Analistas veem impulso para Bolsa e fundos imobiliários

Com a expectativa de que os juros continuem no piso histórico e que o crescimento ganhe fôlego, 2020 será mais um ano em que as melhores oportunidades de investimento estarão reservadas a quem aceita tomar risco. Segundo especialistas, os investidores que quiserem tentar um ganho maior para suas aplicações deverão reforçar as apostas em Bolsa e fundos mais arrojados para aproveitar a retomada econômica prevista para o próximo ano. Sem, é claro, descuidar de uma reserva de emergência investida em poupança ou em renda fixa, com menos risco de perdas.

Para analistas, a taxa básica de juros, a Selic, pode se manter a 4,5% ao ano ou cair para 4,25%, o que reduziria ainda mais os ganhos da renda fixa. Para uma aplicação de baixíssimo risco que pague 100% do CDI (taxa de referência que segue a Selic), a rentabilidade líquida, descontando o Imposto de Renda (IR), ficaria abaixo da inflação. Ou seja, o investidor estaria perdendo dinheiro ao aplicar nesse produto. Embora não seja tributada com IR nem cobre taxa de administração, a caderneta de poupança também verá sua rentabilidade minguar, já que rende apenas 70% da Selic.

— A renda fixa não será atrativa. O investidor vai estar lutando para ter ganho real no curto prazo. Há opções com rentabilidade em papéis atrelados à inflação, por exemplo, mas há riscos, porque não se espera que os juros permaneçam tão baixos em 2021 — diz Martin Iglesias, especialista do Itaú Unibanco.

Por isso, recomenda-se manter nos investimentos mais conservadores — como o título do Tesouro Direto que acompanha a Selic e os fundos DI — apenas a chamada reserva de emergência.

Quem quiser buscar alguma rentabilidade a mais na renda fixa terá que buscar títulos isentos de imposto, como Letras de Crédito (LCI e LCA), debêntures incentivadas (títulos de dívida para projetos de infraestrutura) e os Certificados de Recebíveis (CRI e CRA). Mesmo assim, o recomendável é aplicar nessas categorias por meio de fundos de crédito ou de debêntures, observa Henrique Bousquat, sócio da assessoria financeira All Investimentos.

PEQUENAS EMPRESAS

Já no caso da Bolsa, especialistas enxergam maior potencial de retorno. Analistas estimam que o índice de referência Ibovespa fechará 2020 na casa dos 140 mil pontos, uma alta de cerca de 20% em relação ao patamar atual. Se o bom desempenho das ações em 2019 foi impulsionado pela aprovação da reforma da Previdência, no ano que vem, o salto deve ser puxado pela melhora nos resultados operacionais das empresas. O movimento deve ser ainda mais intenso em empresas menores, afirmam os especialistas.

— Esperamos que R$ 210 bilhões em investimentos entrem na Bolsa, graças a uma maior participação de pequenos investidores brasileiros e de fundos de pensão no mercado de ações — explica André Carvalho, do Bradesco BBI.

Para investidores pessoas físicas, o recomendável é aplicar em ações por meio de fundos de gestores com bom retrospecto e através dos chamados fundos de índice (ETFs), cujas cotas são negociadas em Bolsa. Mesmo assim, o investidor deve estar preparado para uma grande volatilidade.

— Para o pequeno investidor, ou quem ainda quer testar esse mercado, os ETFs são uma boa opção para se expor à Bolsa com um baixo custo. Mas quem deve extrair os melhores resultados são os bons gestores de fundos de ações, principalmente os de small caps (empresas menores), de companhias mais ligadas à economia doméstica — afirma Thiago Salomão, analista da corretora Rico.

Quem prefere não se arriscar diretamente na volatilidade da Bolsa tem nos fundos multimercados uma alternativa. Esses fundos têm ampla liberdade para escolher em quais ativos investir, mas devem respeitar o nível de risco contratado pelo investidor. Há fundos voltados para investidores conservadores a moderados, por exemplo.

— Recomendamos que todos tenham aplicações nesses fundos como forma de diversificação e de se obter ganhos acima do CDI sem muita oscilação — observa Gilberto Abreu, diretor de Investimentos do Santander.

Outra categoria de investimento que teve bom desempenho em 2019 e continua entre as principais apostas para o ano que vem é a dos fundos imobiliários. Esses fundos adquirem imóveis, sejam residenciais, comerciais ou mesmo espaços em shoppings, e costumam distribuir periodicamente aos cotistas a renda obtida com aluguéis. Muitos deles têm cotas negociadas na Bolsa, oferecendo ao investidor a oportunidade de lucrar também quando elas se valorizam.

O índice da Bolsa que mede o desempenho dos fundos imobiliário subiu mais de 30% em 2019, turbinado pela queda dos juros. Em 2020, essa alavanca será menor, mas a expectativa de analistas é que a categoria seja favorecida pela retomada do mercado imobiliário diante da previsão de um crescimento mais intenso da economia.

— Esses fundos são uma opção interessante de diversificação. Além disso, têm o rendimento mensal isento de imposto — lembra Marcelo Santucci, do BTG Pactual.

RISCO EXTERNO

Quando o investidor vende as cotas do fundo imobiliário, porém, ele paga IR de 20%.

Na avaliação de Marco Bismarchi, sócio da assessoria financeira TAG Investimentos, o cenário para investimentos em 2020 será semelhante ao de 2019, porém com mais desafios. Ele lembra que, apesar da aparente trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China, a economia global está em desaceleração. No caso dos EUA, alguns economistas temem que os anos de crescimento possam ter chegado ao fim, com o país se aproximando de uma recessão.

— Em 2020, o investidor precisará ter mais seletividade e buscar mais risco, porque os retornos não serão tão óbvios — resume Bismarchi.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *