Entrevista | CEO SKR Incorporadora: “A qualidade construtiva entregue no Brasil é incomparável”

Os novos rumos da SKR Incorporadora são o mote da entrevista a seguir com o engenheiro civil Silvio Kozuchowicz, CEO e fundador da empresa, que deve alcançar VGV de R$ 1,3 bilhão em 2022 – após crescimento de 258% no ano passado. A companhia estreou no segmento de gestão de ativos imobiliários, reforçando a aposta no lifestyle e na hospitalidade como estratégia de diferenciação.

Como o senhor avalia o atual momento do mercado imobiliário?

Silvio Kozuchowicz – O setor sofreu um baque muito forte com o aumento da inflação e o dos custos da construção civil ocorrendo simultaneamente, o que fez muitas empresas zerarem as margens. Mas já temos visto uma recuperação dos preços, com os valores se estabilizando em patamares anteriores aos dessas crises. O que está para trás, teremos que absorver. Vamos encontrar novos momentos de normalidade.

Em um setor tão competitivo, qual a estratégia para se diferenciar?

A SKR tem investido bastante em hospitalidade e lifestyle. Por exemplo, estamos trazendo um conceito de pop-up kitchen: serviço de cozinha com chefs renomados, seja para o público em geral ou o residencial. Um restaurante com café da manhã que poderá ser servido no local ou entregue nos apartamentos. É um conceito que temos visto nas grandes capitais do mundo: empreendimentos com torres independentes e um link de serviços de alimentação e facilidades.

Um condomínio ao lado de um hotel que funciona como prestador de serviços e de comodidades para o empreendimento residencial de alto padrão.

Da mesma maneira que os hotéis vivem uma tendência de se assimilarem a residências, o residencial da SKR tem buscado transformar o modo de viver com mais serviços, com requintes de hospitalidade.

A companhia estreou como gestora de ativos. Como isso mudou a organização?

Existe uma tendência que veio para ficar, de não aquisição de imóveis, mas do seu uso, com apelo para a população mais nômade, que se muda com frequência, os mais jovens. É uma atualização do mercado que não tínhamos em São Paulo.

Estamos desenvolvendo três empreendimentos com a Cyrela, a Canadian Pension Plan Investment Board (CPPIB) e a Greystar Real Estate Partners, LLC nesse modelo: serão cerca de 600 unidades destinadas exclusivamente para locação profissional nos próximos três anos. Seremos coproprietários nesses empreendimentos, e isso exigiu novas especializações da empresa.

É uma diversificação, não se trata mais de contratar e vender, mas de estar ao lado da moradia e ir além da entrega dos imóveis. Vamos ter unidades completamente decoradas e equipadas para a pessoa entrar e morar. Isso foi um aprendizado, mas é uma tendência que veio para ficar.

O paisagismo ganhou protagonismo no pós-pandemia?

O paisagismo já fazia parte dos nossos projetos, e estamos reforçando isso no pós-pandemia. Agora, além da arquitetura e do design, passamos a usar o paisagismo como mote. É o verde retomando um espaço que é dele, com plantas nativas invadindo as áreas comuns e de transição. As pessoas se conscientizaram do quanto estavam distantes da natureza e do quanto ela nos faz bem.

O design passou a ser percebido com mais valor pelo cliente?

Espero que sim. Buscamos antecipar tendências há muito tempo, criando projetos com grandes arquitetos como Isay Weinfeld, Perkins&Will, Andrade Morettin, Triptyque e Angelo Bucci. Agora, tentamos romper com a visão modernista, trazendo um pouco mais de textura, mmovimento e inovação para aquecer os interiores dos projetos.

Como a inovação tecnológica tem impactado os produtos imobiliários e seus consumidores?

Os aplicativos de serviços vieram para ficar, trazendo mais praticidade e segurança para os usuários. Do ponto de vista estrutural, a tecnologia embarcada nos prédios já é muito diferente do que aplicávamos há cinco anos. Cabeamento para 5G e infraestrutura de carga para carro elétrico, com medidores de consumo individualizados, são opções que já existem em antecipação ao futuro. Acho que o cliente ainda não está percebendo isso, mas são diferenciais para a qualidade de vida nos próximos anos.

Como engenheiro de formação, o senhor acha que a qualidade construtiva aumentou no segmento de alto padrão?

Acho que hoje em dia se constrói melhor. As próprias normas ficaram mais restritivas. Cada prédio precisa ser adaptado a uma demanda local, do ponto de vista de acústica, hidráulica e segurança. O consumidor atual é muito mais exigente do que foi no passado e não admite receber qualquer coisa. Por outro lado, isso está encarecendo a construção. A qualidade construtiva entregue no Brasil hoje é incomparável, tão boa quanto à vista nos grandes centros mundiais. Agora a qualidade está presente também em projetos que atendem às novas demandas sociais. As pessoas querem se relacionar mais, e essa interação deve ser estabelecida nos projetos. O mercado imobiliário tem escutado melhor essa voz e adequado os projetos a essas demandas – e não o contrário. Nosso setor estava atrasado nesse sentido e agora está conseguindo ser protagonista dessas mudanças.

Valor Econômico, caderno Imóveis de Valor

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