Busca por mais qualidade de vida em casa faz venda de imóveis na Barra crescer 90% na pandemia

A falta do vaivém de pessoas devido à pandemia foi sinônimo de baque econômico para muitos setores, como o de turismo. No entanto, foi o mesmo motivo — o fato de a sociedade estar mais voltada para o ambiente de casa, mesmo após o afrouxamento das medidas de isolamento — que aqueceu o mercado imobiliário durante o período, apontam especialistas. Um levantamento do 15º Ofício de Notas, localizado no Shopping Downtown, mostra uma disparada na compra e venda de imóveis na Barra e em bairros vizinhos.

O número de escrituras do tipo registradas no cartório passou de 1.707, em 2020, para 3.292, em 2021, um aumento de 92,9%. Apenas no primeiro semestre de 2022, 1.701 documentos foram assinados, 8,3% a mais que em todo o ano de 2019, quando foram feitos 1.572 registros de compra e venda no local.

Áreas de lazer como esta do condomínio Reserva Mirataia II, em Jacarepaguá, são uma das prioridades dos compradores
Áreas de lazer como esta do condomínio Reserva Mirataia II, em Jacarepaguá, são uma das prioridades dos compradores Divulgação/ Patrimar

— O nosso ordenamento jurídico diz que para uma transferência de imóvel no valor acima de 30 salários mínimos deve-se fazer escritura pública. No processo de registro, o tabelião faz a análise jurídica da propriedade e do vendedor, para verificar se estão em situação legal ou se existe alguma pendência, como uma ação contra o proprietário. Se estiver tudo certo, lavramos a escritura, que garante maior segurança jurídica ao comprador — explica Fernanda Leitão, tabeliã do 15º Ofício de Notas.

Dados do Secovi Rio, o Sindicato de Habitação do estado, confirmam o melhor desempenho do setor imobiliário nos dois primeiros anos de pandemia em relação ao período anterior. De acordo com a instituição, 4.406 imóveis foram vendidos em 2021 na Barra da Tijuca, 37,7% a mais que em 2020, quando o número chegou a 3.200. Em 2019, a cifra ficou em 2.937.

— A Barra é muito heterogênea em termos de moradia, com apartamentos de diversos tamanhos, em condomínios com segurança e infraestrutura para criar os filhos e garantir o lazer em família. Isso combinou muito bem com o momento de pandemia, em que as pessoas começaram a buscar mais qualidade de vida e um espaço maior dentro de casa, até por conta do trabalho no formato home office ou híbrido. Isso, somado a uma taxa de juros mais atraente em 2021, aumentou a quantidade de imóveis negociados na região — avalia Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi.

Moradores miram lazer e bem-estar

Após cinco anos morando no Pechincha, a consultora de vendas Karine Kremer, de 40 anos, vendeu seu apartamento no primeiro semestre do ano passado e comprou outro no empreendimento Verano, no Rio 2, em busca de uma área de lazer para seu filho dentro do condomínio. Ela conta que Bernardo Kremer, de 10 anos, estava dependente de celular e videogame, por falta de alternativa de distração em meio à crise sanitária.

— Passávamos muito tempo dentro de casa. Depois que as medidas de isolamento relaxaram, queria que meu filho pudesse descer e ter onde brincar. Mas, sem essa oportunidade, ele ficava o tempo inteiro nos eletrônicos, o que acabou o deixando mais ansioso — relata a mãe.

Diretor comercial e de marketing do Grupo Patrimar, que tem empreendimentos imobiliários na região, Lucas Couto afirma que o desejo por ambientes que favoreçam o bem-estar dos moradores é o da maioria dos compradores:

— De forma geral, as pessoas, da baixa à alta renda, procuram mais liberdade desde dentro do apartamento até a área comum do prédio. Prezam ambientes mais iluminados e mais abertos, com varandas e janelas maiores, por exemplo, além de uma infraestrutura de lazer completa, para desfrutarem disso com comodidade no dia a dia.

A construtora Novolar, segmento de baixa e média rendas do grupo, com empreendimentos lançados em Jacarepaguá, Recreio e Vargem Grande, beneficiou-se do bom momento do setor. Em 2021, vendeu 51,4% dos apartamentos ofertados (828 de 1.612); em 2020, o percentual havia sido de 27,8% (231 de 832).

Já a Patrimar, que chegou ao Rio em outubro do ano passado com empreendimentos de luxo, vendeu 48% (118 de 246) das unidades do Oceana Golf, localizado na Barra e o primeiro a ser lançado pelo grupo mineiro na cidade.

— Dentro da nossa ótica, a Barra da Tijuca como um todo é o desejo do carioca, porque é um bairro quase todo litorâneo, com muitas opções de comércio, incluindo diversos shoppings e supermercados. Então, é um bairro completo, o que acaba atraindo as pessoas. Com a pandemia, esse movimento natural que já acontecia foi potencializado, devido à valorização dos lares e do bem-estar. E a Barra, por ter um grande volume de empreendimentos lançados em áreas maiores, se comparados à Zona Sul, atende melhor o comprador nesse quesito — explica Couto.

O Globo

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