Casas modulares: as vantagens e desvantagens da nova tendência do mercado imobiliário

Em 2021, surgiu um rumor de que Elon Musk estaria vivendo em uma casa modular de 36 m², fabricada pela startup Boxabl. Bastou esta simples menção para que uma fila de 50 mil pessoas se formasse para conhecer os projetos de residência da empresa. Depois, o caso foi esclarecido: o homem mais rico do mundo não morava lá, mas acabou elogiando a iniciativa.

Mas, afinal, o que são as casas modulares? Podemos dizer que elas são um novo conceito de moradia. A construção modular é feita offsite, ou seja, é fabricada fora do local onde será instalada. Ela funciona como se fosse um produto, que você compra e manda entregar pronta em seu terreno. Neste ramo, existem basicamente duas formas de construção modular: a 2D e a 3D. “Na primeira, fabricamos a parede, o piso e o teto separadamente, enquanto na 3D o bloco inteiro já sai pronto para ser montado”, explica Felipe Ventura, CEO da Opus Construções Modulares, que já fabricou e entregou mais de 90 mil m² em módulos habitáveis para as principais empresas de construção civil e mineração do Brasil.

“A construção modular vem para revolucionar o mercado imobiliário e a construção civil”, comenta Kleverson Passos, idealizador da Jomi Houses, com foco no mercado de construção modular. Quanto à sua composição, as casas modulares podem ser feitas de diversos materiais, como madeira em seus mais variados formatos: bruta, engenheirada, madeira laminada colada (MLC), woodframe e chapas de OSB. Ainda existem as opções de steelframe, compostas por aço galvanizado e aço-carbono com chapa cimentícia, e as placas de concreto.

Quais as vantagens?

Os grandes benefícios de se investir nas construções modulares é a rapidez e baixo custo. Uma obra que demoraria cerca de um ano e meio para ser construída em alvenaria tradicional é feita com módulos em questão de meses, já que as estruturas saem prontas da fábrica, restando apenas a montagem. Inclusive, existem modelos que já chegam ao local de destino com a fiação elétrica e hidráulica instaladas. Além do tempo, o valor também é reduzido, já que há menos gastos com materiais e mão-de-obra.

Ainda, os materiais utilizados para a fabricação dos módulos são tão resistentes (ou até mais) que o concreto. “O aço é uma das matérias-primas mais resistentes que existe, além de ter mais longevidade. Se você golpear uma parede de concreto com uma marreta, ela vai quebrar, enquanto o aço irá apenas entortar”, ressalta Felipe Ventura. Atualmente, os módulos também contam com tratamentos termoacústicos, que permitem um maior isolamento do som e temperatura, como nas construções tradicionais.

“Outro aspecto que chama muito atenção é o layout, que possui um conceito mais minimalista e é muito instagramável”, afirma Kleverson Passos. Portanto, engana-se quem pensa que as casas modulares são todas iguais. “Quando falamos de modularização, você precisa ter um módulo básico, igual uma peça de lego. Em uma caixa de lego, uma peça é parecida com a outra, mas montando essas peças de formas diferentes, você tem edificações diferentes”, completa Ventura.

Porém, um fator que merece atenção é o fato das casas modulares não se darem bem em terrenos íngremes. Sua montagem demanda uma superfície plana por se tratar de uma construção autoportante, que não possui sustentação como na alvenaria.

Um modelo de construção sustentável

Segundo relatório publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em 2020, a área da construção civil é responsável por 38% das emissões de dióxido de carbono (CO₂). Os impactos acontecem desde a extração da matéria-prima e fabricação de materiais até a execução de obras e descarte de resíduos. Ainda, em tese de doutorado feita na USP São Carlos em 2009, foi atestado que a construção civil é responsável por 51% a 70% dos resíduos sólidos urbanos.

Enquanto isso, a construção modular é uma alternativa sustentável, porque reduz a quase zero o desperdício de materiais, além de utilizar menos água, brita, cimento, areia, entre outros materiais comuns na alvenaria. “A construção modular permite que você utilize os recursos de forma milimetricamente calculada. Uma chapa de aço vai ser cortada exatamente na metragem necessária”, diz Felipe Ventura. Além disso, existem módulos que vão além, como os projetos da Jomi Houses, que serão compostos por painéis solares e sistemas de reutilização de água da chuva.

Realidade brasileira e o futuro

A verdade é que o Brasil ainda está engatinhando no mercado de construções modulares, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando o modelo foi utilizado para recuperar cidades dos Estados Unidos e da Europa após o conflito. Porém, alguns setores, principalmente do mundo corporativo, já enxergam os benefícios de se optar pelos módulos habitacionais.

De acordo com pesquisa do Markets and Markets, este mercado representou US$ 82,3 bilhões em escala mundial em 2020, cerca de R$ 436 bilhões na cotação atual – e a expectativa é que chegue a aproximadamente R$ 577 bilhões em 2025, sendo o Brasil, a China e o Japão apontados como os países com mais oportunidade para se desenvolver.

É pensando nesta realidade que a Jomi Houses aposta em um empreendimento de casas modulares para locação de temporada. “O nosso foco são os clientes que buscam comprar para ter rentabilidade”, expõe Kleverson. O primeiro projeto da empresa está sendo construído em Pedra Azul, ponto turístico do Espírito Santo, e tem previsão de conclusão para 2023. E tem mais: a iniciativa conta com Marcus Buaiz como sócio. “É uma proposta inovadora em ramos já consolidados. Além disso, o projeto tem DNA capixaba e será o modelo para a expansão desse formato de negócios para outros estados”, comenta o empresário.

Além de instagramáveis, as casas modulares possuem uma construção mais ágil e barata, como este projeto desenvolvido pela Jomi Houses — Foto: Divulgação
Além de instagramáveis, as casas modulares possuem uma construção mais ágil e barata, como este projeto desenvolvido pela Jomi Houses — Foto: Divulgação

Já a Opus busca promover a industrialização da construção civil com abertura de uma nova fábrica. Nela, os processos de modularização serão automatizados e terão ajuda da tecnologia, como acontece na indústria automobilística. “Além de aumentar a escala da produção, queremos expandir nosso portfólio, explorando outras áreas do mercado modular, como a fabricação de casas”, explica Felipe. A nova indústria tem previsão para ser aberta até janeiro de 2023 e estima que irá aumentar a capacidade produtiva de mil módulos por ano para 13 mil. “A expectativa é produzir 10 casas por dia e entregar a compra, já montada, dentro de 7 dias”, completa.

Casa Vogue

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