Câmbio e juros diminuem interesse por casa no exterior

Investir em imóveis de alto padrão nos Estados Unidos e Europa tornou-se uma alternativa para brasileiros de alto poder aquisitivo também em momentos de crise econômica. Nos últimos anos, com a recessão interna, a procura de casas e apartamentos de luxo no exterior por parte de brasileiros cresceu bastante, principalmente em cidades como Miami, Orlando, Nova York, Lisboa, Paris e Londres. Agora, influenciado pelas expectativas de retomada da economia brasileira, esse público está voltando a apostar no país. Juros baixos e desvalorização do real também contribuem para tornar o mercado brasileiro mais atraente.

“O mercado nacional agora é o grande concorrente, as pessoas estão preferindo investir aqui”, afirma Renata Firpo, diretora internacional da imobiliária Coelho da Fonseca. As taxas de financiamento imobiliário, diz, nunca foram tão baixas. Caíram de 11%, três anos atrás, para 7%. Descontando a inflação, dá uma taxa real em torno de 4%, mesmo nível da que vigora nos Estados Unidos, compara a especialista.

Não que tenha havido uma saída em massa de outros países e a expectativa é de que o movimento mude de direção, em função do câmbio, que pode encontrar um patamar mais estável em 2020, prevê Renata Firpo. “No ano que vem, a situação deve se acalmar e as pessoas devem aumentar novamente a busca por imóveis no exterior”, diz.

Em Portugal, o fluxo de brasileiros dessa faixa socioeconômica teve impacto no próprio mercado local. “O pico foi em 2018. É uma demanda que continua, talvez não na intensidade de 2017 e 2018, mas ainda é forte”, diz Rafael Ascenso, gerente geral da imobiliária Porta da Frente, com sede em Lisboa. Segundo ele, entre 2016 e 2018, a participação dos brasileiros no mercado de Portugal alcançou igual ou maior dimensão do que a dos próprios portugueses. Em 2018, a Porta da Frente vendeu 86 imóveis de alto padrão para brasileiros, com ticket médio entre € 900 mil e € 1,2 milhão. Algumas vendas alcançaram até € 4 milhões a € 5 milhões.

A maior parte dos brasileiros ricos que chegam a Portugal procura apartamento. “Eles querem algo cômodo, que possam fechar e viajar”, diz Ascenso. Buscam unidades de três a quatro dormitórios e preferem os bairros históricos de Lisboa e as cidades de Cascais e Estoril. Também pedem apartamentos com serviços de hotelaria (flats), modalidade praticamente inexistente em Portugal, mas que tende a crescer, para atender à demanda dos brasileiros.

Os compradores são normalmente empresários e famílias em busca de segurança e melhor qualidade de vida. “Uma das principais razões é a segurança”, diz Ascenso. Para Renata Firpo, Lisboa é hoje o grande destino para brasileiros. “A língua e a cultura são as mesmas, o clima se aproxima do nosso, a comida é conhecida. Culturalmente, a gente se reconhece”, define.

Em Orlando, no Estado da Flórida (EUA), outro destino preferido pelos brasileiros, uma opção são empreendimentos que combinam lazer e investimento. “A ideia é desmistificar a impressão de que ter casa a longa distância é complicado”, diz Felipe Guedes, diretor global de vendas da Magic Development, especializada na construção e operação de condomínios residenciais no estilo resort de luxo, próximo aos parques da Disney, que proporcionam geração de receita por meio de locação de curto prazo.

Essa é uma grande tendência de mercado, diz Guedes. Depois do Airbnb e opções semelhantes de hospedagem, grandes redes de hotéis estão investindo nesse tipo de empreendimento. “É uma forma de competirem com os aplicativos”, afirma. São condomínios residenciais administrados como hotel. No caso da Magic Development, são operados pela rede Wyndham.

“Os brasileiros sempre foram grandes investidores em imóveis na Flórida”, diz Guedes. Segundo ele, durante os anos mais intensos da crise, até 2016, o volume de compras em Miami e Orlando aumentou e a demanda continua aquecida. No caso dos condomínios do tipo residence resort, eles podem investir na região sem ter que se preocupar com manutenção das casas. Podem usar os imóveis quando quiserem e no restante do tempo deixá-los no programa de locação.

Os condomínios cinco estrelas da Magic Development contam com casas de três a quatro suítes no estilo townhome (ligadas umas nas outras), com mobília e decoração sofisticadas, por preços que variam de US$ 380 mil a US$ 560 mil. Eles dispõem também de serviços como concierge, equipes de manutenção e segurança 24 horas, motorista para viajar até o aeroporto, acompanhamento VIP nos parques da Disney, arrumadeiras e também cozinheiras.

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