Viver em cidades sustentáveis, repletas de residências, edificações comerciais e espaços públicos abastecidos com energia fotovoltaica, como aproveitamento da água da chuva para a limpeza dos espaços comuns e com o predomínio de áreas verdes, está deixando de ser uma utopia em Minas.
Segundo o diretor técnico ambiental do Sinduscon-MG, Fernando Sérgio Fogli, o 11º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, criado em 2015 para garantir o crescimento urbano consciente, já está se tornando uma realidade no Estado.
“O Sinduscon está atento não só às 17 ODS da ONU, mas a todas as legislações que estimulem os investimentos em energia renovável. Nossa comissão de Meio Ambiente promove seminários, distribui cartilhas e orienta os associados a promoverem o desenvolvimento pensando em preservar a natureza”, afirmou Fogli.
Em 2015, a ONU criou 17 ODS que, se implantados em todos os países, garantirão que o planeta chegue a 2030 não só mais pacífico, mas aumentará o nível educacional, a qualidade sanitária, com mais empregos e mais sustentável que este em que vivemos hoje.
Embora não tenham números indicando quantas empreiteiras mineiras estão hoje usando materiais renováveis em seus empreendimentos, conforme o diretor, grande parte das construtoras objetiva atender aos clientes que estão mais exigentes em relação aos imóveis que pretendem comprar.
“É uma tendência e uma demanda. Qual consumidor que não vislumbra uma redução em sua conta de luz, que não deseja reaproveitar a água e que não quer viver em um local cheio de árvores onde ele possa se sentir melhor?”, questionou.
Legislação
Além disso, ainda de acordo com as construtoras que investem na qualidade de recursos renováveis em seus empreendimentos, quando comprovam nos órgãos ambientais a utilização destes materiais, recebem certificações como “o selo verde”, que reduz o custo do valor do IPTU dos consumidores, por exemplo.
“Dessa forma, estes certificados recebidos por tais empresas servem para atestar a qualidade dos serviços que prestam. Legitimam o próprio negócio, valorizam o empreendimento e atendem à demanda dos consumidores cada vez mais responsáveis”, disse.
Tecnologia
O barateamento das tecnologias de geração de energia fotovoltaica, de torneiras que diminuem a saída do fluxo de água, a opção por edificações secas, feitas com material modular que consomem menos água que as demais, também motivam os empreiteiros em investir na compra de materiais renováveis.
“As bacias para caixa acoplada de duplo acionamento são a melhor opção para quem busca por bom custo-benefício Elas permitem controlar a quantidade de água que é despejada a cada descarga, liberando de 3 a 6 litros por vez, bem menos que o sistema normal”, disse.
Tendência
A ideia de construir prédios e condomínios utilizando materiais renováveis foi levada tão a sério pela construtora Emccamp, que a própria sede foi reformada para se adequar a ideia de se garantir cidades sustentáveis. A energia utilizada hoje na empresa é renovável. O exemplo adotado pela empresa tem como meta implantar alguns dos ODS.
“Preservamos a saúde e o bem-estar de nossos colaboradores e consumidores, honramos nossos profissionais, investimos no crescimento econômico e na transformação das cidades em ambientes sustentáveis, ancorados no consumo e na produção responsáveis”, afirmou a coordenadora de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Emccamp, Veronika Gottschalg.
A Enccamp usa materiais como a BGS (Brita Graduada Simples), ou pedrisco, comprados de empresas que reciclam resíduos oriundos de outras construções. Outra exigência é que todos os fornecedores possuam as licenças ambientais necessárias. Em vez de madeira, a empreiteira prefere usar formas metálicas, o que garante economia na destinação de resíduos para aterros e recicladoras. “Além de contribuirmos com o meio ambiente, estamos atendendo às exigências do mercado consumidor”, afirmou.
Todos os empreendimentos desta construtora oferecem hidrômetros individualizados e reservatório para o reaproveitamento de água da chuva para a limpeza das áreas comuns, o que também já ajuda a diminuir os custos do valor do condomínio e evita o desperdício de uma fonte muito preciosa para o planeta.
Biomassa
Embora a construção civil ainda não use normalmente a biomassa (matéria orgânica de origem vegetal ou animal usada com a finalidade de produzir energia, como carvão, lenha, bagaço de cana-de-açúcar,biogás etc), a Enccamp tem como hábito a implantação de composteiras no canteiro de obras para o reaproveitamento de insumos para a adubação de plantios de mudas nativas nas edificações que constroem. Outra inovação, segundo Veronika Gottschalg, é a utilização de efluentes sanitários tratados e analisados biologicamente para o abastecimento do lençol freático.
Mais caros
Utilizar matéria-prima sustentável para a construção de casas, prédios e condomínios está se tornando cada vez mais um bom negócio para as construtoras mineiras. Criada há 12 anos, a Construtora AP Ponto está expandindo seu mercado, voltado para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), para Ribeirão Preto, no interior paulista. Segundo Daniel de Deus Braga, engenheiro da AP Ponto, os consumidores estão exigindo mudanças nos empreendimentos imobiliários que devem ter recursos
que ajudem a conservar a saúde do planeta.
“Preferimos usar materiais que elevam a qualidade da edificação. Mas embora, em média, os preços de nossos imóveis sejam 30% mais caros, oferecemos um produto que une qualidade de vida à ideia de preservação ambiental. Nossos clientes, em geral, têm até 30 anos e são muito preocupados com as questões ambientais”, afirmou.
Com condomínios em Belo Horizonte; Contagem, Betim e Vespasiano, na RMBH; e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde contam com uma sede e loja física, a AP Ponto está levando este modelo de negócios para Ribeirão Preto, no interior paulista. Segundo Braga, a maior parte de seus clientes está investindo no primeiro imóvel e têm até 30 anos.
“Eles sabem que se não fizermos nada agora, não vamos deixar nada para nossos filhos e netos. Estão cada vez mais conscientes e o mercado vem tentando adequar-se a este perfil”, afirmou.
Espaços verdes
Além disso, os condomínios contam com o plantio de árvores frutíferas e hortas comunitárias munidas com Qr Code que trazem informações sobre os benefícios nutricionais das hortaliças e legumes e a melhor forma de tratá-las.
Consumidor hoje se preocupa com o meio ambiente
A energia solar é mais que uma tendência de mercado. Para a presidente da CMI/Secovi-MG, a empresária Cássia Ximenes, a criação de imóveis que sigam os 17 objetivos da ODS já se incorporou ao segmento imobiliário, tornando-se uma exigência dos próprios consumidores. Pesquisa da CMI-Secovi realizada há cerca de três anos constatou que o consumidor valoriza características como responsabilidade social e tende a investir em produtos renováveis e autossustentáveis.
“Principalmente os consumidores mais novos. Eles compram apartamentos levando em conta o impacto ambiental causado pela nova moradia. Então, preferem as edificações e condomínios que tenham energia fotovoltaica e equipamentos para a economia de água e gás, contribuindo para a natureza”, afirmou Cássia Ximenes.
Até o paisagismo é levado em conta na hora da compra, segundo a presidente da CMI/Secovi. Ela explica que a existência ou não de árvores, de jardins, de espaço para yoga, academias de ginástica e/ou que permitam a boa convivência são valorizados pelos consumidores.
A capacidade de geração de energia fotovoltaica destinada aos pequenos e médios consumidores deve dobrar até o final do ano. Até o final de 2021, a Cemig SIM, braço da Cemig destinado ao atendimento à pessoa física e pequenos e médios consumidores, vai investir R$ 120 milhões para dobrar a capacidade de oferta de energia fotovoltaica que hoje atende 3 mil unidades no Estado. “Até o final de 2021, queremos atender 6.000 unidades residenciais e comerciais. Hoje, geramos 42 megawatts. Queremos dobrar essa produção”, informou o CEO da empresa, Danilo Gusmão.
Mas os investimentos não vão parar por aí. Até 2025, a empresa vai investir mais R$ 1 bilhão para ampliar a produção de energia para 275 megawatts, atendendo pelo menos 60 mil unidades. “Cerca de vinte vezes mais que hoje”, avaliou Gusmão.
Diário do Comércio