Coronavírus: Bolsonaro tira protagonismo de Mandetta, mas gabinete de crise deve seguir orientações da Saúde

A mudança no governo sobre a crise do coronavírus com a centralização das atividades no Palácio do Planalto, sobre a coordenação do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, não deve implicar em uma guinada radical. A ideia é que o gabinete de crise siga as orientações técnicas do Ministério da Saúde, de Luiz Henrique Mandetta.

No Planalto, a avaliação é de que além do protagonismo de Mandetta, que incomodou Bolsonaro, a medida se justifica porque a pasta da Saúde não estava conseguindo sozinha dar vazão a medidas para tentar conter o avanço da pandemia no país.

A mudança, segundo auxiliares do presidente, tem como objetivo dar mais agilidade e fluxo às demandas que chegam ao governo. A ideia é que o gabinete de crise concentre os dados sobre as necessidades dos Estados — como, por exemplo, quais são as localidades que mais precisam de equipamentos de proteção aos profissionais da saúde.

O próprio Mandetta mencionou na entrevista dificuldades logísticas, por exemplo, que atrapalhavam a entrega de materiais, como ter apelado à entrega por caminhão para mandar uma carga de São Paulo para o Pará, o que demora até seis dias. A expectativa é que o gabinete de Braga Netto reúna todas as informações necessárias para conseguir coordenar a logística operacional dos ministérios que estão diretamente envolvidos no controle da crise epidemiológica.

Aliados do ministro da Saúde dizem que ele já estava preparado para uma reação mais dura de Bolsonaro. Depois da dura reunião no sábado, no Palácio da Alvorada, Mandetta afirmou a pessoas próximas que faria de tudo para evitar uma polarização com o presidente. O ministro passou a dizer tudo que menos queria, agora, era que a tensão política contaminasse a condução técnica da pasta. Por isso, afirmou que, para evitar atritos com o presidente, estaria disposto a sair do holofote.

A única preocupação de Mandetta, dizem aliados, era ter a garantia de que poderia continuar defendendo suas posições  — mesmo que elas não fossem respaldadas por Bolsonaro. A avaliação no governo é a de que o presidente não deixará de dizer o que pensa, mas os trabalhos serão pautados por orientações da ciência e da medicina. Assim, apesar do desconforto com a situação, Mandetta seguirá na mesma toada. Um aliado resumiu o quadro atual: o ministro não “esperneou” ao ser tutelado. Sua reação foi no tom de “me deixem quieto fazendo meu trabalho e vocês ficam com os holofotes”.

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