Opinião: Turismo interno para gerar empregos

A indústria do turismo foi das mais afetadas pela pandemia. No caso do Brasil, houve um interessante efeito. Turistas do nosso país que gastavam no exterior uma média anual de US$ 17 bilhões passaram a direcionar parte expressiva desses recursos ao mercado interno.

Os visitantes domésticos representaram 94% de todos os gastos com turismo em 2020. No segundo semestre desse mesmo ano, o fenômeno favoreceu inúmeras cidades de veraneio e de férias, principalmente as que podiam ser visitadas em curtas viagens de carro. No final de 2021, com a ampliação de voos domésticos, outras cidades passaram também a ser visitadas, gerando um aumento de 48% na ocupação de hotéis no réveillon, nas férias escolares e no feriado do carnaval.

Apenas no mês de fevereiro deste ano, atividades ligadas ao turismo já haviam registrado a contratação de 150 mil pessoas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O número representou quase metade (45,6%) dos 328.507 novos postos formais de trabalho gerados no mês em todos os setores econômicos.

Os dados de crescimento de empregos formais no turismo animam e mostram que temos um enorme espaço para fazer crescer nossa economia, para muito mais que os 7% que hoje se estima no PIB. E, para que isso seja viável, temos de priorizar as viagens internas.

Somado a isso, precisamos de fortes campanhas promocionais no exterior para atrair os 1,5 bilhão de viajantes mundiais, dos quais apenas pouco mais de 6,5 milhões nos visitam. Não podemos ser tímidos nessa retomada do turismo mundial. A competição é imensa, e o Brasil precisa investir pesado.

Tampouco podemos aceitar passivamente um déficit de mais de US$ 17 bilhões ao ano que, em vez de gerar emprego e renda para nós, brasileiros, cria para outras nações.

Podemos simular o efeito econômico de diminuir em 50% o déficit na conta corrente de gastos de turistas, utilizando o número dos últimos 14 anos — US$ 156 bilhões. Considerando 50% de déficit e que o multiplicador de renda (adotado pelo Banco do Nordeste) para gastos de turistas estrangeiros no PIB é de 2,85, atualizando com o dólar e a inflação do período, estamos falando de uma injeção de R$ 1,2 trilhão na economia, desencadeando um aumento na geração de empregos de quase 6 milhões de novas vagas e que elevaria o PIB do Brasil a um novo patamar.

É fundamental e urgente a implementação de políticas para o equilíbrio da conta de gastos com o turismo. Não podemos considerar razoável, nem aceitar como normal, o atual quadro de falta de políticas, pois tivemos a comprovação da potência desse setor para o país. Precisamos segurar e ampliar, em muito, os resultados conquistados com essa possibilidade real de virada do setor. E o resultado espetacular está muito mais próximo que pensamos. Milhões de empregos podem ser criados a partir da indústria do turismo. Só falta se organizar e agir.

O Globo, por Marcelo Conde, empresário e presidente da Associação Rio Vamos Vencer

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