CPPIB planeja duplicar seus investimentos no Brasil

O fundo de pensão canadense CPPIB (Canada Pension Plan Investment Board) planeja dobrar seus investimentos no país até 2025. Hoje, a América Latina responde por 4% do portfólio global do CPPIB, o que representa cerca de R$ 64 bilhões. A meta do grupo é levar essa fatia a 7% ou 8% – na região, metade dos investimentos está alocada no Brasil.

“O problema não será falta de capital. O desafio será encontrar os projetos, os ativos e os parceiros certos”, afirmou, ao Valor, Rodolfo Spielmann, chefe do grupo na América Latina.

Hoje, a atuação do fundo no país é focada principalmente no mercado imobiliário e em energia elétrica, mas há planos de ampliar o portfólio no longo prazo.

Um dos setores na mira do grupo canadense é o de infraestrutura. Para ampliar sua atuação nesse mercado, o CPPIB tem buscado operadores que já atuam no país, com quem possa vir a firmar alianças estratégicas e de longo prazo.

A ideia é seguir o modelo da parceria com a Votorantim Energia, firmada em 2017. Hoje, a joint venture é uma das grandes geradoras de energia do país, com investimentos em parques eólicos, no Piauí, e na Companhia Energética de São Paulo (Cesp).

“Somos investidores financeiros, não temos a ilusão de querer operar ativos. Fornecemos capital, governança, mas visamos parceiros que cuidem da operação. Precisamos de mais ‘Votorantins’ para outros segmentos, como rodovias, aeroportos, saneamento”, afirma Spielmann.

No caso de água e esgoto, a aprovação do novo marco legal é um incentivo importante, diz ele. “É um setor interessante a médio, longo prazo. Nos próximos anos, haverá cada vez mais oportunidades, não só em São Paulo como pelo Brasil afora. Estamos nos posicionando no setor, vendo quais ativos têm escala e quais são os possíveis parceiros.”

Para o executivo, um dos motivos para a baixa participação em infraestrutura no Brasil até hoje é a falta de previsibilidade na carteira de projetos.

“O PPI [Programa de Parcerias de Investimentos, criado para viabilizar desestatizações] começou muito bem, em 2016. Depois deu uma travada, porque o governo teve outras prioridades. Agora, vinha havendo uma retomada, que novamente foi interrompida pela situação atual. Esperamos que na segunda metade deste ano os projetos possam voltar a avançar”, diz.

Apesar dos planos de expansão, o momento atual é de cautela e foco nos ativos em operação, avalia Spielmann. “A prioridade é defender nossas empresas. Não adianta ser ousado com novos investimentos e deixar sem capital nossas empresas investidas.”

A ideia, porém, é preparar essas companhias para que, em um segundo momento, possam usar de sua vantagem competitiva para aproveitar as oportunidades.

“Com a reabertura, o objetivo é que nossas empresas estejam mais capitalizadas, para que possa haver possibilidades de crescimento inorgânico. À medida que nossas empresas estejam comparativamente mais fortes e bem posicionadas, podemos estar mais na ofensiva”, diz.

Em meio a uma crescente pressão de investidores internacionais, que cobram do governo de Jair Bolsonaro medidas efetivas contra o avanço do desmatamento na Amazônia, a CPPIB afirma que, neste momento, não há discussões sobre reduzir investimentos no país devido à questão ambiental. Porém, Spielmann não descarta essa possibilidade.

“É um tema que preocupa. A política ambiental tem se relaxado e isso tem levado a desmatamento, os dados mostram de forma inequívoca. Então, isso tem que ser endereçado com clareza”, diz o executivo.

Spielmann também compartilha uma visão que vem sendo defendida pelo governo atual: de que a percepção fora do país sobre é tema é pior do que a realidade em si. “O Brasil tem também lados positivos em relação ao meio ambiente. Mas a política tem que ser claramente em favor de reduzir o desmatamento, e isso tem que ser comunicado de forma mais efetiva”, afirma.

Já em relação às recentes turbulências políticas, o executivo avalia que não são motivo de grande preocupação, embora atrapalhem. “O aumento da volatilidade política não ajuda, mas abrimos nosso escritório no Brasil em 2014. Estamos com a pele mais grossa, em função do que passamos. E, entre países emergentes, não tem mercado fácil. Vemos no Brasil uma institucionalidade, poderes independentes. Há outros países emergentes em que não tem isso”, diz.

Para além de infraestrutura, o fundo canadense também mira investimentos em diversos outros setores. “O mercado imobiliário também é um foco estratégico. E nossa equipe de private equity pode propor investimentos em qualquer setor, pode ser em saúde, educação, financeiro, varejo. Nosso foco é bastante diversificado. O que buscamos é, dentro de cada setor, qual será a empresa ganhadora, que vai se destacar quando a economia tiver uma retomada”, diz ele.

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