‘A cultura da empresa se materializa no escritório’, diz presidente da JLL

Especializada em imóveis corporativos, a empresa JLL não vê o mercado de escritórios comerciais  enxugar após a pandemia. Fabio Maceira, presidente da consultoria no Brasil, vê um redesenho novo do escritório do futuro, com mais espaço e novas formas de se trabalhar. “A cultura da empresa se materializa no escritório. O home office vai ser relevante, mas não será o principal modelo. O principal modelo vai ser um  misto entre home office, escritório e  trabalho de outra estação.” O executivo participou hoje da série de entrevistas ao vivo “Economia na Quarentena”, do Estadão. 

O mercado de imóveis corporativos vai enxugar após a pandemia?

Não acredito que o mercado vá enxugar. Se for transitório, com  retomada rápida após a crise, não vai acontecer. Mas se o desemprego persistir, poderá ter um impacto. Tem  o fenômeno home office, que foi a solução encontrada para todos continuarem trabalhando neste período. Muita gente percebeu que é possível trabalhar de forma remota. As pessoas conseguem produzir de forma eficiente e isso leva a alguns questionamento de como vai ser o escritório do futuro. 

Qual era o cenário dos escritórios corporativos antes da pandemia?

O primeiro trimestre de 2020 foi melhor do que o mesmo período do ano passado. Tivemos uma absorção bruta aqui em São Paulo de 100 mil metros quadrados. A  líquida foi de 50 mil metros quadrados maior que  o primeiro trimestre do ano anterior. A vacância nas regiões primárias – como Faria Lima, Berrini e Paulista – era de 5% apenas. Ou seja, oferta baixa com boa demanda. Outras regiões, com o sul da Marginal Pinheiros, a disponibilidade era maior, em torno de 20%.De forma geral, na cidade como tudo, a vacância é de 13%, com pressão positiva.

Qual será o redesenho dos escritórios corporativos do futuro?

São dois momentos: a reentrada, com a volta ao trabalho, que deve ser em etapas. Neste caso, a ocupação não será plena. Serão feitas readaptações dos espaços, muito foco em informação ao funcionário. Veremos redução de número de reuniões, revezamentos, restrições nos elevadores e menor circulação nos prédios, e aumento da rotina de limpeza.  Vínhamos numa ascendência de compartilhamento de espaços, que agora neste primeiro momento vai cair. O segundo momento é o reimaginar o espaço do escritório do futuro.

Já não havia um adensamento grande mesmo antes da pandemia que deveria ter sido revisto?

Acho que foi só a forma de uso que mudou um pouco. A gente tinha no passado não distante um escritório com 100 mesas e 100 funcionários. Com compartilhamento, você levou a oportunidade de ter 130 funcionários e 100 mesas. Por que nem sempre todo mundo está no escritório ao mesmo tempo. Porém, no ambiente de trabalho, há lounges, cafeterias, salas de reuniões que podem comportar todas as pessoas. Mesmo assim, aumento fluxo de áreas comuns. Essa política de compartilhamento aumenta o fluxo de pessoas. Agora, com a pandemia, a necessidade de distanciamento vai ser revista sim e teremos escritórios mais vazios.

Como esses espaços vazios serão ocupados mais para frente? Haverá um novo uso para essas áreas?

Acredito que essas áreas vão continuar sendo ocupadas pelos escritórios. O escritório padrão são as estações de trabalho. Mas vem numa crescente áreas, como salas de projetos, e tipos de espaços diferentes que favorecem o trabalho em equipe e fortalecimento de cultura. O número de funcionários trabalhando ao mesmo tempo deve cair num primeiro momento e a estação de trabalho vai continuar sendo relevante, mas vai perdendo a importância que tinha num passado próximo.

Antes da crise, o mercado já previa a construção de prédios novos. Isso agora é inviável?

Já tem uma oferta sendo construída, com pipeline definido, como o Parque da Cidade, na zona sul da capital e alguns projetos na Faria Lima, que vão ser concluídos e absorvidos. A discussão agora é se precisar dar mais distanciamento, talvez precise de mais área. O trabalho remoto começou a ser testado. Se a pessoa já trabalha remoto, poderia continuar em um escritório satélite? Acredito muito que o escritório satélite passe a ser mais relevante. A pessoa que trabalha em casa hoje não tem a condição ideal necessária. O escritório é o lugar adequado. 

Mas o sr. não acredita que o home office vai ter maior importância?

O trabalho remoto  vai continuar crescendo e já vinha crescendo. Porém, o trabalho só de casa, esse não acredito que tenha um porcentual muito relevante nas empresas. A cultura da empresa se materializa no escritório. O home office vai ser relevante, mas não será o principal modelo. O principal modelo vai ser este misto – home office, escritório ou trabalho de outra estação. 

A JLL também faz manutenção de prédios. Como vão ser esses cuidados daqui para frente para evitar contaminação?

Temos duas áreas – gestão de condomínio (área comum dos prédios) e da área interna. A gente fez algumas adaptações – melhoramos os sistemas de ar condicionados, de filtragem de ar e circulação e sinalização das áreas comuns, além de distribuição de álcool gel e melhoria de circulação. Dentro dos escritórios, estamos melhorando a comunicação com informações de melhor uso. Há muita informação. Claro que vai ter mudança de layout, mas a rotina de limpeza foi a que mais se alterou. Estamos preparando a volta com muita informação e mais rotina de limpeza. Se tiver uma pessoa contaminada no prédio, temos comitês para que o inquilino comunique. A pessoa fica 14 dias isolados e o local tem de ser higienizado por 24 horas. Estamos nos preparando para fechamentos periódicos ou para fechar tudo. Não vejo uma pressão para que as pessoas voltem aos escritórios.

Temos vivido uma crise econômica  e uma crise política. Como é explicar para a matriz da JLL sobre o cenário no Brasil?

Difícil explicar cenário econômico, que tem mudado diariamente. Tenho a sorte de a minha empresa confiar no executivo local. O cenário político está incerto. Ninguém esperava essa disputa no governo e essa crise que estamos vendo. Teve um impacto grande. Mas acredito  que nossas instituições são fortes. Já os nossos clientes, que são investidores de fora, estes estão com pé atrás. O dinheiro que vinha o Brasil de forma frequente, agora tem maior risco.

Saneamento tenta voltar à lista de serviços essenciais

Entidades do setor de saneamento, tanto de prestação do serviço privado como público, além movimento sindicais, tentam reverter uma decisão do governo federal que excluiu os serviços de saneamento da lista de serviços essenciais. Decreto editado em março citava a captação e o tratamento de água e lixo, além da distribuição de água, nesse rol. A menção, porém, foi revogada por outro ato do fim de abril. As empresas no setor tentam convencer o Ministério da Economia e do Desenvolvimento Regional a voltar atrás. Além disso, o assunto foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), em uma ação apresentada pela Rede, ainda sem decisão de mérito.

Fragilidade. Entidades do setor apontam que a retirada fragiliza os serviços de saneamento. A presença na lista, por exemplo, blindaria a prestação de serviços em cidades que restringiram atividades econômicas e a locomoção de pessoas.

No varejo. Para Percy Soares, diretor executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), com a retirada do decreto federal, o setor precisou trabalhar no “varejo” o que poderia ser resolvido no “atacado”. Se o saneamento estivesse na lista de serviços essenciais, por exemplo, o setor teria prioridade no recebimento de equipamentos de proteção individual.

Não é daqui. O governo justificou o a retirada do saneamento por ser de competência municipal e, portanto, não caberia à União citá-lo no decreto federal. Para Soares e o presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), Marcus Vinícius Neves, a Constituição Federal define ser de competência comum da União, Estados e municípios a melhoria das condições de saneamento básico.

Contrassenso. Além disso, a mudança é considerada um contrassenso ao discurso adotado pelo governo federal sobre saneamento. No novo marco legal do setor, que aguarda votação no Senado, é do Executivo a proposta de que as diretrizes gerais para o saneamento sejam emitidas em nível federal, por meio da Agência Nacional de Águas.

Setor imobiliário busca validar protocolo de estandes para cidade de SP

Representantes do mercado imobiliário vão se reunir, na segunda-feira, com a secretária municipal do Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo, Aline Cardoso, para apresentar os protocolos sanitários de retomada das atividades do setor, nos estandes de vendas, já aprovados pelo governo estadual. No início da manhã de hoje, o Valor publicou que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, enviou, na noite de ontem, mensagem ao Secovi-SP, informando que, a partir de segunda-feira, a prefeitura apenas começaria a receber protocolos de reabertura para análise e aprovação.

O vice-presidente do Secovi-SP, Claudio Hermolin, tem a expectativa que os protocolos sejam aprovados na próxima semana.

“Não acredito que o município vá contestar um protocolo amplamente discutido com o Estado de São Paulo”, diz Hermolin.

Conforme autorizado, ontem, pelo governador, João Doria, os estandes de vendas poderão funcionar por quatro horas diárias, com 20% dos corretores e atendimento a uma família por vez. Na prática, de quatro a seis famílias serão atendidas por dia, segundo o presidente do Secovi-SP, Basilio Jafet.

Um ponto que ainda não está claro, para Jafet, é se o limite de uma família por vez refere-se ao apartamento decorado ou ao estande de vendas. “

No nosso entendimento, é possível haver duas mesas, no estande, distantes dez metros quadrados uma da outra”, diz o presidente do Secovi-SP.

Jafet diz ter “expectativa boa” em relação à retomada das atividades e ressalta que há muitos produtos destinados às classes média e alta que deixaram de ser visitados com a quarentena e voltarão a ser buscados. Há perspectiva também de retomada de lançamentos com esses perfis. Nos cálculos do Secovi-SP, houve represamento do valor geral de vendas (VGV) de R$ 2,8 bilhões, na capital paulista, de 16 de março a 15 de maio.

“O mercado imobiliário depende muito de confiança. A reabertura gradual dos estandes de vendas é um passo adiante neste novo normal que estamos vivendo e pode contribuir para a dinâmica do mercado. Quem estava em dúvida se comprava um imóvel pode se sentir mais confiante para tomar a decisão”, diz Hermolin.

Para o vice-presidente do Secovi-SP, se as vendas de maio se consolidarem, de fato, como melhores do que as de junho e se as de julho superarem as do próximo mês, as incorporadoras do segmento de médio e alto padrão devem retomar lançamentos a partir de agosto.

Reabertura gradual anima incorporadoras

A perspectiva de reabertura dos estandes de vendas de imóveis, na cidade de São Paulo, traz um fôlego para as incorporadoras voltadas para as rendas média e alta, com perspectiva de aumento das vendas e de retomada dos lançamentos. Mas a retomada da apresentação de projetos ao mercado tende a ser lenta, devido à forte queda da comercialização dos estoques, desde o início da quarentena, e à piora da economia.

Desde o início da pandemia de covid-19 e da proibição do funcionamento dos estandes, as incorporadoras frearam a apresentação de projetos para as rendas média e alta, interrompendo o novo ciclo de crescimento que vinha ocorrendo.

Na avaliação do vice-presidente de intermediação imobiliária do Secovi-SP, Claudio Hermolin, se a comercialização de maio se consolidar, de fato, como melhor do que a de junho e, se a de julho superar a do próximo mês, as incorporadoras de médio e alto padrão deverão retomar lançamentos a partir de agosto.

Conforme autorizado, anteontem, pelo governador do Estado de São Paulo, João Doria, os estandes de vendas poderão funcionar por quatro horas diárias, com 20% dos corretores e atendimento a uma família por vez. Na prática, de quatro a seis famílias serão atendidas por dia. As restrições ao funcionamento dos estandes maiores do que as esperadas pelo setor contribuem para que a esperada volta dos lançamentos ocorra gradualmente.

Na próxima segunda-feira, representantes do mercado imobiliário vão se reunir com a secretária municipal do Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo, Aline Cardoso, para apresentar os protocolos sanitários de retomada das atividades do setor, nos estandes de vendas, já aprovados pelo governo estadual. Hermolin espera que os protocolos sejam aprovados na próxima semana. “Não acredito que o município vá contestar um protocolo amplamente discutido pelo setor com o estado”, diz o vice-presidente do Secovi-SP.

Um ponto que ainda não está claro, segundo o presidente do Secovi-SP, Basilio Jafet, é se o limite de uma família por vez refere-se ao apartamento decorado ou ao estande de vendas. “No nosso entendimento, é possível haver duas mesas, no estande, distantes dez metros quadrados uma da outra”, diz o presidente do Secovi-SP.

Jafet diz ter “expectativa boa” em relação à retomada das atividades e ressalta que há muitos produtos destinados às classes média e alta que deixaram de ser visitados com a quarentena e voltarão a ser buscados. Nos cálculos do Secovi-SP, houve represamento do Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 2,8 bilhões, na capital paulista, de 16 de março a 15 de maio.

Para o diretor técnico da rede de imobiliárias Lopes, Cyro Naufel, a reabertura dos estandes de vendas, quando ocorrer, deve “animar” as incorporadoras a retomarem lançamentos de médio e alto padrão. “Os plantões de vendas são fundamentais. As empresas se programaram para lançar, mas adiaram seus planos”, diz Naufel, ressaltando que, quando for viável, a apresentação de projetos será retomada. “Não podemos esquecer que a Selic está no menor patamar da história”, acrescenta o executivo.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Mitre Realty, Rodrigo Cagali, respeitando-se os limites definidos, o anúncio feito por Doria, “já clareia bastante o ambiente para se pensar em lançamentos”, afirma. A Mitre tende a lançar, primeiramente, projetos destinados à média-renda e, depois, empreendimentos de médio-alto padrão.

A princípio, a EZTec vai manter o cronograma que estava prevendo para o período de pandemia, com retomada, a partir de meados de junho, de um lançamento feito em 15 de março e volta da apresentação de projetos em julho ou agosto, segundo o presidente, Flávio Zarzur. Ele diz considerar positiva a possibilidade de reabertura dos estandes. A EZTec vendeu R$ 20 milhões, em abril, e espera chegar a R$ 60 milhões em maio. A maioria das vendas se concentra em unidades para a classe média-baixa, mas há também imóveis de mais de R$ 2 milhões, conforme Zarzur.

O presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França, diz que o setor tem seguido os protocolos estabelecidos para a construção e que, no país, 94% das obras estão em funcionamento. “Mas estávamos sem estandes de vendas para comercializar produtos, o que afeta, principalmente, o segmento de média A venda online para a baixa renda é mais fácil”, diz.

Boa parte dos compradores das rendas média e alta buscam imóveis maiores, melhor localizados ou de qualidade superior para migração em relação às unidades onde vivem. Em momentos de incerteza, a decisão de adquirir um apartamento ou uma casa sem a finalidade de primeiro imóvel tende a ficar em compasso de espera da melhora dos indicadores econômico e de confiança.

Segundo o analista de mercado imobiliário do Itaú BBA, Enrico Trotta, deve haver lançamentos para as rendas média e alta, no terceiro trimestre, mas não em volume expressivo. “Vamos ver como ficam as vendas do que foi lançado no fim de 2019 e início deste ano”, diz Trotta.

MRV estima fazer mais lançamento neste trimestre

A MRV – maior incorporadora do país – estima que seus lançamentos do segundo trimestre vão superar os dos três primeiros meses do ano. A companhia tem lançado tanto projetos enquadrados no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, segmento em que tem sua principal atuação, quanto empreendimentos financiados com recursos de poupança.

De acordo com o copresidente Rafael Menin, a limitação para parte dos lançamentos da MRV não tem sido as vendas, mas os prazos mais longos para a liberação de licenças pelas prefeituras.

A incorporadora começou 2020 com “estoques relativamente altos”, conforme o executivo, mas as vendas dos cinco primeiros meses do ano foram maiores do que os lançamentos. A tendência, segundo Menin, é continuar a reduzir estoques nos próximos meses. “Em abril e maio, tivemos vendas em patamares muito saudáveis”, diz, sem revelar os volumes comercializados.

Como o mercado irá reduzir de tamanho, a incorporadora tende a continuar a ganhar participação, conforme o executivo.

Desde a segunda quinzena de março, a MRV tem concedido descontos aos clientes. De acordo com o copresidente, volume e geração de caixa têm sido prioridades da companhia em relação a margens.

Outra expectativa da companhia é que o volume de repasses dos recebíveis dos clientes para os bancos, no segundo trimestre, supere os do primeiro, considerando-se a mudança que possibilitou que não seja mais necessária a participação da União nos subsídios do programa neste ano.

Atualmente, 6% das obras da companhia estão paralisadas. A produção teve queda de 10% devido à suspensão de algumas obras e ao afastamento de pessoas que fazem parte de grupos de risco. Levando-se em conta municípios que tendem a liberar construções, as operações da incorporadora estarão, a partir de 10 de junho, “muito parecidas com o planejado no  no início do ano”, segundo Menin.

Amanhã, termina o prazo de 60 dias no qual a MRV se comprometeu a não realizar demissões. A companhia não terá saldo negativo de emprego nos próximos meses, de acordo com o presidente.

No primeiro trimestre, o lucro líquido da MRV caiu 39,1%, na comparação anual, para R$ 115 milhões. A receita líquida da incorporadora teve leve redução de 0,6%, para R$ 1,49 bilhões.

A margem bruta passou de 32%, no primeiro trimestre de 2019, para 28,2%. A MRV elevou em R$ 10 milhões provisão para devedores duvidosos, o que teve impacto negativo na margem bruta. Outro fator que contribuiu para a rentabilidade menor foi a concessão de descontos na última quinzena do trimestre.

As despesas gerais e administrativas da companhia aumentaram 10,4%, para R$ 93 milhões.

A MRV consumiu caixa de R$ 182 milhões no trimestre.

Estados pedem ao Senado que derrube um dos vetos de Bolsonaro

O Conselho Nacional de Secretários de Fazenda (Comsefaz) enviou uma carta nesta quinta-feira (28) ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), solicitando que derrube com “urgência” um dos vetos do presidente Jair Bolsonaro ao pacote de auxílio a Estados e municípios.

A polêmica envolve a suspensão do pagamento das dívidas estaduais. A pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro vetou o trecho que proibia a União de interromper a transferência de recursos para os Estados em caso de inadimplência no pagamento de dívida com os bancos.

A União é a avalista das dívidas estaduais com as instituições financeiras. Se houver calote dos Estados, o Tesouro é obrigado a arcar com o débito. Mas, em contrapartida, pode interromper o envio de dinheiro aos Estados  do fundo de participação ou de devolução de ICMS, entre outros.

“Esse pacote de R$ 120 bilhões é uma grande ficção”, disse Rafael Fonteles, presidente do Comsefaz e secretário do Piauí à CNN. Desse total, R$ 60 bilhões são transferência direta de recursos e R$ 60 bilhões suspensão de dívidas.

Na avaliação de Fonteles, sem impedir que a União cesse o envio de dinheiro para os Estados, na prática, é como se a dívida não tivesse sido suspensa, pois os Estados vão ter que arcar com esse custo de uma forma ou de outra.

A avaliação da equipe econômica é diferente. Os auxiliares de Guedes sustentam que os Estados precisam renegociar com os bancos ao invés de dar o calote e levarem às instituições financeiras a acionar as garantias da União. Argumentam ainda que, tecnicamente, Estados e União seriam considerados inadimplentes.

Witzel recebeu R$ 284 mil de escritório investigado em ano de eleição, e governador muda versão

O governador Wilson Witzel (PSC-RJ) recebeu no ano em que foi eleito R$ 284 mil do escritório de advocacia de Lucas Tristão, seu atual secretário de Desenvolvimento Econômico.

Esse pagamento a Witzel em 2018 consta na declaração de Imposto de Renda do governador, em análise pela Procuradoria-Geral da República, no âmbito da Operação Placebo. A banca do secretário recebeu no mesmo período R$ 225 mil de firmas do empresário Mário Peixoto, segundo a investigação.

O dinheiro repassado a Witzel pelo escritório de Tristão, à época coordenador de sua campanha eleitoral, foi uma das justificativas usadas pelo então candidato para explicar como doou R$ 215 mil de recursos próprios para sua campanha mesmo tendo declarado à Justiça Eleitoral não ter dinheiro em conta.

O valor doado correspondia a mais da metade do patrimônio declarado, de R$ 400 mil, composto apenas por uma casa até hoje não vendida.

Quando questionado sobre a origem dos recursos, sua assessoria respondeu que “Witzel presta consultoria jurídica e recebeu, além de honorários, luvas [pagamento pela entrada numa sociedade] para ingressar em dois escritórios de advocacia, um no Rio de Janeiro e outro no Espírito Santo”.

Em entrevista à Folha durante a campanha, Witzel afirmou que um dos escritórios a que se associou era o de Tristão. Ele inclusive disse que auxiliou o advogado na análise da defesa da Atrio Rio, uma das empresas da família de Peixoto, numa ação contra a Secretaria de Educação do estado.

“Ele [Tristão] me apresentou a petição para que eu analisasse, se estava adequada. Entendi que estava e que haveria possibilidade de sucesso”, afirmou Witzel na ocasião.

Em entrevista à CNN Brasil na última quarta-feira (27), Witzel negou que tenha sido sócio de Tristão.

“Nunca fui sócio do Lucas Tristão. O único escritório em que fui sócio foi do Medina Osório [Advogados], ex-ministro da AGU [Advocacia-Geral da União]. Agora, o Lucas foi meu aluno. Em várias oportunidades ele vinha conversar comigo sobre processos que não estavam na minha jurisdição”, disse Witzel.

Os registros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Espírito Santo mostram que o escritório de Tristão não teve mudança societária durante a campanha.

O relacionamento entre Tristão e Peixoto também foi evidenciado por interceptação telefônica feita pela Polícia Federal com autorização judicial. O filho de Mário, Vinicius Peixoto, contou para sua mãe que o secretário furou a quarentena em abril deste ano para visitar o empresário em casa.

Witzel foi alvo da Operação Placebo, que apura suspeitas sobre o contrato para construção de um hospital de campanha contra o coronavírus e na relação de Witzel e seu entorno com um empresário investigado desde a gestão Sérgio Cabral (MDB).

Uma das investigadas é a primeira-dama, a advogada Helena Witzel, que firmou contrato com a DPAD Serviços Diagnósticos. A empresa é ligada, segundo a Procuradoria, ao empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito, deflagrada há duas semanas.

O contrato previa o pagamento de 36 parcelas mensais de R$ 15 mil por serviços advocatícios. Os pagamentos se iniciaram em agosto de 2019, segundo comprovantes obtidos pela investigação. Há a suspeita de que o repasse seja uma propina paga ao governador, por meio de um contrato fraudulento.

Witzel disse que o valor foi “fruto de trabalho jurídico, muito antes de ele ser governador”. “O valor foi recebido e devidamente declarado no Imposto de Renda, sendo fruto de trabalho jurídico, muito antes de ser governador”, disse Witzel, em nota.

Ele não explicou, porém, porque declarou durante a eleição ser sócio de Tristão e ter usado a entrada no escritório como justificativa para a doação de recursos próprios para sua campanha.

“O valor doado por Wilson Witzel à sua própria campanha é fruto de honorários que ele recebeu como advogado e a doação está dentro do previsto na legislação eleitoral. As contas da campanha foram aprovadas por unanimidade no TRE-RJ. Wilson Witzel nunca foi sócio de Lucas Tristão e jamais advogou para empresas de Mário Peixoto”, diz a nota do governador.

O secretário de Desenvolvimento Econômico não comentou o caso. O advogado Alexandre Lopes, que defende Peixoto, disse que não existe relação ilícita entre o empresário e o governador.

“Qualquer acusação neste sentido é absolutamente descabida e irreal. Questões políticas não se misturam com questões jurídicas. Investigações policiais devem ter como norte a imparcialidade. Nenhuma empresa vinculada a Mário Peixoto contratou com o Governo do Estado, na área de saúde, durante a epidemia de Covid-19”, disse o advogado.

PIB do Brasil cai 1,5% no 1º trimestre, início da pandemia, segundo IBGE

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu 1,5% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (29) pelo IBGE. Essa é a maior queda desde a retração de 2,1% no segundo trimestre de 2015.

Em relação ao mesmo período de 2019, o PIB caiu 0,3%. No acumulado em 12 meses, houve expansão de 0,9%. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam retração de 1,5% na comparação com o trimestre anterior e -0,3% em relação ao mesmo período do ano passado.

O período foi marcado pelo início das medidas de distanciamento social no país, adotadas a partir da última quinzena do trimestre. Antes disso, a pandemia já impactava outros países, com reflexos também sobre a economia brasileira.

Entre as principais economias mundiais, a China foi a que registrou a maior queda no PIB trimestral, de 9,8%. O país asiático foi o primeiro foco do coronavírus. Na Zona do Euro, segundo foco da crise internacional, houve retração de 3,3%. Até mesmo a Suécia, país que não adotou o isolamento, viu o PIB encolher no período (-0,3%).

Países nos quais a circulação do vírus começou mais tarde, como o Brasil, foram menos atingidos economicamente. Nos EUA, o PIB recuou 1,2% no trimestre.

Segundo dados compilados pela OCDE, entre as 50 economias mais relevante, apenas duas registraram crescimento no trimestre. A Finlândia cresceu apenas 0,1%. O Chile avançou 3% no período, mas o resultado desse último se deve à base de comparação, pois a economia chilena teve o pior desempenho para o quarto trimestre de 2019 entre os países selecionados.

O PIB é uma medida da produção de bens e serviços do país em um determinado período, e o seu aumento é utilizado como sinônimo de crescimento da economia.

O Brasil vem de um período de três anos de fraco crescimento econômico. A expectativa dos analistas é que, no segundo trimestre deste ano, marcado por dois meses quase completos de isolamento social na maior parte do país, a economia apresente retração ainda maior.

De acordo com análise publicada pelo economista Marcel Balassiano, da área de Economia Aplicada do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV), 82% dos países acompanhados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) devem apresentar desempenho melhor da economia do que o Brasil no biênio 2020/2021.

Segundo a Economist Intelligence Unit, o Brasil deve ser a economia mais afetada pela Covid-19 em uma amostra de 19 países, quando se compara a previsão para o PIB em 2020 antes e depois da pandemia.

Coronavírus: Brasil tem 438.238 casos; total de mortes chega a 26.754

Ministério da Saúde divulgou ontem que 26.417 novas pessoas foram incluídas na estatística de infectados pela covid-19, totalizando 438.238 casos confirmados. O resultado marcou um acréscimo de 26.417 em relação a quarta-feira (27), quando o número de pessoas nesta condição estava em 411.821

A atualização do ministério registrou 1.156 novas mortes, chegando a 26.754. O resultado representou um aumento de 1.156 em relação a ontem, quando foram contabilizados 25.598 óbitos por covid-19.

Do total de casos confirmados, 233.880 estão em acompanhamento e 177.604 foram recuperados. Há ainda 4.211 óbitos sendo analisados.

A letalidade (número de mortes pelo total de casos) ficou em 6,1%. Já a mortalidade foi de 12,7 por 100 mil habitantes.

São Paulo se mantém como epicentro da pandemia no país, concentrando o maior número de mortes (6.980). O estado é seguido pelo Rio de Janeiro (4.856), Ceará (2.733), Pará (2.704) e Pernambuco (2.566).

Também foram registradas mortes no Amazonas (1.964), Maranhão (887), Bahia (570), Espírito Santo (538), Alagoas (385), Paraíba (318), Rio Grande do Norte (258), Minas Gerais (255), Rio Grande do Sul (213), Amapá (198), Paraná (169), Rondônia (142), Piauí (138), Distrito Federal (142), Santa Catarina (131), Sergipe (135), Acre (122), Goiás (115), Roraima (102), Tocantins (68), Mato Grosso (51) e Mato Grosso do Sul (18).

Já em número de casos confirmados, o ranking tem São Paulo (95.865), Rio de Janeiro (44.886), Ceará (37.821), Amazonas (36.146) e Pará (33.699). Entre as unidades da federação com mais pessoas infectadas estão ainda Pernambuco (30.713), Maranhão (27.979), Bahia (15.963), Espírito Santo (12.203) e Paraíba (11.132).

Covid-19: Apesar de aumento nos casos, prefeitura do Rio planeja reabertura em seis fases

O comitê científico da prefeitura do Rio participou nesta quinta-feira de uma reunião com o prefeito Marcelo Crivella para conhecer o plano de reabertura das atividades econômicas. A proposta prevê seis fases. Os intervalos previstos entre as etapas deverão ser de 15 dias, podendo ser encurtados ou prolongados de acordo com os indicadores da doença. Seguindo esse cronograma sem alterações, a vida dos cariocas voltaria ao normal em três meses.

A passagem de uma fase para a outra deverá ser norteada por critérios como números de óbitos e casos confirmados, quantidade de internações e taxa de leitos ocupados. O comitê científico, junto com os secretários de Saúde, da Casa Civil e da Fazenda, além do próprio prefeito, vão chancelar a passagem de uma fase para outra. Se houver retrocesso nos indicadores, nada impede que ocorra um recuo.

Num primeiro momento, será permitido o funcionamento de atividades com maior relevância econômica e menor risco de contágio. Na segunda fase, voltarão as atividades com menor impacto na economia e risco médio de contágio. Assim, seguirão as fases sucessivamente, até chegar às atividades que oferecem o maior risco e que têm o menor peso na economia. Durante a reunião, o prefeito não listou os serviços. Uma nova reunião deverá ser realizada no sábado.

Apesar da retomada, as recomendações de afastamento e uso de máscaras serão mantidas. Também será sugerido o escalonamento nos horários dos trabalhadores para evitar a hora do rush e a aglomeração em estações de transportes públicos. As pessoas dos grupos de risco serão orientadas a permanecer em casa até a última fase.

Risco de retroceder

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), Sylvio Provenzano, que participou da reunião, avalia que, mesmo sendo feita de forma gradual, a reabertura terá de ser acompanhada para evitar uma nova onda de contágio:

— Temos que ter um cuidado muito grande para não retroceder e desperdiçar todo esse tempo que permanecemos em isolamento.

Já o infectologista e professor da UFRJ Rafael Galiez avalia que ainda não é o momento para a reabertura. O médico, que participou de reuniões anteriores do comitê científico, mas não esteve na de ontem, avalia que a taxa de transmissibilidade da doença no Rio ainda está mais alta do que o desejável. Segundo ele, um infectado contamina hoje duas pessoas:

— O ideal é que uma pessoa não esteja transmitindo para mais de uma pessoa. Então, ainda não é viável reabrir.