Economia criativa entra na mira do mercado

Complexos multiuso não chegam a ser uma novidade no mercado imobiliário de São Paulo — pelo contrário, a cidade tem vivido um boom desses condomínios desde a década passada. Agora, no entanto, surgem empreendimentos com foco em atrair negócios ligados à economia criativa. São prédios pensados e desenvolvidos para atender empresas e startups que trabalham com inovação, sustentabilidade, criação de conteúdo, biotecnologia e eventos.

A tendência se justifica. Segundo dados da Investe SP, a economia criativa responde por 3,9% do PIB paulista, reúne 150 mil empresas, com 1,5 milhão de empregos gerados, e movimenta US$ 20 bilhões por ano no estado. A capital, inclusive, é reconhecida como um hub latino-americano de inovação, abri-gando mais de 2.760 startups.

De olho nessa oportunidade, incorporadoras e companhias do setor imobiliário têm lançado projetos com oferta de espaços para inovação. No Cidade Matarazzo, na região da Avenida Paulista, além de hotel cinco estrelas, restaurantes, apartamentos de luxo e de um futuro shopping, há o edifício Ayahuasca, projeto do arquiteto italiano Rudy Ricciotti, que está em fase final de acabamento e deve ser inaugurado no segundo semestre deste ano.

Por fora, a obra se destaca pelas longas estruturas de cimento em sua fachada, representando cipós. Por dentro, o pavilhão será conhecido como o primeiro hub de sustentabilidade do Brasil, que sediará o Aya Initiative: um ecossistema digital e colaborativo em que cerca de 1,2 mil empresas, ONGs, startups e instituições convergirão para criar e acelerar soluções em apoio à transformação verde da economia nacional.

“Estamos conversando com CEOs e lideranças empresariais de companhias que estejam comprometidas de alguma forma com a descarbonização dos negócios”, explica Patrícia Ellen, ex-secretária do Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo e cofundadora da Aya, em parceria com o francês Alex Allard, do Cidade Matarazzo.

Na Vila Leopoldina, Zona Oeste da capital, o Spark (complexo que reúne galpão de eventos, hub de inovação e restaurante) foi inaugurado no final de 2019. O empreendimento pertence à Altre, braço de investimentos imobiliários da holding Votorantim, que preferiu requalificar antigas instalações fabris do grupo na região em vez de vendê-las no mercado de incorporação.

“Recebemos muitas propostas na época, mas percebemos que o retrofit dos galpões para ocupá-los com usos diferentes agregaria mais valor ao imóvel”, explica Haig Apovian, gerente-geral de Investimentos Imobiliários da Altre.

Um deles passou por uma reforma estrutural e hoje abriga a Arca, espaço de eventos que já recebeu festivais de música eletrônica, exposições de arte e semanas de moda. O segundo galpão foi todo retrofitado pelo escritório norueguês SPOL, com ambiente para coworking, auditórios, laboratórios de pesquisa científica, salas de reunião e áreas privativas para empresas locatárias, como a Tok&Stok. Ali funciona também o State, hub de inovação focado principalmente em biotecnologia, criatividade e smart cities.

“O espaço é compartilhado por 54 companhias e startups. São engenheiros, cientistas, banqueiros e produtores de conteúdo, uma diversidade de pessoas com o propósito de criar e acelerar soluções, o que valoriza muito o empreendimento como um todo”, explica Jorge Pacheco, CEO do State. Em breve, a Braskem chegará por lá, com um time de desenvolvimento de novas embalagens sustentáveis.

O complexo, de cem mil metros quadrados, conecta-se aos quatro edifícios corporativos do Atlas Office Park, que pertence ao grupo. Com 93% de ocupação e empresas de tec-nologia, varejo e alimentos, o espaço recebe cerca de quatro mil pessoas diariamente.

Até aqui, a Altre investiu R$ 60 milhões na requalificação da área. A previsão é atingir R$ 2 bilhões em dez anos, incluindo zonas comerciais, parque linear, condomínios de apartamentos e de moradias populares para absorver as mais de 800 famílias carentes que moram no entorno do Spark. “Temos uma visão de longo prazo e buscamos deixar um legado para a cidade, com um empreendimento feito em fases, para que as pessoas descubram e ocupem o espaço aos poucos”, complementa Claudio Lima, gerente-geral de Investimentos da Altre.

Valor Econômico, caderno Imóveis de Valor

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