a gente extrai o máximo da nossa casa.”

Valor do lançamento mais caro chega a R$ 33 mil o m2

A curva de preços dos 39.245 apartamentos lançados pelas dez empresas classificadas no ranking final das construtoras vai de R$ 150 mil até R$ 9,5 milhões na cidade de São Paulo. Segundo a Embraesp, parceira do Estadão no Top Imobiliário, o mais caro é o Fasano Residências, lançado em setembro.

A Even é a responsável pela incorporação e construção do empreendimento, com data de entrega prevista para novembro de 2022. Localizado no Itaim, as unidades do Fasano Residências têm 288 metros quadrados preço médio de R$ 33 mil por m². As vendas estão a cargo da Evenmob, também premiada na edição deste ano.

Na outra ponta do mercado, está o edifício Hortência, lançado pela Tenda, em dezembro, no programa Minha Casa Minha Vida. A torre de 18 andares tem 456 apartamentos, com 2 dormitórios, de 44 m² (cerca R$ 3,4 mil o m²), sem garagem.

A comercialização das unidades é feita pela própria Tenda. Com data de entrega para setembro de 2022, o Hortência fica no Campo Limpo.

Com uma distância de aproximadamente 18 km entre os dois edifícios, que representam os extremos de preços entre os lançamentos residenciais de 2019, ambos ficam na zona sul de São Paulo.

Even lança mais de mil unidades em SP

Há 40 anos no mercado, e operações em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, a Even participou de dez lançamentos no ano passado em São Paulo – o que corresponde a 1.107 unidades, 252 mil metros quadrados de área construída e a um valor global de vendas (VGV) de R$ 2,34 bilhões.

Essa performance levou a empresa ocupar a 6.ª colocação em duas categorias: Incorporadoras e Vendedoras e o 9.º lugar em Construtoras, de acordo com o levantamento da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio ( Embraesp).

A Even protagonizou uma virada no mercado imobiliário no ano passado. Saiu de um prejuízo de R$ 161 milhões, em 2018, para um lucro líquido de R$ 119 milhões, em 2019. A empresa também registrou a menor dívida líquida dos últimos cinco anos e alcançou R$ 276 milhões em geração de caixa.

Estratégia. Para analistas de mercado, a estratégia de operar com duas marcas, a Open, de empreendimentos residenciais com unidades de 45 m2, em média, e a marca Even, para empreendimentos de médio e alto padrão, ajudou a empresa.

Isso fez com que ela ficasse bem posicionada num setor em que as variáveis macroeconômicas são detidamente avaliadas pelo potencial cliente, antes da concretização da uma compra, e pelo mercado.

No entanto, apesar dos resultados positivos do ano passado, a Even não ficou imune aos efeitos da pandemia do coronavírus, que travou a economia em todo o mundo.

A empresa fechou o primeiro trimestre deste ano com queda de 27% no lucro líquido, de R$ 36,5 milhões, em relação a igual período de 2019, quando o lucro somou R$ 50 milhões.

Entre janeiro e março deste ano, foram lançados dois empreendimentos: um no Rio Grande do Sul, e outro em São Paulo, que totalizaram R$ 95 milhões em VGV.

Para se ter ideia do tamanho da retração que esse valor representa, no primeiro trimestre de 2019, seus lançamentos totalizaram R$ 785 milhões.

Segundo a empresa, as vendas foram afetadas com mais intensidade em março, quando começaram as medidas de isolamento social.

Pandemia já muda projetos de incorporadoras

Os efeitos da pandemia do novo coronavírus estão levando incorporadoras a repensar seus projetos. A Trisul já está fazendo adaptações para se ajustar às mudanças de hábitos e necessidades dos compradores. A configuração em apartamentos com três dormitórios e uma suíte, por exemplo, deve mudar para três suítes. E o banheiro de empregada volta com força total, segundo o presidente executivo da Trisul, Jorge Cury.

Uma novidade importante em tempos de pandemia é um espaço planejado para retirar os sapatos antes de entrar na casa. O ambiente para escritório, antes opcional, agora se torna obrigatório, em consequência da disseminação do home office. “Certamente, agora tem um grande peso na escolha de um imóvel”, afirma o empresário.

Nos planos da empresa, 10.ª colocada no ranking de Incorporadoras e Construtoras do Top Imobiliário, na área comum haverá vestiários para que os empregados do condomínio possam tomar banho e trocar de roupas, antes de iniciar o trabalho. “E ainda criamos áreas específicas para receber encomendas, pois o delivery deixou de ser só de alimentação e passou a atender a uma gama extensa e variada de produtos”, diz. 

Popular. A Cury Construtora e Incorporadora, que tem 80% de seus empreendimentos voltados ao público do programa Minha Casa Minha Vida, planeja novas configurações nas áreas comuns – até por causa do espaço reduzido das áreas privativas dos apartamentos.

De acordo com Leonardo Mesquita, vice-presidente comercial da construtora e incorporadora, onde antes havia salões de festa, haverá pequenos estúdios com infraestrutura para ser usado como home office depois da pandemia.

“Adotamos uma configuração que permite privacidade e que tem boa infraestrutura de internet para que nossos clientes tenham um local apropriado para reuniões de trabalho”, descreve Mesquita.

Outra novidade que a empresa pretende implementar em seus empreendimentos é a instalação de minimercados com autoatendimento para que os moradores não precisem se deslocar para fazer suas compras. “Já estamos em contato com algumas redes de supermercados para viabilizar o projeto”, diz o vice-presidente da Cury, 8.ª colocada no ranking Construtoras e 9.ª no Incorporadoras.

Em 2019, a Cury lançou nove empreendimentos com 3.390 unidades em 244 mil metros quadrados de área construída e com R$ 645,2 milhões em valor g l obal de v e ndas l í qui do (VGVL), de acordo com os dados da Embraesp.

Recuperação. Em relação ao impacto da pandemia nos negócios, Trisul e Cury dizem que os meses de março e abril foram preocupantes, com a paralisação quase total dos negócios. Mas contam que se surpreenderam com a reação das vendas nos meses de maio e junho.

Na contabilidade da Trisul, as vendas líquidas do segundo trimestre totalizaram R$ 174 milhões, alta de 30% ante igual período de 2019, segundo Cury. Ele acredita que o pior já passou para os empreendimentos residenciais. “Diria que somos a versão em concreto e aço do agronegócio, que é o único setor no Brasil que desconhece a crise”, afirma o presidente executivo da Trisul.

“Estamos otimistas e o nosso guidance continua valendo para os lançamentos e vendas programados para este ano, entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão”, afirma Cury. Segundo ele, a taxa básica de juros da economia brasileira, que está no menor patamar da história, fez com que muitos investidores migrassem do mercado financeiro para o imobiliário.

Para Cury, da Trisul, o fato de a empresa ter um bom estoque de terrenos em áreas nobres, adquiridos na baixa de preços de 2014 a 2017, e oferecer imóveis de acordo com o que o cliente demanda contribuiu para que a Trisul se saísse bem numa conjuntura econômica adversa.

No caso da Cury, Mesquita afirma que a comercialização subiu cerca de 10%, na comparação com os mesmos meses do ano passado. Ele acredita que o primeiro efeito do pânico trazido pela pandemia foi alterar a lista de prioridades do consumidor. “Em geral, nosso cliente divide a casa com outros familiares, pais, sogros. São trabalhadores que passavam o dia fora e, de uma hora para a outra, se viram trancados em uma casa com todos os inconvenientes que essa situação traz.”

Segundo Mesquita, apesar do medo do desemprego, o cliente da Cury já está acostumado a viver na pressão de ter de desembolsar o valor do aluguel e quem entra no programa Minha Casa Minha Vida, só começa a pagar as parcelas do financiamento após a entrega das chaves.

Digital. Se antes da chegada da pandemia o comprador de imóveis ainda relutava em lançar mão da tecnologia para viabilizar a transação, ou mesmo para conhecer o produto, agora 90% das visitas aos empreendimentos são virtuais e o fechamento dos negócios é feito de forma digital. “Antes, o cliente queria ir ao escritório e assinar folha por folha dos contratos”, diz Mesquita, da Cury.

Segundo ele, nos últimos quatro anos, a empresa investiu algo próximo a R$ 5 milhões em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. “O que mudou é que tivemos de acelerar o passo”, acrescenta.

A Trisul informou que também intensificou os investimentos que já vinha fazendo em tecnologia.

Estratégia tem sido construir torres mais altas

A Tenda subiu de patamar, lançando as primeiras torres acima de dez andares no ano passado. Com projetos mais verticalizados, 2019 foi um ano para aumentar sua presença em São Paulo. Até agora são cinco edifícios de 18 andares, os mais altos da construtora.

No primeiro semestre do ano, dois lançamentos são dessa safra, afirma o diretor financeiro da Tenda, Renan Sanches, referindo-se ao Mirari, com 304 apartamento, no Campo Limpo, e o Viva Marajoara, com 456 unidades, em Interlagos, ambos na zona sul da capital.

Outros três, com 18 pavimentos, chegaram ao mercado em 2019: Verona, em Ermelino Matarazzo, Bela Marajoara, em Interlagos, e Hortência, no Campo Limpo, cada um com 456 habitações.

É uma tendência para São Paulo, diz Sanches. “Quanto mais altos os prédios, consigo viabilizar em terrenos menores.” O diretor conta que a cidade foi a base pioneira para a empresa desenvolver projetos com essa característica.

No total, em 2019, a Tenda lançou 18 empreendimentos – ante 11 no ano anterior – com valor geral de venda (VGV) de R$ 920 milhões na Grande São Paulo. A participação cresceu de 32% em 2018 para 36% do VGV dos lançamentos feitos no Brasil. Sanches vê oportunidades de crescer e ganhar share na região por conta do déficit habitacional.

Destinados ao programa Minha Casa Minha Vida, todos os produtos da Tenda dividem-se entre a faixa 1,5 (20% dos lançamentos), com renda familiar até R$ 2.600, e a faixa 2 (com 80% do total), com uma renda de até R$ 4 mil.

Portfólio. Com posição consolidada na construção de moradias para a baixa renda, a MRV investe para aumentar o volume de produtos de médio padrão. A linha Class, segundo o diretor comercial Sérgio Paulo Amaral dos Anjos, está logo acima do limite do MCMV (a faixa 3, até R$ 9 mil) e conta com financiamento do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que tem como fonte os recursos da poupança.

Expansão. A MRV vem expandindo seu portfólio, com uma plataforma habitacional para clientes com renda de R$ 2 mil a R$ 10 mil, em 162 cidades do Brasil, de acordo com Amaral.

É uma referência aos serviços para aquisição de apartamentos prontos ou na planta, à compra de terreno em loteamentos da Urba, ou à negociação de imóveis por meio da startup Luggo, que desenvolve produtos para locação residencial e posterior comercialização.

Além da Class, Amaral cita mais uma adição ao portfólio: a linha Essencial, voltada a famílias com renda entre 2 e 2,8 salários mínimos.

A faixa 1,5 do Minha Casa possui uma grande base de clientes, que, de acordo com a direção da construtora, estavam ficando fora do jogo e vão ser atendidos pela linha Essencial.

Empresas batem recorde com venda de habitação popular

Com a produção voltada para o programa Minha Casa Minha Vida, duas construtoras, MRV Engenharia e Tenda, bateram recordes de vendas no primeiro semestre do ano, em plena crise da pandemia do coronavírus.

O alto volume de vendas confirma a resiliência do segmento de baixa renda, segundo o consenso das empresas, que investem na construção de moradias populares.

A Tenda anunciou seu melhor resultado trimestral, com R$ 689 milhões entre abril e junho. No mesmo período, após atingir a marca inédita de R$ 1,67 bilhão, a MRV cresceu 8% e superou R$ 1,8 bilhão, com 11,5 mil unidades vendidas no segundo trimestre.

“A MRV adotou medidas como descontos nos preços dos imóveis”, afirma o diretor comercial Sérgio Paulo Amaral dos Anjos. Na divulgação de resultados, a companhia reporta que, para fechar negócios, é preciso ter estratégia comercial mais agressiva.

Segundo Amaral, os recordes consecutivos são consequência de adequar processos e os canais digitais, que permitem fechar a compra remotamente.

“Sem sair de casa, o cliente escolhe a unidade, envia documentação, faz simulação e aprovação de crédito, negocia a proposta e assina o contrato digital”, afirma o executivo.

Ele diz que a casa ganhou mais importância durante o confinamento, mas reforça que o cenário com juros mais baixos e facilidades de financiamento é decisivo para o aumento das vendas tanto em São Paulo como em outras praças. “Em meio à pandemia, temos performance bastante satisfatória.”

Em 2019, o faturamento chegou a R$ 5,4 bilhões com 35 mil habitações comercializadas no Brasil. As vendas da MRV em São Paulo e Região Metropolitana, segundo Amaral, representam 13% do total.

A construtora fechou 2019 com o valor geral de vendas (VGV) de R$ 6,9 bilhões para os 41,6 mil imóveis lançados em 162 cidades. Na Grande São Paulo, segundo a Embraesp, foram 18 novos projetos, com 5.980 apartamentos e VGV lançado de R$ 1,16 bilhão.

Nesse lote, destacam-se mais cinco residenciais do Grand Reserva Paulista, maior complexo da MRV, com investimento de R$ 1 bilhão em 25 condomínios, com 7,3 mil apartamentos. “O preço da unidade gira em torno de R$ 225 mil”, diz Amaral, informando que 60% já foram entregues. “A última fase de lançamentos está prevista ainda para 2020.”

Neste ano, tanto no lançamento de 12 mil unidades como no VGV de R$ 2 bilhões, a MRV registrou queda de 30% em relação ao mesmo período de 2019. Com o alto nível de estoque, “optamos pela redução de lançamentos”, declara Amaral, ressalvando o objetivo de “intensificar significativamente” esse volume neste semestre.

Tenda. Com lojas fechadas, a Tenda bateu recorde no segundo trimestre com vendas de R$ 689 milhões. Isso atesta a resiliência da demanda por habitação popular, sinalizando a eficiência dos canais online, afirma o diretor financeiro, Renan Sanches.

Na prévia operacional, que anuncia seu melhor trimestre, a companhia reporta a política de descontos no pagamento da entrada dos imóveis. As vendas nacionais cresceram 25%, indo de R$ 980 milhões no primeiro semestre de 2019 para R$ 1,23 bilhão agora.

A Grande São Paulo respondeu pela parcela de 40% das vendas no Brasil, ancorada nos lançamentos, feitos entre outubro e dezembro. “Foi o trimestre em que a companhia mais lançou na sua história”, afirma Sanches. “Uma prateleira de produtos bem definidos, especialmente em São Paulo, permitiu super crescimento nas vendas.”

Assim, a participação subiu quatro pontos porcentuais. Em 2019, a Tenda havia registrado vendas de R$ 2,04 bilhões no País, das quais 36% na Grande São Paulo.

Quando começou a pandemia, segundo Sanches, não havia dúvida que o cliente de baixa renda continuava com urgência de adquirir a casa própria. “A dúvida era saber se ele ia comprar online”, conta.

A transformação digital trouxe inovações para clientes e vendedores com ferramentas para assinatura do contrato e envio da documentação por aplicativo. “É possível comprar tudo online”, diz ele, ao frisar que a necessidade fez tudo mudar rápido e chegar ate a venda de imóveis.

Como a maioria das empresas, a Tenda reduziu os lançamentos, que caíram de R$ 978 milhões, no primeiro semestre de 2019, para R$ 796 milhões, uma queda de 19%.

Neste ano, a pandemia trouxe dificuldade nos processos de aprovação em prefeituras e órgãos estaduais, diz o diretor. Melhorou no final de junho, segundo ele, mês em que a Tenda fez nove dos 18 lançamentos do ano. Sanches espera aumentar o volume de novos projetos até dezembro.

Venda de imóvel econômico se manteve na pandemia

O imóvel econômico recebeu destaque das empresas de intermediação. “No ano passado, o mercado cresceu muito no segmento econômico. Neste ano, continuamos a vender esse tipo de imóvel. Foi um produto que continuou vendendo mesmo durante a pandemia”, afirma a diretora executiva da Lopes, Mirela Parpinelle.

Na Lopes, segundo Mirela, esse tipo de imóvel respondeu por 20% das vendas. Na Abyara, foi 30% do faturamento, de acordo com seu presidente, Herbert Braz.

As duas empresas atuam nos segmentos que vão desde o Minha Casa Minha Vida ao alto padrão, enquanto a Fernandes Mera centra sua operação em médio e alto padrão.

 “O econômico é a mola. Porque é nessa faixa que está a maior base da pirâmide”, afirma Mirela. “Nos melhores anos do mercado vimos pessoas subindo para classe B e comprar um imóvel maior. Agora, há mais pessoas entrando na faixa Minha Casa Minha Vida”, diz.

Mudança. “Todos precisam morar, independentemente do poder aquisitivo. Então, a pessoa que comprava um médio-alto, com renda maior, agora diminui a metragem, mas não deixa de comprar”, acrescenta sobre o movimento de compra constatado durante a pandemia e o isolamento social.

Além dos econômicos, estúdios e apartamentos de um dormitório fora das faixas do MCMV foram destaque no ano passado, tanto para a Abyara quanto para a Fernandez Mera. São o tipo de imóveis preferidos pelos investidores, que retornaram com mais intensidade ao mercado imobiliário em 2019, em função da queda da Selic e da menor atratividade de investimentos financeiros.

Juros. Neste ano, os juros baixos se tornaram ainda mais preponderantes para o mercado imobiliário. “Estima-se que a queda de 1 ponto porcentual na taxa de juros proporcione a entrada de 3 milhões de pessoas no financiamento imobiliário”, diz Mirela.

No início de 2019, a taxa estava em 8,31% e já vinha em trajetória descendente. Agora está em torno de 7%, e deve contribuir para movimentar o setor.

A volta de ofertas de imóveis maiores, de três e quatro dormitórios, que havia escasseado a partir de 2014, também contribuiu para a melhoria nas vendas, segundo as imobiliárias.

“Havia demanda reprimida por imóveis de 90 m², 100 m² e 150 m²”, diz Mirela. Com o estoque consumido e os sinais de retomada, as incorporadoras voltaram a lançar produtos desse tipo.