Inflação da construção perto do pico, diz economista

A inflação dos materiais de construção, que disparou nos últimos meses, deve ter atingindo um pico, mas é improvável que os preços voltem ao que eram antes da pandemia, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), em Live Valor.

Em 12 meses até julho, o custo dos materiais ao produtor cresceu 44%, enquanto os preços ao consumidor subiram 34%. As duas taxas são recordes da série histórica. “São níveis muito altos. Considerando o descompasso entre os dois índices, pode ser que ainda tenha uma pressão na ponta para quem compra material, mas é possível que a gente esteja próximo de um pico”, afirma Castelo.

Pico, porém, não quer dizer que a trajetória agora será de devolução da saltas. “Só uma reviravolta muito grande na conjuntura mundial e doméstica faria esses preços devolverem esse aumento”.

A inflação dos materiais, afirma a economista, tem sido majoritariamente influenciada por fatores externos, como o aumento das cotações das commodities, e pela desvalorização cambial. Produtos como vergalhões e tubos de ferro, alumínio, cobre entram nessa cesta. Há também preços mais influenciados por questões internas, como aumento de demanda, e mesmo a oferta interna menor, como cerâmicos e cimento.

No caso dos itens cujos preços são influenciados pelo exterior, Castelo diz que neste momento é difícil prever o futuro. Ela dá como exemplo a China, grande demandante de commodities metálicas, que esta semana fechou algumas regiões por causa do aumento de casos de coronavírus, o que levou a uma queda nos preços de ativos. Ao mesmo tempo, o mercado americano segue forte.

As altas dos preços dos materiais estão chegando a consumidor final no mercado imobiliário, diz Ana Castelo. As últimas sondagens da construção feitas pelo FGV Ibre, a de julho particularmente, mostraram um aumento grande de assinalações de empresas que pretendem repassar o aumento de custo para o preço final.

Além do repasse de custos, os juros também devem encarecer os imóveis. Mas apesar do aumento recente, as taxas do crédito imobiliário devem permanecer relativamente baixas em 2021, afirmou Ana Castelo.

As instituições financeiras têm elevado as taxas acompanhando o aumento da Selic, juro básico da economia. Ontem, a taxa subiu mais um ponto percentual, para 5,25% ao ano. No ponto mais baixo, a Selic chegou a 2%.

Ela considera o momento ainda favorável à tomada de crédito, o que a faz crer em crescimento acima de 4% no PIB da construção civil neste ano, após recuo de 7% em 2020. Depois de encolher 30% entre 2014 e 2018, o setor melhorou em 2019, com alta de 1,5%.

“Há uma série de fatores importantes indicando dinâmica mais positiva, mas a descida foi grande. Então retomar o padrão anterior ainda vai levar um tempo”, diz.

A consistência da retomada ainda é incerta. A infraestrutura segue com restrições. A área, vital para o crescimento sustentável, já teve investimentos que superaram 5% do PIB, mas hoje é de apenas 2%. “Não cobre nem a depreciação do capital”, afirma.

Valor Econômico

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