Alta na venda de imóveis na Zona Sul: Copacabana, Botafogo e Leblon lideram o ranking dos bairros mais procurados

No início da pandemia, em março de 2020, a veterinária Danielle Bueno comprou seu apartamento dos sonhos, ainda na planta. A aquisição do imóvel, em Botafogo, porém, não foi assim tão fácil. Um dia antes do lançamento do edifício Spotlight, no condomínio Jardim Botafogo, Danielle montou um esquema de revezamento com o marido, o empresário Márcio Bueno. Ele dormiu no estande de vendas para ter certeza de que conseguiriam a unidade desejada. O caso não foi o único e levou o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário e a incorporadora Performance, responsáveis pelo empreendimento, a contratar segurança e adotar outras medidas para garantir os protocolos sanitários. A alta procura mostra que, apesar da crise, o mercado imobiliário segue muito bem.

O setor, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), pretende fechar o ano com R$ 195 bilhões em crédito imobiliário liberados, 57% a mais que o recorde de 2020, quando esse total foi de R$ 124 bilhões. De acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi Rio), este foi o melhor primeiro semestre desde 2014 no quesito vendas de imóveis. E o segundo semestre, considerado o melhor do ano, está ainda mais aquecido, com as empresas pisando no acelerador. Neste cenário positivo, a Zona Sul ganha destaque. Um levantamento do Secovi Rio aponta que a região teve 4.427 unidades negociadas de janeiro a junho deste ano, alta de 87,5% na comparação com o mesmo período de 2020 (2.361 unidades). Os dados analisados pelo sindicato têm como base o recolhimento do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).

Espera. Danielle na obra do Spotlight, onde comprou uma unidade: seu marido dormiu no estande de vendas Foto: Divulgação/Rafaela Prado
Espera. Danielle na obra do Spotlight, onde comprou uma unidade: seu marido dormiu no estande de vendas Foto: Divulgação/Rafaela Prado

Liderando a lista dos bairros mais procurados estão Copacabana, com 1.135 transações imobiliárias; Botafogo, com 625; e Leblon, com 418. Na ponta oposta aparecem Urca (31), Cosme Velho (25) e Vidigal (7).

— Cresci em um apartamento na Gávea e tinha o sonho de infância de morar em um espaço grande que me permitisse ter vários cachorros — conta Danielle.

‘Zona Sul é a maior referência no setor’

Mãe de Francisco, atualmente com 15 anos, e tutora de três cães, Danielle, ao lado do marido, decidiu que era hora de deixar a Zona Oeste, para onde foram quando se casaram, e voltar para a Zona Sul. Em 2012, optou por Botafogo, mas já planejava a compra de um imóvel maior.

— Minha família toda sempre esteve na Zona Sul, e depois que virei mãe começou uma pressão para estarmos mais perto. Adoro Botafogo, mas o apartamento em que vivo hoje com a minha família ainda não era o que eu queria — conta.

A busca pelo imóvel ideal começou quando o casal viu a movimentação no terreno em frente ao Shopping RioSul, onde está sendo erguido o condomínio Jardim Botafogo.

— Já imaginei que seria um megacondomínio. Um dia resolvemos ver o projeto e ficamos apaixonados. Era a oportunidade de ter um clube em casa. Mas os apartamentos ainda não eram tão amplos como gostaríamos. Esperamos um ano pelo lançamento seguinte, no mesmo condomínio, que era o que sempre sonhei. Já estou falando com os meus cachorros que vamos nos mudar para um lugar com pet place que eles vão adorar! Também tem a varanda gourmet para receber os amigos — conta Danielle, animada e sem esconder a ansiedade ao confessar já ter ido várias vezes ao local da obra, prevista para ser entregue no fim de 2022.

O vice-presidente do Secovi Rio, Leonardo Schneider, explica que fatores combinados, como a taxa de juros de financiamento de imóveis atrativa, maior agilidade dos bancos em oferecer esse financiamento e a estagnação do preço dos empreendimentos desde os Jogos Olímpicos de 2016, fizeram com que o mercado imobiliário vivesse hoje essa alta expressiva.

— As construtoras vinham com uma perspectiva positiva desde antes da pandemia. Elas sofreram um pouco nos primeiros meses, mas depois vieram com tudo, com as pessoas procurando apartamentos maiores e investimentos mais seguros, já que o futuro ainda é muito incerto. Os juros no mercado financeiro também caíram bastante, e muita gente migrou para o mercado imobiliário. Além de preços congelados, taxas de juros baixas e facilidade de financiamento, pontos que ganharam destaque com a pandemia — diz ele.

Para Schneider, a Zona Sul é a maior referência do segmento imobiliário em relação a desejos e a upgrade, uma vez que é possível estar perto da praia e de parques, comércios e shoppings, entre outros benefícios.

— A Zona Sul é a grande locomotiva do mercado imobiliário, pois oferece muita liquidez. As construtoras que lançam em bairros da região sabem que vão vender porque há muita procura e, com ela, vem a versatilidade dos projetos, contemplando desde imóveis menores, como os estúdios, até unidades maiores, de quatro quartos — avalia.

Botafogo é a bola da vez

O vice-presidente do Secovi Rio ressalta ainda que os maiores atrativos da Zona Sul são bem representados por Copacabana e Botafogo, o que explica os dois bairros aparecerem no topo da pesquisa realizada pelo sindicato.

— Copacabana é um bairro tradicional que tem um mar de edifícios, de alto luxo até baixa renda, com um comércio pulsante. Botafogo deixou de ser só um lugar de passagem; é um bairro novo, no sentido de empreendimentos, e nos últimos anos foi o que mais contou com lançamentos. Tem um comércio em expansão, muitas escolas; tem o perfil de jovens famílias — comenta Schneider.

Carolina Lindner, head comercial da incorporadora Performance, confirma a boa fase do setor ao revelar que no último ano a construtora viu suas vendas aumentarem em 15% com as mudanças no comportamento de compra dos consumidores, e que Botafogo é mesmo a bola da vez.

— Entre 2017 e 2020, Botafogo ficou em segundo lugar no ranking de bairros com maior quantidade de lançamentos na cidade do Rio, superando Jacarepaguá, Recreio e Campo Grande, tradicionais em volume de novos imóveis. Todos os bairros têm a sua população cativa. As pessoas que nascem ali não querem sair do bairro. Mas Botafogo assumiu protagonismo, recebendo pessoas que saíram de outras regiões para a Zona Sul —diz ela.

Carolina também atribui a boa fase do mercado imobiliário a algumas mudanças relacionadas à pandemia, como a compra de imóveis pela internet.

— Na pandemia, as incorporadoras se reinventaram digitalmente. O que era obrigatório, como o apartamento decorado, virou tour virtual. Visitas e reuniões são feitas on-line. A parte burocrática de comprar um imóvel ficou mais simples, graças à digitalização e a assinaturas digitais. Hoje é possível assinar virtualmente até escrituras públicas — relata a representante da incorporadora que, além do condomínio Jardim Botafogo, acaba de lançar em parceria com o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário mais um empreendimento em Botafogo, o S Design Residencial, na Rua Conde de Irajá 439.

O empreendimento oferece 47 apartamentos, com plantas de até três suítes ou quatro generosos quartos, porte-cochère (pulmão de segurança), lavabo design, varandas integradas com a sala, cozinhas amplas e banheiro de serviço.

Retrofit e tecnologia

Também em Botafogo, a construtora Mozak lança este mês o Era Botafogo, que resgata parte da história do bairro ao revitalizar um casarão tombado do século XX, em estilo eclético e com influência francesa, na Rua Dona Mariana 56. A construção original remete ao período da primeira expansão habitacional no bairro, impulsionada pela presença da aristocracia na região. Com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 34,4 milhões, o casarão de uso multifamiliar terá dois pavimentos, que vão abrigar apenas quatro unidades, sendo duas por andar, com metragens de 109,91m² a 137,26m². Nos fundos, uma nova edificação será erguida, com 35 unidades.

Já a D2J Construtora escolheu Copacabana para lançar o Selfie Tech, colado ao Bairro Peixoto. O residencial, já em construção, tem apenas 24 unidades entre estúdios e coberturas integradas, além de espaços inteligentes, lazer e segurança. As unidades têm valores a partir de R$ 650 mil.

Duas dessas unidades foram compradas pela empresária Isvetlana Theis Pereira dos Santos, de 31 anos, que se divide entre o Brasil e a França. A brasileira conta que escolheu a “princesinha do mar” principalmente pelo fato de o bairro ter grande valorização por oferecer praia, além de comércio e transporte variados.

— Sem contar que Copacabana é o cartão-postal do Rio de Janeiro. Comprei os dois imóveis com a finalidade de locação e sei que terei um rápido retorno do valor investido, porque o bairro é muito cobiçado — comenta Isvetlana.

O Globo

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