Máscara em local fechado deve voltar, dizem especialistas

O aumento no número de casos de covid-19 no Brasil nos últimos dias tem servido de reforço para um argumento que parece unânime entre profissionais de saúde: a suspensão irrestrita do uso de máscara em locais fechados foi precoce e deveria ser revista. Infectologistas e epidemiologistas defendem o retorno da máscara, em grandes centros urbanos, especialmente com a aproximação do inverno, quando aumentam as transmissões de doenças respiratórias.

Escolas, academias, shoppings, cinemas, teatros e outros locais públicos fechados pelo país deixaram de requerer a proteção há alguns meses, depois que os números da pandemia melhoraram, passado a onda da variante ômicron, em janeiro. E embora os números de novas infecções e também os de mortes estejam muito abaixo do momentos de pico no país, as estatísticas apontam uma elevação seguida dos números nos últimos. Ontem, segundo dados das secretarias estaduais de Saúde compilados pelo consórcio de veículo de imprensa, houve, em 24 horas, 155 mortes por covid no país. A média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 113 por dia, um avanço de 20% em relação aos óbitos registrados em 14 dias. Ontem, a média móvel de casos conhecidos, ficou praticamente estável: alta de apenas 1%.

“As máscaras devem voltar a ser obrigatórias em locais fechados até entendermos melhor como serão os ciclos de transmissão do vírus”, afirma Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP). “Ainda sabemos pouco sobre o impacto das infecções na população a longo prazo”, diz a professora e pesquisadora.

Fernando Spilki, virologista e coordenador da rede Corona-ômica do Ministério da Ciência e Tecnologia, reforça o argumento de Ester. “Minha avaliação é que nunca deveríamos ter abandonado o uso de máscaras em locais fechados. Nunca tivemos dados consistentes para dar suporte a essa medida.”

A epidemiologista Beatriz Carniel, doutora pela Universidade de Liverpool, afirma que a vacina deu confiança para as pessoas voltarem às atividades, mas que para a vacina dar certo há muitas variáveis em jogo. O imunizante precisa funcionar em cada pessoa, todos têm de estar vacinados, e essa imunidade, estar ativa. “Seis meses depois da dose, a imunidade cai bastante”, diz. “Não tem por que se descuidar.”

Mas, se ponto de vista clínico a ideia de retomar a exigência de máscaras em locais fechados tem apoio dos profissionais da saúde, do ponto de vista prático a medida tende a esbarrar em um ponto: o quanto a população estaria disposta a aderir novamente a regras mais restritas relativas às máscaras.

“Neste momento eu acho que seria complicado obter a adesão da população para a volta da obrigatoriedade para qualquer ambiente fechado, mas quando se trata de situações em que se fica durante muito tempo em ambiente fechado, por exemplo, nas escola, sou favorável ao retorno do uso da máscara”, aponta a infectologista do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, Rosana Richtmann.

Máscaras em locais fechados também devem continuar sendo, afirma ela, item indispensável por aquelas pessoas mais suscetíveis. E por pessoas que convivem com alguém com quadro de maior risco.

Valor Econômico

.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *