Setor imobiliário revela aumento da procura em Portugal por brasileiros

Mesmo com real desvalorizado frente ao euro e espaço aéreo fechado devido à pandemia de Covid-19, brasileiros retomaram a busca por imóveis em Portugal este ano.

Profissionais do setor imobiliário português divulgaram informações relativas ao trimestre e informaram que houve aumento em relação ao primeiro trimestre de 2020, pré-quarentena. 

E ainda reveleram dados de 2020, ano em que o Brasil figurou no topo de listas de buscas e transações estrangeiras.

O interesse recente levou os brasileiros a representarem mais de 50% da procura internacional pelo Belas Clube de Campo no primeiro trimestre deste ano. São números informados pelo empreendimento em Lisboa e ligeiramente acima do período pré-pandemia de 2020.

– Há 150 clientes identificados que querem viajar, visitar, confirmar e fechar. É política, pandemia… Estão cansados de ficar à espera. Em relação a 2020, tivemos aumento de 3%. Quando comparado entre trimestres com e sem pandemia, é positivo – disse Bruno Martins, diretor comercial do Belas.

Martins completa que a busca se intensificou nos últimos 15 dias, quando o governo português começou a flexibilizar o confinamento e as imobiliárias reabriram. Havia a expectativa de liberação de voos, o que não aconteceu.

As visitas digitais ajudam, mas o brasileiro dá preferência à conclusão presencial do negócio, ressalta a corretora carioca Flávia Motta, da iad Portugal, informando que a busca dobrou.

– A procura dobrou em relação ao primeiro trimestre de 2020. Mas o fechamento de fronteira é problema, porque a maioria não compra imóvel pela internet. Tem gente com passagem, angustiada, querendo vir – previu Motta, atuante em Lisboa.

Corretora número dois da rede ReMax, a curitibana Eliane Ribeiro contou que os brasileiros chegam a procurar um imóvel para investimento, que podem converter em habitação de aluguel, e outro para residência.

-Temos um núcleo de clientes, de pouco mais de 200 famílias, que acompanhamos. Uma parte tinha intenção de compra antes das eleições de 2018, mas desistiu. No último trimestre, nos procuraram novamente dizendo que querem retomar. A situação política é motivação. Buscam investimento, para tratar da legalização de documentos, e depois vão atrás de outro para morar. Mas a procura aumentou muito para residência, querem ver já, mesmo pela internet – disse Ribeiro.

Mesmo com o mercado imobiliário em recuperação, a agência de Ribeiro em Lisboa terminou o ano como número um da rede na Europa, de acordo com mensagens enviadas pela empresa. Na ReMax, os brasileiros estão no topo do ranking de aluguel e compra e venda, abaixo apenas dos portugueses:

Dados da Re/Max sobre transações estrangeiras
Dados da Re/Max sobre transações estrangeiras | Divulgação

Na Century 21, que informou ter aumentado sua faturação em 4,5% em 2020 (€ 49 milhões/R$ 331 milhões), os brasileiros representaram 7% do total internacional, mas muitos negócios esperam por conclusão este ano, disse o diretor executivo Ricardo Souza:

-A Procura de brasileiros aumentou 22% em 2020. Há um crescimento rápido do interesse que não se limita a Lisboa/Cascais. A preferência é pela compra em locais que têm liberdade para deslocamentos de 15 minutos. A ideia é viver como local.

Relatório Anual do Mercado Residencial do Idealista, portal de negócios imobiliários, revelou que 22% do tráfego do site para procura em 2020 foi internacional, sendo Espanha, França e Brasil os mais volumosos.

Nos vinte municípios mais procurados pelos estrangeiros listados no relatório, o Brasil lidera em Viana do Castelo, Braga e Leiria, o que reforça a tendência de procura por locais mais baratos e com espaço para enfrentar possíveis quarentenas. E os brasileiros são segundo em Lisboa e no Porto, cidades mais caras.

O portal informou que 1.465 brasileiros fizeram buscas nos últimos dois anos, a maioria atrás de imóveis para alugar. Mesmo quando procuram por Lisboa e Porto, os preferidos são os municípios mais baratos e fora dos centros, como Sintra, Vila Franca de Xira, Loures, Mafra, Amadora, Torres Vedras, Odivelas e Oeiras, na capital; e Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Maia, Gondomar, Valongo, Vila do Conde e Póvoa do Varzim, no Porto.

Em 2020, a ERA afirmou que recebeu mais de 140 mil visitas de brasileiros, cerca de 12 mil por mês: 36% com origem em São Paulo e 23% no Rio. Um aumento de 10% em relação a 2019, de acordo com a empresa.

A Christie ‘s Luximos, voltada para o mercado de luxo, relatou que os brasileiros representam 4% (São Paulo e Goiânia lideram), atrás de franceses e norte-americanos. Mas a empresa ressaltou que alguns dos clientes têm dupla cidadania e acabam classificados como portugueses.

Especialistas indicam que o mercado imobiliário resistiu à crise e começa a retomada em diversas velocidades. A tendência é que os preços das casa caiam, ainda que timidamente, assim como o valor do aluguel. Mas o fim das moratórias de créditos bancários e demais ajudas do Estado são ameaça ao setor e ao orçamento das famílias.

Os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) medem a quantidade de transações e permitem comparações anuais. Porém, os números mais atuais disponíveis para consulta ainda são os de 2019, quando os brasileiros foram terceiros ao comprarem 992 imóveis, investindo € 265 milhões (R$ 1,7 bilhão). Franceses adquiriram 5,4 mil. Britânicos, 2,6 mil.

Pode ter havido uma descida do número de compras em 2020 devido à pandemia. Mas analistas do setor apontam: mesmo que tenham comprado menos, os estrangeiros pagaram valor mais elevado pelos imóveis.

O Globo

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