Ação de Crivella na Linha Amarela é danosa para investimentos no país

Não satisfeito em romper unilateralmente o contrato de concessão do município com a Lamsa, empresa que administra a Linha Amarela, o prefeito Marcelo Crivella foi além — bem além. Na noite de domingo, funcionários da prefeitura, sem qualquer ordem judicial, derrubaram cancelas de pedágio — eles chegaram a usar uma retroescavadeira —, danificaram cabines, cortaram a energia e inutilizaram câmeras e sensores, liberando a passagem para os veículos.

A ação, sem precedentes, causou prejuízos ao patrimônio público, uma conta que será paga por todos os cariocas — a concessionária já anunciou que pedirá ressarcimento à prefeitura. Ontem a Lamsa obteve uma liminar restabelecendo a cobrança de pedágio, mas a destruição foi tamanha que, segundo a empresa, ela só deve ser retomada dentro de um mês. A Justiça, aliás, determinou multa de R$ 100 mil por dia em que a Lamsa ficar impedida de atuar. De novo, cariocas pagarão a conta.

A prefeitura alega que uma auditoria feita pelo município constatou prejuízo de R$ 1,6 bilhão no contrato com a Lamsa, valor que é contestado pela concessionária. Independentemente de quem está com a razão, chama a atenção o fato de a prefeitura, que é parte do contrato, atuar também como árbitro. Evidentemente, essa questão demanda uma regulação independente.

De qualquer forma, a ação descabida de Crivella representa uma quebra da ordem jurídica, um recuo civilizatório. O Brasil há tempos faz um esforço para reduzir a insegurança de contratos, fator importante para garantir investimentos privados para municípios, estados e o próprio país, todos de cofres vazios. No governo Fernando Henrique Cardoso foram criadas agências reguladoras justamente para mediar conflitos e criar regras mais claras para quem está disposto a investir no Brasil.

A agressão ao estado de direito ocorre num momento em que o Rio se aproxima de um novo ciclo de investimentos vindo do setor de óleo e gás. Rasgar contratos é desestimular futuros aportes em todos os setores. A repercussão do ato é péssima, no Brasil e no exterior — convém lembar que a Lamsa tem investidores estrangeiros.

A ação do prefeito é populista e eleitoreira. Sabe-se que motoristas não gostam de pagar pedágio. Mas também repudiam vias malconservadas, como ocorre em quase todo o Rio. Não é difícil imaginar como seria a Linha Amarela administrada pela prefeitura. Basta olhar para qualquer rua da cidade — a bem da verdade, a inépcia não ocorre apenas na conservação, mas em todos os setores da administração municipal.

Crivella age como político de uma República de Bananas, em que não há ordem constituída, o poder é do homem forte. Ele esquece que governa a segunda maior cidade do país.

Para marcar 300 dias de governo, Bolsonaro lança pacote de estímulo ao emprego para jovens e idosos

O governo pretende comemorar os 300 dias de mandato em uma solenidade no Palácio do Planalto na próxima segunda-feira, dia 4 de novembro, com o lançamento de um pacote de medidas para estimular o emprego entre jovens (entre 18 anos e 29 anos) e pessoas acima de 55 anos.

Para isso, a equipe econômica vai desonerar a folha de pagamento, zerando as contribuições para a Previdência Social, o Sistema S e salário-educação dessas faixas etárias. O FGTS deverá cair de 8% para 2%, segundo técnicos a par das discussões. Os benefícios deverão vigorar por dois anos e os empregadores não poderão se aproveitar da nova modalidade de contratação para substituir os funcionários atuais. 

Também será anunciado um programa de microcrédito, voltado para a população de baixa renda e desbancarizada (sem acesso às instituições financeiras).  A ideia é copiar o Crediamigo, ofertado pelo banco do Nordeste – que reúne vários empreendedores individuais ou reunidos em grupos solidários que atuam no setor informal e formal.  A abertura de conta é gratuita e o risco de calote é dividido entre os tomadores.

Na oportunidade, será lançado uma ação para reabilitar trabalhadores afastados do serviço por motivo de acidente ou doença. Os detalhes do pacote estão sendo finalizados pela equipe econômica. No caso do emprego, a ideia é instituir a nova modalidade de contratação  por medida provisória. 

Toffoli marca fim do julgamento sobre prisão em segunda instância para dia 7 de novembro

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli , agendou para o dia 7 de novembro a retomada do julgamento sobre prisões de condenados em segunda instância . Até agora, foram dados quatro votos pelas prisões antecipadas e três votos a favor do início do cumprindo da pena depois do trânsito em julgado — ou seja, quando forem analisados todos os recursos disponíveis à defesa. A tendência é empatar, com cinco votos de cada lado. O desempate caberá a Toffoli, último a se manifestar.

Segundo integrantes do STF, Toffoli tende a apresentar uma solução intermediária, em que as prisões seriam autorizadas no meio do caminho, logo depois do julgamento do recurso pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na proclamação do resultado, deve haver discussão entre os ministros, para se definir o veredito. O mais provável é que a tese da segunda instância, em vigor hoje, seja derrubada.

A data escolhida por Toffoli implica no adiamento de um julgamento que estava marcado para o dia 6: o processo sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Isso porque não haveria tempo de concluir o julgamento, sendo que a tese da segunda instância estava prevista para o dia seguinte.

A segunda instância invadiu a pauta da Corte como um rolo compressor. Estava marcado para o dia 16 o julgamento de um processo importante não só para muitos brasileiros, mas também para a União, os governos de estado e municípios. Seria discutida a obrigação do poder público de fornecer medicamentos de alto custo a quem não tem recursos suficientes. Neste mês, o processo completou 12 anos de tramitação na Corte.

No mesmo dia, seria julgado também um recurso sobre a obrigatoriedade do poder público de fornecer canabidiol para o tratamento de um menino que sofre de encefalopatia crônica, com risco de morte diária. Nenhum dos dois processos teve data remarcada ainda.

Toffoli precisava abrir espaço na pauta para a análise da tese da segunda instância, diante da pressão dos próprios colegas. Ao escolher um processo em detrimento de outros, ele também levou em conta que, no STF, a tendência é derrubar a regra atual, que permite prender um réu condenado em segunda instância. Seria uma forma de dar um recado à Lava-Jato. Alguns ministros da Corte consideram que houve excessos por parte dos investigadores de Curitiba.

Não foram suficientes as duas sessões plenárias desta semana para concluir o julgamento da segunda instância. Nesta semana, não haverá sessão. Toffoli costuma deixar uma semana por mês sem pauta, para que os ministros agilizem os trabalhos nos gabinetes. O presidente do tribunal poderia ter convocado sessões extras, mas preferiu adiar o julgamento para a primeira semana de novembro – o que adiou também o julgamento dos processos previamente agendados.

O processo sobre drogas estava agendado para ir ao plenário em junho. Depois, foi remarcado para novembro. Os adiamentos são uma tentativa de Toffoli de dar mais tempo para o Congresso Nacional discutir o assunto. A atitude atende aos anseios de boa parte dos parlamentares, que querem que o Congresso decida o assunto antes do Judiciário. No primeiro semestre, os parlamentares aprovaram mudanças na Lei de Drogas, mas manteve a criminalização do usuário.

Adiando o processo mais uma vez, Toffoli também ganha pontos com o Palácio do Planalto. Com uma bandeira conservadora nos costumes, o governo de Jair Bolsonaro não tem interesse em legalizar o porte de drogas para consumo – na contramão do que o STF tende a decidir.

Inflação da construção perde ritmo em outubro, diz FGV

A inflação da construção civil perdeu ritmo em outubro deste ano, segundo o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), divulgado, nesta segunda-feira (28), pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador registrou taxa de 0,12%, frente a 0,60% em setembro deste ano.

A mão de obra não registrou variação em outubro, enquanto a taxa de materiais, equipamentos e serviços variou 0,27%.   

Os produtos que ficaram mais caros no período foram dos tubos e conexões de PVC, condutores elétricos, tubos e conexões de ferros e aço, vergalhões e arames de aço ao carbono e tijolo/ telha de cerâmica. 

Em contrapartida, os itens que pesaram menos no bolso dos brasileiros foram cimento Portland comum, projetos, massa de concreto, placas de cerâmicas para revestimento e impermeabilizante. 

A inflação acumula alta de 3,84% de janeiro a outubro deste ano e de 4,23% nos últimos 12 meses. 

Confiança na Construção Civil sobe 0,4 ponto em outubro

O Índice de Confiança da Construção, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registrou alta de 0,4 ponto em outubro deste ano, na comparação com o mês anterior. Com a alta, que veio depois de um recuo de 0,5 ponto em setembro, o indicador atingiu 87,5 pontos em uma escala de zero a 200 pontos.

O resultado foi influenciado pelo Índice de Situação Atual, que mede a confiança do empresário da construção no momento atual e que avançou 1,3 ponto. O subíndice chegou a 78,9 pontos, o maior nível desde fevereiro de 2015 (81,4), puxado pela percepção sobre a situação atual da carteira de contratos.

Por outro lado, o Índice de Expectativas, que mede a confiança dos empresários da construção em relação ao futuro, caiu pelo segundo mês, ao recuar 0,5 ponto, para 96,5 pontos. O principal motivo foi a demanda prevista nos próximos três meses.

O Nível de Utilização da Capacidade do setor cresceu 0,7 ponto percentual, para 70,1%.

Segundo a pesquisadora da FGV Ana Maria Castelo, o resultado do índice de confiança mostra que há uma recuperação em curso, mas ainda não há segurança no empresário em relação a sua continuidade. “Vale destacar que entre os fatores assinalados como limitadores da melhoria dos negócios, a demanda insuficiente permanece como o de maior relevância para todos os segmentos setoriais. Ou seja, o cenário de baixo crescimento do investimento responde por parte importante dessa insegurança em relação à retomada”.

Falta de perícia pode prejudicar mercado imobiliário

Foi publicada a Resolução Nº 4.754, editada pelo Banco Central (BACEN), que permite as instituições financeiras a dispensa da contratação de um perito para fazer a avaliação do preço do imóvel e, em seu lugar, usar modelos estatísticos e programas de computador para definir o valor da garantia. Segundo a instituição, com a alteração da norma, o financiamento imobiliário e o empréstimo com imóvel residencial como garantia podem ficar mais baratos.

O que não foi mencionado, entretanto, é o quão prejudicial pode ser a ausência de um perito avaliador de imóveis e o quanto isso pode ser posteriormente caro para o consumidor. Um profissional que estuda para isso (por lei, só podem arquitetos e engenheiros) sabe exatamente os pontos que fazem aquele imóvel ser mais seguro e habitável. Não são só cálculos, estatísticas ou valor de compra e venda, mas sim a certeza de que ao se adquirir um imóvel, o comprador diminui ao máximo problemas de inundação, de estrutura, de incêndios. Lembrando que o banco é quem decidirá se dispensa o perito e não o tomador do empréstimo.

A presidente da Associação Brasileira de Avaliação e Perícia – ABAP, Karine Moreira, acredita que quem será mais lesado nessa situação é o comprador do imóvel. “Isso é um absurdo. Essa norma tira a possibilidade do consumidor de ter um engenheiro ou arquiteto fazendo uma vistoria séria, de qualidade, e conferimos para o FGTS a habitabilidade do imóvel.”, afirma.

Setor de petróleo volta a contratar e já se prevê criação de 400 mil vagas

Depois de seis anos, o emprego no setor de petróleo voltou a subir em 2019, puxado principalmente pelas atividades de apoio à exploração. Com a demanda gerada pelas últimos leilões, o setor espera a criação de até 400 mil novas vagas nos próximos dois anos e já fala em gargalos de mão de obra, diante da fuga de profissionais durante a crise.

Para os especialistas, no entanto, há um alerta nos negócios com petróleo, que interessam empresas locais e companhias globais, além de mobilizar estados e municípios que demandam os royalties.

A retomada ocorre no momento em que um vazamento de origem desconhecida contamina milhares de quilômetros da costa. O boom do pré-sal precisa ser acompanhado por medidas de prevenção e remediação, pois a atividade tende ser intensa nos próximos anos, o que e vai demandar atenção redobrada das autoridades (leia mais na pág. B8).

Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) compilados pela LCA Consultores, o saldo do emprego nas atividades de exploração e apoio à exploração de petróleo no país é positivo em 306 vagas até setembro.

Mantido o ritmo, 2019 será o primeiro ano desde 2012 com aumento dos empregos no setor —nesse meio tempo, a crise da Petrobras e a suspensão dos leilões de novas áreas desmobilizaram a indústria, levando a enxugamento de vagas em praticamente todos os elos da cadeia.

O economista da LCA Rodrigo Nishida pondera que a indústria de exploração de petróleo não é intensiva em mão de obra o suficiente para impactar os elevados índices de desemprego no país, mas tem potencial de gerar vagas em outras indústrias fornecedoras de máquinas e equipamentos.

Além disso, segundo estatística do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre o tema, paga salários sete vezes maiores do que a média nacional —em 2017, o rendimento médio no setor era de 21,3 salários mínimos.

Formado em manutenção industrial, Edmário Pio, 48, retrata a retomada do emprego na área. Ainda empregado de uma companhia de celulose, começou a se preparar em 2012 para entrar na indústria de petróleo, mas só conseguiu a vaga em maio deste ano.

“Queria muito vir para o mercado offshore (de exploração de petróleo no mar), mas infelizmente teve crise e as oportunidades foram fechadas”, conta Pio. Baiano, nascido próximo ao berço do petróleo brasileiro, ele é filho e irmão de petroleiros.

Hoje empregado em uma plataforma da norueguesa Equinor na Bacia de Campos, ele diz que teve um ganho de 50% no salário. Vive embarcado, em turnos de 14 dias longe da mulher e dos dois filhos, mas não vê problemas. “Como sempre quis isso, ainda estou meio deslumbrado.”

Segundo especialistas, a virada do emprego no setor reflete a entrada em operação de novas plataformas da Petrobras e a retomada dos leilões de áreas exploratórias nos últimos anos.

“Quem comprou áreas exploratórias a partir de 2017 já está contratando pesquisa sísmica [espécie de ultrassonografia do subsolo] e perfuração de poços”, diz o secretário executivo do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), Antônio Guimarães.

Estudo feito pelo IBP em parceria com a consultoria EY vê potencial para a geração de até 400 mil empregos diretos e indiretos no setor até 2022. A projeção não considera o megaleilão da cessão onerosa, agendado para o próximo dia 6, mas com impactos no mercado só em meados da próxima década.

Trata, porém, das previsões de investimentos no estoque atual de áreas. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), entre 2019 e 2022, 12 novas plataformas iniciam operação no país. Cada uma demanda serviços como perfuração de poços e transporte de pessoas e insumos, por exemplo.

Uma delas é da Equinor, que começa a instalar este ano a quarta plataforma do campo de Peregrino, onde Pio trabalha. Com início de operação previsto para o fim de 2020, a unidade ampliará a capacidade de produção dos atuais 94 mil para 110 mil barris por dia.

Privatizar BB é inevitável, diz presidente do banco

O avanço da tecnologia no setor bancário e os fenômenos das fintechs e do open banking (abertura de dados e serviços bancários a outras empresas) tornam inevitável a privatização do Banco do Brasil no futuro, admitiu ontem o presidente do BB, Rubem Novaes.

De acordo com o executivo, o controle do banco pelo Estado impõe amarras que já dificultarão a competição do BB nesse mercado “no horizonte de dois, três, quatro anos”. — É opinião minha, não é de governo, mas eu acho que, em algum momento, a privatização do Banco do Brasil será inevitável. Com as amarras que uma empresa pública tem, vai ser muito difícil o ajustamento, no horizonte de dois, três, quatro anos, a esse novo mundo de open banking e das fintechs. Fica muito difícil em uma instituição ligada a governos acompanhar esse ritmo. Competimos comum a espécie de bola de ferro na canela — afirmou Novaes em palestra na Associação Comercial do Rio.

—Por enquanto, o banco é extremamente eficiente. Mas isso terá que ser enfrentado no futuro. — complementou. Novaes disse nutrira expectativa de que essa também seja a opinião do governo e da classe política, já que a privatização do BB necessitaria de aprovação no Congresso. Mas admitiu que ,“hoje, a classe política não está preparada para dar esse passo.”

— As pessoas ainda acham que a presença do governo no mercado de crédito é importante e que o papel do BB na agricultura não possa ser substituído por bancos privados. Eu acho que isso não é verdade, porque todos os mecanismos de indução que você tem para o crédito rural você pode usar de maneira generalizada —afirmou. Segundo Novaes, o BB já está interessado em privatizar tudo o que não seja seu negócio principal. Ele contou que será assinada até 7 de novembro a parceria entre o suíço UBS e o BB na área de banco de investimento e corretora. A instituição estrangeira ficará com mais de 50% do capital. O BB também está em tratativas com uma “grande empresa de administração de ativos internacional” para fazer uma parceria semelhante na área de gestão de ativos, afirmou o presidente.

‘O PIOR JÁ PASSOU’

Novaes se disse otimista com o desempenho da economia, enxergando uma “mudança significativa de todos os indicadores”. Segundo ele, o Brasil “já está vendo a terra prometida”. —O pior já passou, porque os últimos meses são extremamente positivos, principalmente a recuperação do mercado imobiliário. É impressionante. O mercado ainda não se apercebeu da virada que a economia está dando —acrescentou.

Senado vota incentivo a MCMV; governo é contra

Incorporadoras e construtoras que desenvolvem projetos no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida e que tenham sido contratadas até 31 de dezembro de 2018 devem ver resolvido nesta semana um problema que se arrasta desde o início do ano. Está pronto para ser votado, no plenário do Senado, projeto que restabelece o regime especial de tributação (RET) às construtoras.

O governo está de acordo com a medida. Contudo, já avisou, através do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, que vetará a extensão do regime para os próximos anos, também proposto no projeto.

Aplicável às incorporações de unidades residenciais de interesse social de até R$ 100 mil, o RET beneficiou empresas com o recolhimento equivalente a 1% da receita mensal recebida a título de pagamento unificado do IRPJ, CSLL, Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins. Com o fim do programa, no fim do ano passado, as empresas voltaram ao regime comum, com elevação da carga tributária que onera os empreendimentos.

Segundo o autor do projeto, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), a mudança criou um problema adicional: empresas que fecharam contratos sob o regime antigo e estão executando as obras agora estão sendo tributadas sem o benefício. “É surreal o debate desse projeto. Quem fez contrato até 2018 contratou com 1% e a Receita Federal quer cobrar 4% agora. Quem assinou antes, precisa estar protegido até entregar a obra”, alega.

O projeto do deputado propôs a extensão do regime para os empreendimentos que já tinham sido registrados ou tiveram os contratos de construção assinados até o fim de 2018. O recolhimento unificado dos tributos perdurará até a extinção do contrato e, no caso de comercialização da unidade, até a quitação plena do imóvel.

Até este ponto, o governo está de acordo. Mas Ramos propôs — e a Câmara aprovou, mesmo com o governo Bolsonaro contra — extensão do regime, com novas regras de tributação especial aplicáveis a partir de 1 de janeiro de 2019. O fomento à participação das construtoras nos empreendimentos do MCMV passaria a ser perene para unidades de até R$ 124 mil. O percentual do pagamento subiria de 1% para 4% da receita mensal.

O governo não topou. O relator no Senado, senador Wellington Fagundes (PR-MT), apresentou emenda para que as novas regras só passem a valer em 2020. Nem assim o governo aceitou.

Para não perder todo o avanço da proposta até agora, foi então fechado um acordo: o projeto será aprovado como está, para que ocorra o quanto antes a normalização do benefício a quem está executando obras contratadas até 2018. Sem alterações, a proposta seguirá para a sanção.

Os envolvidos na negociação, no entanto, já estão avisados: Bolsonaro vai vetar a extensão do RET. Ao Valor, Ramos adiantou que, tão logo seja feito o veto, apresentará outro projeto para extensão do RET futuramente.

Vacância de escritórios de alto padrão em SP cai para 16,8%

O mercado paulistano de escritórios comerciais de alto padrão manteve ritmo forte no terceiro trimestre, com taxa de vacância em queda e pressão de preços em regiões nobres como Faria Lima e Jardins, onde há demanda e pouca oferta. Empresas do setor financeiro, de saúde, de coworking e startups têm se mostrado bastante ativas na contratação de áreas de grandes lajes corporativas.

Dados da Newmark Knight Frank apontam que houve absorção líquida — contratações menos devoluções de áreas — de 90.974 metros quadrados (incluindo Alphaville), de julho a setembro. Foi o maior patamar trimestral dos últimos dois anos, com expansão de mais de cinco vezes ante o segundo trimestre. A taxa de vacância ficou em 16,8%, bem abaixo dos 20,1% do período anterior.

Se forem consideradas apenas as regiões centralizadas da capital paulista, a absorção líquida chega a 92.400 metros quadrados, conforme a Newmark, com destaque para os Jardins (22.370 metros quadrados), a Berrini (15.911 metros quadrados) e a Faria Lima (10.149 metros quadrados).

Os números do trimestre refletem transações fechadas desde o começo do ano, mas só contabilizadas agora devido à ocupação dos espaços contratados. Segundo Mariana Hanania, gerente de pesquisa de mercado da Newmark, entre as principais movimentações do período estão a mudança da Prevent Senior para prédio nos Jardins e as expansões das áreas ocupadas por Google e BTG Pactual, no Pátio Victor Malzoni, na Faria Lima.

Justamente pela ocupação de áreas de edifícios com aluguel mais elevado do que a média, o preço pedido nos imóveis disponíveis teve queda no terceiro trimestre, de acordo com o diretor de transações da Newmark, Eduardo Cardinali. O valor médio pedido por metro quadrado ficou em R$ 81,12, considerando-se apenas as regiões principais de São Paulo, 4% abaixo do segundo trimestre.

“As indicações são de retomada do mercado”, diz André Cunha, responsável pela área de escritórios da Colliers International Brasil, ressaltando a pressão de valores na Faria Lima, região mais demandada, e a de maior absorção.

Pontualmente, há donos de escritórios do endereço comercial mais nobre de São Paulo pedindo R$ 200 por metro quadrado. Segundo fonte de mercado, no Pátio Malzoni, um proprietário pretende obter R$ 175 por metro quadrado, ante os R$ 120 propostos por espaços de qualidade equivalente, no mesmo edifício, três anos atrás.

“Na Faria Lima, os valores pedidos nos novos contratos e nas revisionais estão de 20% a 30% superiores aos anteriores”, diz a fonte.

Conforme o diretor de transações da JLL, Paulo Casoni, além da Faria Lima, há pressão nos preços pedidos nas novas locações e nas revisionais de contratos em regiões como Juscelino Kubitschek, Vila Olímpia e Paulista. Mas o valor médio de locação por metro quadrado ainda ficou estável, no trimestre, em R$ 88, segundo levantamento da consultoria.

Cunha, da Colliers, destaca, além da Faria Lima, as movimentações para a Chucri Zaidan e para a Barra Funda. Segundo Casoni, da JLL, entre as operações relevantes do trimestre estão as idas do Santander e da Ericsson para o edifício corporativo Time Jardim das Perdizes, que contribuíram para a queda da taxa de vacância da Barra Funda.

De acordo com a pesquisa da JLL, o volume de negócios de locação no mercado paulistano de escritórios comerciais dobrou, no trimestre. A absorção bruta cresceu 67,7%, para 86.905 metros quadrados, e a líquida aumentou 6,3%, para 24.384 metros quadrados. A vacância caiu 0,7 ponto percentual, ante o segundo trimestre, para 22,3%.

Segundo a empresa de pesquisa imobiliária corporativa Buildings, este foi o quinto trimestre consecutivo de crescimento da ocupação de escritórios na cidade de São Paulo. Nas estimativas da Building, a vacância dos edifícios classe A caiu de 15,9%, no segundo trimestre, para 13,6%. Na totalidade do mercado, a vacância passou de 16,1% para 14,6%, no terceiro trimestre, como consequência da absorção líquida de 157 mil metros quadrados.

Nos cálculos da Cushman & Wakefield, a absorção líquida do mercado paulistano, em setembro, foi a segunda melhor do ano, com 14,6 mil metros quadrados. A consultoria destaca a ocupação de 7 mil metros quadrados do edifício São Paulo Corporate Towers pela Microsoft. Segundo a Cushman, o preço médio por metro quadrado, na capital, foi de R$ 90,41, o maior desde outubro do ano passado.

No Rio de Janeiro, a taxa de vacância teve queda de 37,8% para 36,6%, de acordo com a Newmark, em decorrência do aumento de 3,37 vezes da absorção líquida, para 13.163 metros quadrados. “A retomada do mercado do Rio está ocorrendo de forma lenta. O maior interesse é pela região do Porto Maravilha”, diz a gerente de pesquisa de mercado da consultoria. O Porto Maravilha respondeu pela maior absorção líquida trimestral, de 4.398 metros quadrados. O preço médio pedido teve leve queda de R$ 83,93 para R$ 83,14.