Quais serão as principais tendências de tecnologia em 2023?

Ao mesmo tempo em que o ano de 2022 penalizou as empresas de tecnologia, muitas tendências surgiram ou se consolidaram. Conceitos como o metaverso, NFTs e Web3 já fazem parte da realidade de muitas empresas. E os investimentos em tecnologia devem continuar. Pelo menos é o que aponta a pesquisa “Incentivo à adoção de tecnologias emergentes na América Latina”, feita pela Harvard Business Review Analytic Services e NTT DATA.

O levantamento ouviu 316 executivos do Brasil, Argentina, Chila, Colômbia, Peru e México, e mostrou que 90% deles pretendia aumentar seus investimentos em tecnologia. Mas afinal, quais áreas e segmentos prometem ganhar relevância nos próximos meses? Especialistas respondem!

Web 3.0

A Web3 é uma nova “fase” da internet que conhecemos. Nela, os usuários têm o controle total sobre suas atividades on-line. Isso significa que as pessoas terão mais privacidade e autonomia em suas ações na rede, em seus armazenamentos de dados e até mesmo em suas transações. Nas fases anteriores da internet (ou seja, a Web1 e a Web2), as informações e armazenamento de dados estavam concentrados em grandes empresas, como o Google e o Facebook. Agora, a proposta é que isso se descentralize e as pessoas usem outras plataformas para fazer suas atividades on-line, que vão desde conversas com amigos até transações financeiras.

Segundo Alexandre Adoglio, presidente da startup Sonica, que oferece uma plataforma para projetos dentro desse conceito, a expectativa para 2023 é que haja um movimento de maior adoção nos chamados “tokens operacionais”.

“Embora tenha tido uma vertiginosa adoção inicial, as NFTs de imagens colecionáveis serão substituídas pelos tokens operacionais, que são os assets digitais com funções específicas na jornada on-line dos usuários em interface com marcas e negócios”, explica.

Os tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) são certificados digitais, registrados na blockchain, que determinam que um ativo pertence a uma determinada pessoa. Trocando em miúdos, os NFTs representam virtualmente qualquer tipo de item, que pode ser real ou intangível, como artes visuais, músicas, vídeos, itens virtuais dentro de videogames (como roupas, armas, avatares), etc.

Já os tokens operacionais têm em seus dados a informação que se requer para fazer uma operação com ele, como o acesso a alguma coisa, que pode ser uma lista de espera para comprar um item ou mesmo a entrada para um show.

ESG

O investimento em sustentabilidade e na agenda ESG (sigla que contempla questões ambientais, sociais e de governança corporativa) segue em evidência, inclusive na área da tecnologia. Para Jackson Chirollo, presidente da Edmond, empresa que presta serviços para transição energética no Brasil, as chamadas “finanças verdes” devem ganhar força em 2023.

“Seja para aderir à energia renovável, garantir economia circular ou para proteger a biodiversidade, as finanças verdes impulsionam um movimento alinhado às preocupações quanto ao não atingimento das metas do Acordo de Paris”, diz.

‘Execução 4.0’ no varejo

A chamada “era dos dados”, em que praticamente tudo sobre a vida dos consumidores pode ser mapeado pelas empresas por meio da internet, continua em foco e deve seguir baseando as relações das empresas com os clientes.

Segundo Pedro Galoppini, executivo da empresa de softwares Involves, informações coletadas em pontos de venda, como lojas físicas e supermercados, ajudam a indústria a repensar produção e distribuição de produtos, “que será cada vez mais personalizada conforme o público-alvo, evitando desperdícios ou falta de itens em estoque.

Eventos híbridos

Uma das heranças da pandemia para o setor de eventos foi o surgimento dos chamados “eventos híbridos”, em que parte dele é realizada ao vivo e parte pode ser on-line, com transmissão de conteúdos e participação de convidados feita pela internet. Exemplo disso é que a Yazo, fornecedora de aplicativos para eventos da América Latina, teve um aumento de 245% na demanda no primeiro semestre de 2022 ante o mesmo período de 2021.

“As atrações on-line ganharam espaço ao longo dos meses de pandemia, democratizando o acesso ao conteúdo oferecido nos eventos, e devem se manter; com cada vez mais congressos e convenções adotando o formato híbrido”, afirma Guilherme Silva, executivo da Yazo.

5G

O 5G é uma nova tecnologia de transporte de dados em rede envolvendo dispositivos móveis. Trocando em miúdos: uma nova rede de internet para celular. A cada nova tecnologia implantada, a qualidade e velocidade do sinal melhoram (por isso o 4G é superior ao 3G e assim por diante).

Segundo Fabiano Dell Agnolo, diretor executivo da associação de empreendedorismo Join.Valle, em 2023, a rede de internet 5G “abrirá portas e ajudará no alcance da maturidade digital nas indústrias e negócios em geral”.

“A análise de dados é essencial para um bom funcionamento das empresas e, com a chegada do 5G, a distribuição de informações das máquinas para a nuvem será otimizada. Agora, o objetivo é ampliar o acesso ao 5G e tornar possível essa hiperconexão”. Segundo o executivo, a geração de dados dos processos e equipamentos simultaneamente, e geridos por plataformas em nuvem possibilitam muita eficiência na gestão, o que, naturalmente, promove ganhos de competitividade global.

Soluções de gestão integrada e compras conjuntas para PMEs

Outra tendência para 2023 está nas tecnologias que ofereçam produtos e serviços para gestão de negócios de franquias e de compras conjuntas, na qual várias empresas se unem, como uma cooperativa, para adquirir determinados produtos ou itens e, assim, garantir um poder de barganha maior junto aos fornecedores.

Jonatan da Costa, presidente da Área Central, empresa de soluções para centrais de negócios, afirma que as compras em conjunto devem ganhar força em 2023 por serem uma solução para as empresas economizarem. Com isso, deve surgir também uma demanda por softwares e soluções que auxiliem na gestão e administração dessas compras em conjunto por parte das companhias.

“Além da economia, essas estratégias geram aumento da competitividade, agilidade e automação das operações e fornecem uma ampla base de dados que favorece tomadas de decisão mais inteligentes”, afirma.

Segurança de dados

Desde a aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), muitas empresas ampliaram suas políticas e diretrizes para garantir a segurança das informações dos clientes. Uma tendência para 2023 é o aprimoramento de produtos que ajudem a mitigar os riscos de vazamentos, segundo Marcela Quint, presidente da Aurum, empresa de tecnologia especializada em softwares jurídicos. A companhia, por exemplo, investiu na criação de equipes especializadas e na implantação de processos de segurança da informação e inteligência contra ameaças.

“Implementamos várias melhorias, como o processo de resposta a incidentes, o desenvolvimento da cultura de segurança na empresa, a montagem de um time de cibersegurança e a adoção de ferramentas de Cyber Threat Intelligence (Inteligência de Ameaças Cibernéticas, em tradução livre)”, afirma.

Superapps

Os chamados “superapps”, que oferecem diferentes serviços dentro de um mesmo aplicativo, são apontados pela consultoria Gartner como uma das dez principais tendências de tecnologia para 2023.

Em muitos casos, as próprias companhias começam oferecendo um serviço e vão ampliando de acordo, por exemplo, com a demanda dos clientes. Foi o caso da Deskbee, empresa de tecnologia que oferece uma solução completa de gestão de trabalho.

“Nossa plataforma começou como um aplicativo para reserva de estações de trabalho, com foco no modelo híbrido”, afirma Flahane Roza, principal executiva de marketing da companhia. “Desde que começamos, porém, expandimos nossas funcionalidades. Hoje, a Deskbee conta com diversos tipos de mapeamentos, reserva de salas físicas combinada com reuniões on-line, integração com controles de acesso a prédios, módulo de chamados customizados, ‘dashboards’ inteligentes que entregam analytics sobre a ocupação de diferentes áreas da empresa. Ou seja, um hub completo para colaboradores e gestores”, diz.

Plataformas de armazenamento em nuvem

Até o ano de 2027, mais de 50% das empresas usarão plataformas em nuvem para melhorar seus negócios. Trocando em miúdos, o termo “em nuvem”, se destina àquelas plataformas em que informações e dados ficam armazenados em algum lugar da internet (chamado de “nuvem”). A projeção foi divulgada pela consultoria Gartner, que colocou a tecnologia entre as 10 principais tendências estratégicas para o ano de 2023.

“As plataformas na nuvem oferecem atualizações automáticas, escalabilidade e facilidade para incorporar novas funcionalidades, vantagens cada vez mais necessárias para o universo das fintechs”, explica Felipe Santiago, presidente da CashWay, plataforma que oferece serviços para instituições financeiras.

Integração do mercado financeiro com startups

Com o surgimento de novos produtos e tecnologias no setor financeiro, as empresas tendem a usar cada vez mais o serviço de startups de tecnologia, especialmente para prover soluções ágeis e práticas para o trabalho são tendência. Quem afirma é André Mello, presidente da RTM, empresa que oferece soluções de integração para empresas financeiras.

“A mais recente inovação da RTM nesse sentido é a RTM Community, uma soft turret que permite que traders e profissionais do setor se comuniquem via plataforma para fechar negócios, utilizando qualquer dispositivo, como smartphone, computador ou tablet, de qualquer lugar, sempre cumprindo com todos os requisitos de compliance e auditoria exigidos no setor”, diz.

Tecnologias de padronização para franquias

A padronização é uma característica fundamental das franquias. Ao longo da pandemia, no entanto, muitas redes adotaram as chamadas auto avaliações, no qual as marcas disponibilizam listas de itens a serem verificados em cada unidade. Os franqueados, por sua vez, preenchem as listas e informam todos os pontos de atenção para manutenção da padronização e qualidade da rede.

“Mesmo após o abrandamento da pandemia, as rotinas de auto avaliação se mantém populares, porque simplificam um processo que costumava exigir muito investimento de tempo e dinheiro”, afirma Guilherme Reitz, presidente da Yungas, plataforma especializada na gestão e comunicação de grandes redes.

Low-code e no-code

Os termos estão relacionados ao desenvolvimento de aplicativos (que podem ser aplicações para computadores, apps para celular, sites e etc), exigindo pouco conhecimento de programação (“low Code”) ou mesmo nenhum conhecimento (“no code”).

Flávio Gonçalves, presidente da SIPPulse, empresa que desenvolve soluções para o mercado de telecomunicações, afirma que deve haver um crescimento na busca de soluções do tipo para digitalizar fluxos de trabalho, tornando-os mais fáceis e acessíveis para diferentes pessoas.

“Plataformas low-code possibilitam a rápida criação e implementação de novos aplicativos de software sem codificação para automação de fluxos”, afirma. “A adoção das plataformas com recursos ‘low-code’ vai impactar diretamente no desenvolvimento de novos produtos, melhor experiência para clientes e funcionários, mais valor e receita para as empresas”, finaliza.

Automação

  • Automação e robótica na cadeia de suprimentos

O investimento em tecnologia e automação nos armazéns ajuda a garantir um varejo mais eficiente, segundo Marco Beczkowski, diretor de vendas da Manhattan Associates, empresa que oferece serviços de tecnologia para a cadeia de suprimentos. Para ele, o ano de 2023 será marcado por uma aceleração significativa do uso de automação e robótica.

“Embora não esperemos que os robôs substituam os humanos nos principais papéis da cadeia de suprimentos, veremos um progresso maior na colaboração entre homem e máquina à medida que mais robôs forem desenvolvidos para complementar a força de trabalho humana assumindo tarefas mundanas e repetitivas”, explica.

  • Automação da agricultura

Na agricultura, o uso de ferramentas de automação também deve ganhar ainda mais força. Segundo Alexandre Alencar, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da divisão de Agricultura da Hexagon, a automação plena ainda está longe de ser realidade, mas a tecnologia vem avançando rapidamente.

“Os sistemas de automação garantem uma série de benefícios. Com a utilização do piloto automático na lavoura, por exemplo, você tem certeza de estar executando a operação exatamente em cima da linha de cultivo, posicionando a máquina no local correto para a colheita, o plantio ou aplicação de insumos”, explica. “Isso significa tirar o esforço físico e transformar a ação do homem em atividade intelectual, para que ele trabalhe com decisões e deixe o trabalho pesado e monótono apenas para as máquinas”, afirma o executivo.

Valor Investe

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