Expectativa é de queda da inflação de curto prazo

A inflação de curto prazo precificada pelo mercado acumula queda expressiva nas últimas semanas e, agora, é negociada no menor nível desde 2021. A melhora é fruto de um cenário que combina a redução na cotações das commodities, o recuo nos preços dos combustíveis e o fortalecimento da perspectiva de que o centro da meta de inflação não será alterado no Brasil.

O movimento da inflação “implícita” — ou seja, embutida em outros indicadores — é acompanhado de perto pelos economistas, já que costuma anteceder a direção da trajetória das expectativas de inflação do Boletim Focus, que coleta projeções de mercado e é divulgado pelo Banco Central. Caso a dinâmica persista, é possível que se abra espaço para a discussão sobre o início do ciclo de cortes da taxa Selic.

Há algumas formas de se monitorar essa tendência. Uma delas é por meio da inflação extraída dos títulos públicos. A inflação medida pela NTN-B com vencimento em agosto de 2024 chegou a 6,49% — maior patamar deste ano — no dia 16 de fevereiro, e nesta segunda-feira marcava 4,37%. Já o indicador embutido na NTN-B para maio de 2025 caiu de 6,66% no mesmo dia de fevereiro para 4,98% nesta segunda.

Outra maneira de “ler” a inflação é por meio dos contratos futuros de cupom de IPCA, os chamados DAPs. São derivativos que os investidores usam para se proteger de flutuações na taxa de juro real do Brasil e apostar na trajetória da inflação. Nas máximas do ano, os DAPs para agosto de 2024 e maio de 2025 marcaram 6,57% e 6,73%, e fecharam o pregão de ontem aos 4,53% e 4,92%, respectivamente.

Se as medidas de inflação implícita apresentam recuo expressivo, o movimento exibido nas expectativas de inflação dos economistas no Focus ainda é bastante contido. Ontem, apesar de a mediana das projeções para o IPCA em 2023 tenha caído de 6,03% para 5,80%, a estimativa para 2024 oscilou apenas levemente, de 4,15% para 4,13%. Mesmo assim, foi a terceira queda seguida nas projeções para o ano que vem.

De acordo com o economista João Fernandes, da Quantitas, há vetores globais e locais influenciando a dinâmica da inflação implícita pelo mercado. Um deles é que vem crescendo a percepção de que o aperto monetário já praticado pelos bancos centrais terá impacto relevante nos níveis de inflação daqui em diante.

“Lá fora, existe a percepção de que há uma inflação corrente menor em regiões onde houve um aperto monetário maior. No Brasil, tivemos um aperto relevante e essa dinâmica reforça a ideia que esse nível de juros vai colocar a inflação em direção à meta. Também tivemos uma reversão importante no mercado global de inflação implícita e esses mercados acabam sendo correlacionados”, afirma.

Fernandes também aponta para uma dinâmica benéfica nos preços de alimentos, que tem contribuído para as revisões negativas nas projeções de inflação. “Há uma visão um pouco mais disseminada de que os alimentos vão ser um fator de baixa para a inflação não só em 2023 como também em 2024”, diz. Assim, o economista vê espaço para o recuo nas projeções do Focus continuar nas próximas semanas.

Valor Econômico

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