Depósito ‘self storage’ vira extensão do apartamento na pandemia

As prioridades do consumidor brasileiro em relação à moradia mudaram na pandemia. Uma série de estudos realizados pelo Google entre agosto e setembro para mapear os objetivos de quem pesquisou imóveis mostra que o sonho de adquirir a casa própria, citado por 25% dos entrevistados, foi superado por um incômodo: a casa não atende mais às necessidades do morador (28%).

Em terceiro lugar, as pessoas disseram não ter condições financeiras para continuar no imóvel em que estão (22%), e outra tendência é a necessidade de se ter um espaço delimitado para home office (19%).

Enquanto alguns optaram por moradias maiores em bairros afastados do centro (de melhor custo-benefício), outros estão aderindo a uma modalidade ainda pouco difundida no Brasil: o self storage. Os perfis de clientes são diversos, dos que quiseram liberar um ambiente para montar o home office àqueles que se mudaram para um apartamento menor por questões financeiras na pandemia e preferiram não se desfazer dos pertences.

Apontado em 2019 pelo Secovi-SP (sindicato da habitação) como uma tendência do mercado imobiliário, o self storage (com armazenamento em galpão ou depósito), conceito que surgiu nos Estados Unidos na década de 1960, ganhou força neste ano com essas novas demandas. De acordo com a Moby, que mantém unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro, a procura por seus boxes cresceu 60% entre abril e agosto. Hoje, 75% dos clientes são pessoas físicas que precisaram adaptar o espaço em que vivem.

Segundo o CEO Harry Taylor, os brasileiros começaram a enxergar a alternativa como um prolongamento do próprio lar. “Esse já é um fenômeno antigo dos EUA e da Europa e agora estamos vendo a procura crescer por aqui”, conta.

Modelo de self storage da Moby, que mantém unidades em São Paulo e Rio de Janeiro. Foto: Storm Studios

Para ele, foi a pandemia que impulsionou o movimento, por conta da necessidade de reorganização dos espaços. “O que era apenas uma área para descanso da família agora é utilizado tanto para o trabalho remoto quanto para o lazer”, exemplifica.

Entre as vantagens que muitos vêm na modalidade estão a desburocratização do contrato de aluguel (prazo mínimo de apenas 30 dias), isenção de taxas como IPTU ou condomínio, ausência de despesas com segurança e manutenção e, acima de tudo, o valor.

Na Moby, o box de 1 m² tem custo mensal de R$ 99. “O tamanho pode parecer pequeno, mas, para você ter uma ideia, móveis de um apartamento padrão de 70 m² cabem num box de 9 m²”, calcula Taylor. “É uma questão de organização e otimização do espaço.”

Para Mariana Wiederkehr, CEO da GuardeAqui – que teve crescimento de 33% nas locações e aumento de 20% no faturamento durante a pandemia -, a flexibilidade do contrato é também um grande apelo para os clientes residenciais, que hoje representam 70% da carteira.

“Você pode precisar de um espaço por dois meses, seis meses e depois não precisar mais”, diz. “É uma alternativa flexível e sem burocracia para guardar livros, coleções, móveis, bicicletas, tudo.”

Depósito por aplicativo

Foi esse o raciocínio da publicitária Isabella Crepaldi, de 34 anos, que decidiu sair do apartamento em que vivia para morar com o namorado no início da quarentena. “A gente percebeu que manter as duas casas não fazia sentido, mas tínhamos coisas duplicadas, como mesa de jantar e sofá, que seria difícil vender por causa da pandemia, e outras que queríamos guardar para um momento futuro, como meus móveis de varanda e livros”, conta.

Enquanto espera que o apartamento para o qual pretendem mudar no futuro fique pronto, ela optou por ajeitar tudo em um box da M3Storage – startup multinacional com sede no Chile – localizado no estacionamento de um hipermercado da Via Anchieta, na divisória entre São Paulo e São Caetano do Sul. A mensalidade é de R$ 240.

“Eles têm um formato digital de abertura da porta pelo aplicativo, que para nós funciona muito bem. Não precisamos estar presentes se alguém for retirar alguma coisa”, explica. Foi o caso de uma escrivaninha que estava guardada e que ela deu de presente para a cunhada.

A intenção do casal é manter o box mesmo quando for para o próximo imóvel. A publicitária fala que, na ponta do lápis, acaba valendo a pena. “É quase uma extensão da casa, como um depósito. São coisas que a gente quer manter sob nossa responsabilidade em vez de colocar na casa dos pais, mas de que a gente não precisa no dia a dia.”

Self storage dentro de condomínios

A solução de armazenamento que alia tecnologia e localização estratégica, aliás, foi a sacada da M3Storage, que dobrou de tamanho nos últimos 6 meses, com a inauguração de 15 novas unidades e previsão de abrir mais 10 até dezembro.

Seguindo o conceito de autoatendimento, a empresa transferiu toda a operação para o ambiente virtual: o cliente escolhe o box, faz a locação online e depois se dirige à unidade selecionada, acessando o locker pelo aplicativo.

Espalhadas por bairros residenciais, as unidades da empresa ocupam espaços como o subsolo de supermercados e até áreas comuns de condomínios. “Acreditamos muito na questão de preparar o prédio para plugar serviços e parceiros”, diz Alexandre Frankel, CEO da Housi e presidente do conselho da incorporadora Vitacon, que fechou parceria com a M3Storage para o edifício ON Paulista, no Viaduto Santa Generosa, com previsão de entrega para 2022.

“Tudo o que contratamos via celular e aplicativos o prédio é preparado para receber fisicamente, de modo profissional”, afirma.

Com 700 apartamentos inteligentes de 20 m², o empreendimento contará com um pool de lockers de self storage no térreo, que faz parte do conceito de “appspace”, em que toda a infraestrutura é pensada para receber serviços que facilitem a vida do morador. A contratação será feita pelo sistema de pay per use.

O Estado de SP

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