Censo: Brasil chega a 203 milhões de habitantes

Quantos somos? No mais completo retrato da população brasileira, o IBGE começa a divulgar nesta quarta-feira os resultados do Censo Demográfico de 2022. E contou nada menos do que 203.062.512 de habitantes no país. O número representa um aumento de 12 milhões em relação a 2010, data do último levantamento.

E surpreende pelo ritmo acelerado da transição demográfica do país. Nunca a população do país cresceu tão pouco. Em média, foi apenas 0,52% ao ano nos últimos 12 anos – a menor taxa já registrada desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Grandes cidades já veem sua população encolher.

  • A população do Brasil chegou a 203.062.512 de residentes em 2022
  • Em 2010, eram 190.99.755 milhões de habitantes no país
  • Pandemia de Covid, epidemia de zika e migração global explicam o baixo crescimento da população, diz o IBGE
  • Capitais, como Salvador e Rio, já veem sua população encolher. Mas São Paulo, a maior cidade do país, não para de crescer
  • Este foi o “Censo do não”: houve recusa a responder a pesquisa em 1 milhão de domicílios

Estas são as primeiras informações que ajudam a traçar uma fotografia do Brasil depois da pandemia de Covid-19. A pesquisa deveria ter ido a campo em 2020, mas a crise sanitária e o impasse orçamentário com o governo federal, durante a gestão de Jair Bolsonaro, atrasaram a coleta. O último Censo foi realizado em 2010 e, de lá pra cá, o instituto realizava projeções para estimar o tamanho da população brasileira.

O resultado indica que o país cresce a um ritmo de crescimento cada vez menor. Desde o Censo de 1970 a taxa de crescimento vem caindo, mas nunca foi tão baixa. Entre 2000 e 2010, a população avançava 1,17% ao ano. Em pouco mais de uma década, o crescimento da população caiu a menos da metade: passou para 0,52% ao ano.

Apesar disso, houve uma alta de 34% no número de domicílios: agora há 90,6 milhões de lares no país. Em 2010, eram 67,6 milhões.

A evolução da população do país — Foto: Editoria de arte
A evolução da população do país — Foto: Editoria de arte

Segundo o IBGE, a ausência de uma contagem de população no meio da década impactou na surpresa do resultado. Além disso, fatores como a alta mortalidade devido à pandemia de Covid, a epidemia do zika vírus e a migração global podem estar por trás do número de população abaixo do estimado anteriormente.

No entanto, os especialistas do instituto avaliam que ainda é cedo para cravar explicações:

— Precisamos de mais tempo para analisar os resultados e esse efeito demográfico que aconteceu. Estamos fazendo um Censo praticamente depois da maior crise sanitária que abateu o mundo. (…) Esse Censo vai trazer partes bastante afetadas pelo Brasil pós-pandêmico — diz Cimar Azeredo, presidente interino e diretor de pesquisas do IBGE.

A região Norte foi a que registrou maior queda no crescimento anual da população. Em 2010, o número de habitantes nessa localidade crescia 2,09% ao ano. Em 2000, chegava a 2,86%. Já em 2022, despencou para 0,75% ao ano. Por outro lado, o Centro-Oeste teve maior resiliência: foi a única região com crescimento ao ano superior a 1% em 2022.

A região crescia 2,39% ao ano em 2000 e 1,9% em 2010, mas seu recuo foi menos intenso. A região, que tem ganhado participação no PIB brasileiro em razão do avanço do agronegócio, teve um crescimento populacional de 1,23% ao ano. O Nordeste amargou o menor crescimento em 2022: somente 0,24%.

‘Maternidade não está nos meus planos de vida’

Os números refletem a queda no número de nascimentos, um movimento que vem se consolidando no país. Aos 34 anos, Pamella Oliveira segue firme em sua decisão: a de não querer ter filhos. Consultora de Recursos Humanos, ela conta que não houve motivo ou fato específicos que motivaram sua opinião — sempre foi assim, desde pequena.

— Não quero ter que abrir mão de algo porque sou mãe. Moro sozinha, consigo me manter bem, pagar minhas contas, viajar… A maternidade não está inclusa nos meus planos de vida — explica.

País tem famílias cada vez menos numerosas

Com a população crescendo a um ritmo cada vez mais lento, o tamanho das famílias brasileiras encolheu. Pela primeira vez, há menos de 3 moradores por domicílio no Brasil: são 2,79. Em 1980, cada casa no país tinha em média 4,51 habitantes – ou seja, uma família de pais e 2 ou 3 filhos.

Porto Alegre é a capital com as menores famílias: 2,37 moradores por casa. Em Macapá, são 3,56.

A queda do número médio de integrantes das família — Foto: Editoria de arte
A queda do número médio de integrantes das família — Foto: Editoria de arte

Número de habitantes é menor que a projeção anterior do IBGE

O contingente de 203 milhões de habitantes é inferior ao estimado anterior pelo IBGE no final de dezembro de 2022, quando o órgão apurou que o país possuía 207,78 milhões. Na avaliação de Claudio Stenner, diretor de Geociências do IBGE, a disparidade reforça a importância de ser realizada a contagem da população em 2025, no meio da década.

Cimar Azeredo, concorda com a importância da contagem no futuro, e avalia que os impactos da pandemia poderiam ter sido mais brandos caso tivesse sido feita a pesquisa no meio da década:

— A pandemia pegou o Brasil num apagão de dados — disse.

Além de auxiliar na formulação de políticas públicas, o número de habitantes nas diferentes regiões do país é relevante porque impacta na distribuição de recursos do governo federal para estados e municípios.

Todos os anos, até o final de dezembro, o IBGE tem o compromisso legal de encaminhar ao TCU (Tribunal de Contas da União) a relação da população dos mais de 5.500 municípios brasileiros.

Censo tem impacto nos repasses aos municípios

Os números balizam o cálculo das quotas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) – recursos que o governo federal destina a estados e municípios. Seu repasse é feito com base em faixas populacionais. Nesse sentido, um número menor de população afeta diretamente o montante de recursos.

Quanto maior a população de um município, maior será o acesso a essa verba. Mas, se um município acaba perdendo população, ele tende a mudar de faixa populacional e ganhar menos dinheiro do governo federal.

Cimar Azeredo, do IBGE, reconhece que o modelo de distribuição do Fundo de Participação dos Municípios “cria uma animosidade entre o prefeito e o órgão de pesquisa”:

— Não tenho dúvidas de que seremos questionados. Para um prefeito, perder um morador significar perder um pedaço do bolo de distribuição do FPM. E o IBGE convive com isso fazendo as respostas e acatando as decisões judiciais, como sempre fez.

Sudeste é a região mais populosa; Centro-Oeste é a menos

A região Sudeste continua concentrando a a maior parte dos brasileiros: abarca 84,8 milhões de habitantes, o que representa 41,8% da população brasileira. Os três estados mais populosos – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – concentram 39,9% da população do país.

No outro extremo, a região Centro-Oeste é a menos populosa. Abarca 16,3 milhões de habitantes ou 8,02% da população do país.

Extra Online

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