Obra pública segura emprego nas cidades

Os municípios mais dependentes de setores econômicos ligados ao consumo, como o comércio, ou que tiveram investimentos públicos e privados interrompidos foram os que mais sofreram com a perda de empregos formais neste ano. As cidades que tinham margem fiscal para retomar obras públicas e incentivar projetos inovadores como startups e qualificação profissional conseguiram contornar a situação em um momento de fraco crescimento econômico.

Levantamento feito pela Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, a pedido do Valor com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostra que o município do Rio de Janeiro liderou o ranking das dez cidades do país que mais perderam postos de trabalho com carteira assinada no país. Na sequência estão sete cidades nordestinas: Fortaleza, Rio Formoso (PE), Rio Largo (AL), Ipojuca (PE), Coruripe (AL), Teresina (PI) e Primavera (PE). O município de São Paulo liderou a lista dos que mais geraram emprego, seguido por Curitiba, Brasília, Belo Horizonte, Joinville (SC), Santa Cruz do Sul (RS), Dourados (MS), Franca (SP), Venâncio Aires (RS) e São Luís (MA).

No caso do Rio, o desempenho negativo está diretamente atrelado ao aumento das demissões no comércio. “O setor do comércio demitiu bastante. A expectativa é de melhora no fim do ano com as contratações de temporários”, afirmou o gerente da subsecretaria de Trabalho e Qualificação, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação, Tiago Romanelli. Segundo ele, não há recurso disponível para que o governo municipal impulsione o emprego por meio de retomada de obras públicas, como vem sendo feito em algumas cidades. No acumulado de janeiro a maio, foram fechados 12.122 vagas na cidade.

O levantamento também chama a atenção para o fato da maior parte das cidades que fecharam postos de trabalho estar localizada na região Nordeste. O município de Rio Largo, que ficou em quarto lugar (-4.161 postos), sofreu com a sazonalidade do setor sucroalcooleiro que dispensa trabalhadores no primeiro semestre e retoma as contratações no segundo.

A secretária de Planejamento, Orçamento e Captação de Recursos de Rio Largo, Edjanne Ferreira, explicou que, desde que assumiu o cargo, o desafio é resgatar a confiança e aumentar a competitividade da cidade, classificada como “dormitório” devido à proximidade da capital, Maceió.

De acordo com dados repassados pela secretária, apesar da baixa representatividade no valor adicionado do município, o setor sucroalcooleiro é determinante, historicamente, pela movimentação no mercado de trabalho, sendo responsável, em média, por 73% dos desligamentos dos vínculos de emprego entre janeiro e maio.

Mas, conforme Edjanne Ferreira, não há anormalidade nos saldos do Caged. “Entre junho e dezembro empregos perdidos serão retomados”, frisou. “Quando não tem emprego o povo vive de assistencialismo ou agricultura familiar”, disse. Para se tornar no futuro menos dependente do setor sucroalcooleiro, a secretária tem investido em inovação, desenvolvimento de economia criativa e qualificação do trabalhador. O retorno, no entanto, demora a aparecer nas estatísticas do Caged.

No caso de Ipojuca (PE), a cidade foi afetada pela interrupção das obras Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, o que provocou muitas demissões. Com a decisão da Petrobras de vender a empresa e a retomada das obras, o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Marcos Queiroz, acredita que os dados do emprego devem melhorar em breve. O município foi o quinto que mais perdeu postos de trabalho com carteira assinada (-3.334).

“Grandes empresas se estabeleceram, mas, quando a refinaria interrompeu as obras, muitos empregos foram perdidos. Com a retomada das obras e a privatização, a expectativa é que empregos sejam gerados. A primeira etapa das obras, que está sendo retomada agora, vai contratar 400 pessoas”, comemorou.

Já Nova Iguaçu (RJ) sofreu impacto negativo nos dados do Caged no ano, devido principalmente à decisão do grupo L’Oréal de transferir gradualmente as atividades de sua fábrica na cidade para São Paulo. Além disso, é atingida pela crise que o Estado do Rio enfrenta, por causa da redução dos investimentos da Petrobras.

“O setor industrial de Nova Iguaçu é formado por empresas da área de metalurgia, que atuavam principalmente para o setor de petróleo”, explicou a assessoria de imprensa do município. A prefeitura tenta reverter a situação estimulando investimentos na área de construção civil, por exemplo. Em parceria com o governo do Estado, a prefeitura entregou recentemente um viaduto novo de acesso à rodovia Presidente Dutra. Outros dois viadutos estão sendo construídos através dessa parceria.

Dentre as cidades que mais geraram emprego, Curitiba se destaca por estímulo a projetos empreendedores. O prefeito Rafael Greca (DEM) disse a estratégia para gerar novos empregos na cidade tem sido estimular startups. Por exemplo, foram criados dois espaços de coworking públicos, além de programas de qualificação. Já o secretário de Trabalho do Distrito Federal, João Pedro Ferraz dos Passos, disse que há sinalização de 2019 que será melhor que 2018. Na cidade, o emprego foi puxado principalmente pela retomada de obras pelo governo local.

No município de Franca (SP), a indústria calçadista apresentou recuperação de postos de trabalho neste primeiro semestre, o que gera uma expectativa de crescimento até o final do próximo ano. Para incentivar a criação de postos de trabalho, a prefeitura vem subsidiando a participação de micro e pequenas empresas em feiras e eventos, como Couromoda, Francal e Zero Grau. A assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento do município afirmou que “é um momento de acreditar e de saber se reinventar”. “Pensar em inovação, posicionamento de marca e qualidade dos produtos. Somos a capital do calçado masculino e exportamos para o mundo todo, por isso vejo de forma muito positiva essa recuperação do setor”, informou.

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