Escritórios no Centro do Rio voltam a ser atraentes

Vistas de tirar o fôlego, espaços amplos, prédios charmosos e endereços que já abrigaram a nata do empresariado carioca. O mercado de escritórios no Centro da cidade vive um momento especial: com a pandemia e a mudança de muitas empresas para a região do Porto Maravilha, o eixo entre as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, incluindo as ruas adjacentes, viu surgirem ótimas oportunidades, por preços bem mais acessíveis do que os praticados há alguns anos. Hoje, deixou de ser um sonho de consumo se instalar, por exemplo, nas amplas salas do Edifício Serrador, na Cinelândia, ou do Candelária 62, na Presidente Vargas.

O Centro experimentou dois fenômenos, mesmo antes da pandemia, pontua o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) e vice-presidente da Associação de Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) no Rio de Janeiro, Claudio Hermolin: primeiro, a crise econômica que fez a cidade, de maneira geral, perder atratividade. Depois, a movimentação em direção à Zona Portuária.

O lançamento de prédios comerciais mais novos e mais modernos no Porto Maravilha levou as empresas a abandonarem antigos endereços a caminho da nova região, em um movimento de desocupação de uma área para ocupação de outra. Com isso, os prédios mais antigos foram ficando vazios. E a pandemia, que poderia ser uma pá de cal, acabou abrindo novas oportunidades.

— Chegou um momento em que era mais barato ter um escritório no Leblon do que em um ponto cobiçado do Centro. Só que, na pandemia, as empresas entenderam que não precisam de espaços tão grandes, e os preços também caíram. Com isso, voltou a ser economicamente viável se instalar no Centro — afirma Hermolin, lembrando que o preço do metro quadrado de aluguel em um prédio cobiçado, como o Ventura, na Avenida República do Chile; ou o Torre do Almirante, na Avenida Almirante Barroso, varia atualmente entre R$ 70 e R$ 80.

Quarteto

Por falar em prédios com história para contar, o diretor da Sergio Castro Imóveis, Claudio Castro, cita um quarteto de respeito: além de Cinelândia 62 e Serrador, o antigo edifício da Mesbla, no Passeio; e o Linneo de Paula Machado, na Almirante Barroso. No Serrador, inclusive, está disponível para locação o andar onde o empresário Eike Batista despachou por anos. Castro acredita que eles estão em pé de igualdade com as joias da coroa do Porto Maravilha: o Vista Guanabara e o Aqwa, que está com quase 100% de ocupação.

— As grandes empresas foram atrás desses prédios mais modernos. Nos restaurantes ao redor do Aqwa, há fila na hora do almoço. A questão é que outros prédios no Centro foram retrofitados e modernizados e nada ficam a dever aos novos empreendimentos.

Claudio Castro observa que a ocupação do Centro tradicionalmente ocorreu como uma espécie de corrente. Inicialmente, os melhores prédios nos melhores pontos; em seguida, os edifícios médios nas localizações mais disputadas; depois, os imóveis bons em lugares piores. Acontece que, com a modernização e a chegada do VLT, a região mais central voltou a se tornar interessante para os negócios. E os preços despencaram, com a vacância causada pela fuga para o Porto Maravilha.

— São escritórios com vistas deslumbrantes, VLT na porta, estacionamento subterrâneo e farta oferta de serviços e ao lado do Aeroporto Santos Dumont. Endereços que sempre foram desejados, mas os preços ficaram inacessíveis — explica.

Outro fator também influenciou: a flexibilidade na negociação entre proprietários e futuros locatários. Antigamente, o Serrador, por exemplo, só podia ser alugado inteiro. Agora, pode-se alugar apenas um andar.

— A ordem dos proprietários é: “não perca negócios”. Há alguns anos, dificilmente você encontraria uma sala por menos de R$ 100 o metro quadrado. Hoje, é possível se instalar em um escritório no crème de la crème por R$ 50 o metro quadrado —afirma Castro.

O Globo, caderno Morar Bem

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